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O Despertar do Guerreiro

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Ao início do dia, pouco depois da meia noite e meia, hora de Lisboa (UT -1), Marte voltou, ao fim de mais de dois meses retrógrado, ao seu movimento directo. Nesta transição entre o movimento retrógrado e o directo, vivemos um tempo muito forte e intenso, como, aliás, os acontecimentos dos últimos dias nos têm revelado. Este tempo em que Marte desacelera no seu movimento retrógrado, até estacionar, para voltar depois, lentamente, à sua velocidade aparente “normal”, é como aquelas cenas dos filmes em câmera lenta, em que, embora o tempo esteja “esticado”, em que parece que poderíamos lá chegar e modificar alguma coisa, nada podemos fazer, pois o tempo é apenas uma ilusão, uma reflexão da dimensão em que vivemos, moldada para nos dar a sensação do suspense até ao desenrolar da acção. Neste tempo em que tudo parece em suspenso e onde o nosso controlo é nulo, tomamos a consciência de quem somos e de onde estamos, como o despertar depois de um sono, aquele momento em que ainda não estamos bem acordados, mas também já não estamos a dormir.

Marte é o arquétipo do Guerreiro, é a força motriz da nossa identidade, o primeiro planeta depois da Terra, no Sistema Solar, em direcção ao vasto Universo. É ele quem nos dirige ao desconhecido, que nos motiva à vitória perante os obstáculos, que nos encaminha com a Fé e a expansão de Júpiter à sabedoria e à mestria de Saturno. Sem Marte ficaríamos fechados no nosso mundo de percepções interiores, numa espécie duma concha, num profundo autismo, sem acção, sem motivação, sem vida. Contudo, Marte não é só a espada que trespassa e mata, ele é também a lâmina que desbasta, que corta e ceifa, que abre os caminhos e nos defende. Marte é o Guerreiro, e como qualquer grande guerreiro sabe, há um tempo para a guerra, para a batalha, para a conquista, mas tão importante como esse tempo, é também o do descanso, do recarregar baterias, de reflectir, pensar e sentir, de redefinir estratégias, de planear a próxima jornada, pois o verdadeiro guerreiro vive com a luta, vive da luta, vive para a luta. Luta, guerra, batalha, no caso da sabedoria divina que nos rege, não é a energia negativa, destruidora e nefasta que encontramos na Terra, que levou a que, na tradição astrológica, Marte fosse visto como um planeta maléfico, mas sim a força, a determinação e a manifestação da Luz perante as trevas, a limpeza e a transformação que constituem a evolução da energia do Universo.

Ao contrário de Ares, deus grego, sanguinário e destruidor, Marte, o deus romano, toma em si a arte da guerra, mas também o dom das colheitas, da Primavera, da agricultura, da fertilidade. Ele não é o guerreiro insensato e insaciável, que usa o medo como arma, que aterroriza e destrói. Pelo contrário, ele é o guerreiro da honra e da virtude, seus companheiros de batalha. A verdadeira guerra, a que tem como propósito levar a Luz a todos os pontos do Universo, não é um acto de violência e destruição, pelo contrário, é uma arte de dádiva e entrega, onde, claro, existe grandes obstáculos e batalhas, que necessitam da força e da determinação, da audácia e do pioneirismo, onde a coragem é a força motriz, onde o sangue, o fluxo de vida, aquece e se torna mais vermelho, a cor do próprio planeta. Contudo, nenhuma guerra se ganha com tropas esgotadas e desmotivadas, sem uma estratégia clara e bem definida, sem se conhecer o inimigo, sem nos libertarmos do que nos pesa e não nos faz falta. Para que o consigamos fazer, precisamos parar, descansar, estar em alerta apenas, mantermo-nos calmos e serenos, recuperar as energias, redefinir estratégias. É para isso que, astrologicamente, Marte tem, a cada dois anos, um período de retrogradação de dois meses e meio, tão importante quanto todos os outros meses em que está directo.

Marte acabou de sair do seu movimento retrógrado, é um facto, mas olhar agora para trás é importante e essencial para conseguir agora, em movimento directo, compreender para onde nos dirigimos. Há um tempo para a acção, para as batalhas da vida, para a guerra, mas há também um tempo para o descanso, para a reflexão, para limpar as feridas, curá-las, reparar as armas e deitar fora o que já não necessitamos. Há um tempo para celebrar e relaxar, ainda que os problemas continuem a existir, para respirar fundo e sentir a alma dentro de nós, que clama pela nossa atenção e dedicação. Tudo isso fazemos em Marte retrógrado, tudo isso nos foi pedido para fazer nas últimas semanas. No entanto, como Marte é impulso e força, este trabalho traz sempre um pouco de frustração, de intensidade, de impaciência, de atitudes irreflectidas e insensatas, algo que, se olharmos na nossa vida e no mundo que nos rodeia, vamos reconhecer nestes últimos tempos. Ainda para mais, Marte iniciou esse percurso no signo de Sagitário, imbuído de uma espécie de entusiasmo e força universal e magnânima, acreditando que tudo ainda era possível, esquecendo-se, tantas e tantas vezes, que, no signo da Fé, a oração é uma arma infalível, de meditação e diálogo com o mundo Superior, ainda que não o sintamos, como em Peixes, que até nem o possamos ouvir, mas onde nos colocamos em contacto com Ele. Então, as atitudes irreflectidas ou contrárias às necessárias amplificam-se, como o ventinho suave que passa sobre um pedaço de lixo malcheiroso e leva esse aroma por metros ao seu redor.

