Quando dou um curso ou um workshop de Tarot, a primeira coisa de que falamos prende-se exactamente com a resposta a esta questão que, na realidade, é a base de toda a sua aprendizagem. Pode parecer algo supérfluo ou descabido, mas como podemos aprender e compreender algo que nem sabemos realmente o que é?
Hoje em dia, com a quantidade de informação que existe, não é muito difícil encontrar algumas muito boas definições do que é o Tarot. Contudo, ainda existe muita informação confusa e estranha, não necessariamente errada (quem sou eu para dizer que a minha é a correcta?), mas é preciso esclarecer alguns pontos de divergência ou de falta de clareza.
O Tarot é, primeiro que tudo, e fisicamente falando, uma ferramenta, na medida em que é composta por uma base física, as cartas, que encerram em si mesmas um profundo sistema esotérico de símbolos e significados. Quando começamos a estudar e compreender o Tarot, rapidamente percebemos que ele funciona duma forma extremamente interessante, frequentemente sob um pressuposto matricial, o que significa que temos camadas em cima de camadas de informação, simbologia e conhecimento. Sempre que trabalhamos com matrizes, a complexidade e a densidade que se obtém é muito grande mas os resultados são magníficos e, por norma, fluídos, sendo essa uma das razões principais da extraordinária capacidade que o Tarot tem de trabalhar as questões que lhe são colocadas.
Ainda antes de aprofundarmos alguns conceitos, é importante perceber a sua forma. O Tarot é composto por 78 cartas que estão divididas em dois grupos. Por um lado temos os Arcanos Maiores, compostos por 22 cartas, numeradas normalmente em numeração românica (excepto o Louco, que é detentor do zero). Os Arcanos Maiores são representativos das grandes energias primordiais ou arquetípicas, usando um conceito do Jung, e formalizam um grande caminho, o Caminho do Louco ou, como também é chamado, o Caminho do Herói (sob o qual irei debruçar-me noutro artigo futuro). Por outro lado, temos os Arcanos Menores, 56 cartas divididas em 4 naipes – Paus, Copas, Espadas e Ouros -, cada naipe com 1 Ás, nove cartas numeradas (do 2 ao 10) e 4 cartas da Corte (Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem). Estas cartas são representativas de energias dos elementos, ou seja, elas vão trazer-nos questões concretas da nossa existência que têm relação com a energia de cada um dos naipes.
A palavra Tarot, curiosamente ou não, é adaptada de um método complementar de impressão que era utilizado nas suas primeiras versões – tarocchi – que também deu origem ao nome de diversos jogos lúdicos de cartas muito populares no século XVI. Contudo, o Universo é profundamente sábio e se pegarmos na palavra TAROT e “jogarmos” com as suas letras, podemos chegar à palavra ROTA, que significa caminho ou à palavra TORA, que representa os primeiros cinco livros do Tanack, o texto central do Judaísmo (e que são também os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Por sua vez, a palavra Arcano significa mistério, num sentido profundamente espiritual, algo muitas vezes não revelado de forma clara, mas sim compreendido, sentido e vivido, intrinsecamente ligado à fé. Desta forma, facilmente percebemos que o Tarot é um caminho, um caminho iniciático de mistérios e de fé, um caminho que nos leva ao mais profundo de nós.
É neste ponto que é imperativo fazer-se uma ressalva. Ao contrário do que muita gente faz por aí, ler, estudar e praticar Tarot não é de todo igual a cartomancia ou a oráculo, muito pelo contrário. O Tarot encerra em si mesmo um sistema muito profundo e denso de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal e espiritual que é preciso respeitar e compreender. Os oráculos, como o próprio nome indica, são por norma ferramentas cujas partes são mais ou menos independentes, embora, claro, possam interagir entre si, se assim o intérprete o entender ou souber fazê-lo, e que servem essencialmente como forma de obter conselhos e orientações. A cartomância, por sua vez, tem um cariz muito maior de previsão e todas as orientações que são dadas é neste pressuposto. A grande força do Tarot está em conseguir juntar tudo isto. A “previsão”, se assim lhe quisermos chamar, embora o mais correcto seja chamar-lhe tendência, une-se à orientação e aconselhamento, mas sempre sob um pressuposto de evolução e desenvolvimento pessoal e espiritual.
Por isso, numa consulta de Tarot, o que tantas vezes acontece é haver um encaixar de peças. O consulente traz uma questão e o Tarot permite aceder ao que está no inconsciente, trazendo as respostas através dos seus símbolos, sendo uma espécie de espelho que revela aquilo que é necessário ver. Ao intérprete cabe a tarefa de descodificar e auxiliar o consulente a resolver o puzzle, compreendendo origens e propósitos maiores para o que está a ser vivenciado.
O Tarot é das mais fascinantes ferramentas da ciência esotérica e, por isso, das mais amadas e consultadas. Costumo sempre dizer que aprender Tarot é relativamente fácil, o complexo é saber compreendê-lo e interpretá-lo, com tudo o que ele tem para nos dizer. O Tarot exige muita dedicação e estudo, mas, acima de tudo, muita prática. Certo é que, ao estudarmos Tarot, estamos sempre a estudar-nos a nós mesmos e a compreender um pouco mais de quem somos e do nosso percurso nesta vida.