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O mestre Tempo

20140114omestretempo2021

Por diversas vezes sou confrontado, e até já dissertei um pouco sobre isso nas redes sociais, com clientes meus que estão em processos de mudança e de transformação das suas vidas e que querem ver essas mesmas alterações duma forma quase imediata. Criam expectativas e, como sempre, acabam a sentir uma enorme frustração quando não estão a atingir os objectivos (irrealistas) no tempo (irrealista) a que se propuseram. Digo sempre que a frustração, quase como numa equação matemática, é o equivalente distância entre aquilo que realmente se consegue atingir e a expectativa que criámos. Nestes casos, a distância é gigante, o que muitas vezes cria um grande entrave ao próprio processo que a pessoa está a fazer.

Quando nos propomos a desenvolver um processo duma forma realmente profunda, seja ele ultrapassar uma dificuldade, uma doença, um obstáculo ou um medo, ou até mesmo atingir um objectivo, vamos mexer em camadas muito densas de nós próprios, camadas essas que construímos ao longo da nossa vida. Todos conhecemos a velha analogia com a cebola, mas é assim mesmo. Na nossa vida vamos criando camadas e camadas, umas mais finas, outras mais grossas, mas sempre umas sobre as outras.

Por vezes, temos de mexer em qualquer coisa, os tais processos, e temos duas hipóteses: ou mexemos só nas camadas mais à vista, o que é muito equivalente a varrer o pó para debaixo do tapete, e que, mais cedo ou mais tarde, vai levar a que as questões voltem; ou então vamos querer ir ao fundo da questão, à verdadeira origem do problema, e isso obriga-nos a retirar camada a camada, começando nas mais superficiais, até chegar ao âmago da questão. A questão é que isso leva tempo!

Temos de compreender que na nossa vida nada chegou ao ponto que encontramos por puro acaso. Tudo foi construído, dia após dia, mês após mês, ano após ano, tantas vezes, vida após vida. Acredito também que tudo tem uma razão de ser e uma organização suprema e absoluta, mas o grande objectivo da vida é cumprirmos o nosso propósito, sermos felizes e evoluirmos enquanto seres e, por isso, quando nos confrontamos com essas questões, temos de explorar cada etapa do caminho que fizémos até ali e compreendê-la profundamente. Compreender significa aceitar que foi esse o caminho que nós escolhemos, sermos gratos por ele, pois foi ele quem nos construiu e nos permitiu ganhar ferramentas para evoluir, ainda que, aparentemente, não tenha sido o caminho correcto. Tal como chegar a um determinado ponto levou tempo, também é tempo que necessitamos para reverter, transformar e curar os processos.

Se a aceitação é o primeiro passo, certamente que a gratidão será o segundo, pois é através dela que vamos solidificar a compreensão do nosso processo e, aí sim, estaremos preparados para a sua desconstrução, para a cura, seja ela de que natureza for. Aceitação e gratidão são como duas chaves necessárias para abrir um grande Portal de Evolução, são uma espécie de base alquímica do nosso processo, pois são elas quem vão permitir diluir o que precisa de ser reconstruído, como se de um metal se tratasse. Quando estas duas peças residem em nós, profundamente no nosso coração, então compreendemos a magia da transformação que o Ser Humano possui em si mesmo e usamo-la conscientemente, tornando dor e mágoa em força, amor e vida.

É o tempo o maior segredo de todo este processo, pois é ele quem vai apurando e dando o toque certo a cada uma das etapas. É ele quem nos dá os sinais de que realmente estamos a progredir, é ele quem nos coloca as provas que nos mostram que estamos no caminho certo. Tirar camadas e revelar as verdadeiras razões dum bloqueio, duma doença, de um obstáculo, implica grande coragem e grande dedicação, implica uma entrega profunda a um processo de desenvolvimento pessoal e, principalmente, espiritual. Requer mexer em questões sérias, feridas que muitas vezes não estão tão cicatrizadas quanto achávamos. Se o processo for muito rápido, o mais provável é que, em muitas das suas facetas, estaremos mais uma vez a mascarar a situação com uma capa que esconde um interior igual ou ainda mais podre, e mais cedo ou mais tarde a cicatriz volta a abrir. Tudo tem o seu tempo, há que respeitá-lo e aceitá-lo.

Tantas vezes vi pessoas com muitas pressas, que achavam que o processo estava totalmente concluído, voltarem aos mesmos padrões numa velocidade estonteante e a bater com a cabeça novamente, simplesmente porque não se dedicaram a encontrarem-se a si mesmas. Temos de ter consciência, em cada processo que enfrentamos (e ao qual nos propomos, na verdade) que o tempo é o nosso maior aliado, mas também poderá ser, se assim o quisermos, o nosso maior inimigo. O tempo equilibra-nos; ele dá-nos a possibilidade de olhar cada etapa com a dedicação que ela realmente necessita e, apenas dessa forma, obter o resultado pretendido e sentirmo-nos preparados para o passo seguinte. Contudo, o Ser Humano de hoje, profundamente desajustado dos seus próprios ciclos (mas isso será tema para outro artigo), já não consegue com a mesma facilidade compreender esta realidade, querendo, tal como em tudo na sua vida, resoluções em regime de fast-food. Tal como nesses alimentos, somos saciados para o momento, mas não só não recebemos os nutrientes que precisamos, como rapidamente estamos com fome novamente.

Na verdade, nunca nos podemos esquecer que o grande Mestre que é o Tempo tem em si uma das maiores sabedorias, a da idade.

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