A pouco mais de meio do seu percurso em movimento retrógrado, Marte saiu de Sagitário e entrou nos seus domínios, em Escorpião, acelerando ainda mais, para os mais incautos, e até mesmo para os que tomaram atenção, as sensações de frustração e impaciência, levando a atitudes desnecessárias ou complexas que, sem dúvida, mais cedo ou mais tarde têm as suas consequências. O tempo é fluído e a retrogradação é apenas um movimento aparente, nada volta atrás e a seta lançada, assim como a palavra proferida, muito menos, lá diz o provérbio, e, por isso, quando entramos em Escorpião, entramos também nos domínios de Plutão, que por estes tempos transita por Capricórnio, fazendo o seu trabalho de destruição de estruturas apodrecidas e manietadas, chamando à responsabilidade quem por ela precisa de responder. As velhas ordens, não só as do mundo, como as nossas mesmas, vêem-se ameaçadas, muitas destruídas ou sob o efeito de uma pequenina, mas fulgurante, bomba. Veja-se a União Europeia e o Reino Unido, mais recentemente Istambul, mais visões do regime Chinês e do Norte Coreano, a escalada de Trump nos Estados Unidos, a situação brasileira, entre tantas outras situações pelo mundo fora. Mais importante, vejamo-nos nós mesmos, interiormente, no seio do nosso ser, que estruturas em nós se revelam apodrecidas, o que precisamos de limpar, destruir, reconstruir, que ilusões precisamos de afastar, que máscaras e capas precisamos de deitar abaixo.

Em Marte retrógrado temos a possibilidade de parar, depois das várias batalhas, e limpar as feridas, recuperar energias, repensar o nosso caminho. No entanto, quando, agora, Marte volta ao movimento directo, nomeadamente nestes primeiros dias, é tempo de rever as estratégias e colocá-las em prática, transformar as aprendizagens em sabedoria e, com a armadura limpa e brilhante, as armas reconstruídas, um plano sólido, voltar às batalhas da vida. Se não aproveitámos o tempo de Marte retrógrado, estaremos agora, de forma atabalhoada e sem sentido, a limpar as armas, sem preparação, sem estratégia e, rapidamente, nomeadamente quando, dentro de algumas semanas, no pico do Verão, quando estivermos a banhos, na praia e despreocupados, quando Marte e Saturno, já directo também, se alinharem nos céus, as responsabilidades pelas nossas escolhas e actos cairão sobre as nossas cabeças, não como um bálsamo, mas sim como grandes pedras. Não precisamos, contudo, de viver já em medo, pois os sinais chegarão, principalmente nos dias antes, assim bem ao estilo de Abraracourcix, o chefe da aldeia de Asterix, quando começarmos a pensar que os céus poderão cair em cima das nossas cabeças.

A boa notícia é que nada é definitivo nem um fado incontornável. Em cada momento há uma nova oportunidade de fazermos escolhas e de modificarmos os nossos caminhos, há a oportunidade de transformarmos a nossa vida, desde que saibamos honrar o nosso Eu e a nossa Essência, algo em que, no fundo, Marte também tem uma palavra a dizer. Escrevi, no início deste texto, que é Marte quem nos dirige dos nossos sentidos interiores, da nossa vida latente, para a expansão do Universo, que nos permite romper com a materialidade da Terra em busca de um novo sentido. Só com a energia de Marte conseguimos vencer a prova que Saturno nos coloca e dirigirmo-nos à transformação do nosso Eu. Ainda que não tenhamos parado tanto enquanto Marte esteve retrógrado, agora temos a derradeira oportunidade de redefinir estratégias, repensar caminhos e hipóteses, pois o guerreiro está a despertar e precisa de acção, está pronto para a batalha, mas precisa de um caminho e de um propósito, de um general que o conduza ou de um objectivo pessoal, associado à sua honra e valores, que o dirija. O despertar do Guerreiro é um momento intenso, sem dúvida, mas é o momento em que compreendemos a vida que nos habita, honramo-la e sentimo-la em nós, e, no fundo, esse é o grande propósito de Marte, lembrar-nos dessa vida que nos foi dada, que escolhemos, sem dúvida, mas que por vontade divina nos foi concedida, para que possamos libertarmo-nos de nós mesmos, das nossas amarras, das limitações que o caminho de evolução da nossa alma nos colocou e podermos, no fundo, resgatar o diamante que existe em cada um de nós, ainda que, para tal, tenhamos de, como o guerreiro, dar como prova a nossa própria vida.

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