Provavelmente é impressão minha, mas sempre que existe um eclipse solar (ainda que não seja visível da minha localização geográfica), nas horas seguintes ao seu pico, e caso ainda seja dia por estas bandas, fico com a sensação que a luz está diferente, às vezes mais densa, outras vezes mais suave, mas sempre muito mágica. Hoje não foi excepção! O eclipse do sol já foi há algumas horas, mas o seu efeito ainda se sente.
Quando a Lua tapa o Sol, no seu alinhamento com a Terra, é a energia do inconsciente que vai filtrar a consciência, obrigando-nos a reflectir e a sentir o seu tema principal. No signo de Touro, onde este eclipse ocorreu, o que está verdadeiramente em causa não são os bens ou os recursos, a tradicional ideia ligada a este signo, mas sim a expressão e reconhecimento profundos do nosso valor e a forma como emocionalmente sentimos o nosso poder pessoal. Onde o eclipse se localizar em trânsito no nosso mapa, nomeadamente na Casa (e no seu tema), é uma revelação do Eu, do valor individual e das emoções que daí advêm que precisamos de trabalhar, de reconhecer como uma força e um potencial em nós.
É essa a reflexão que nos é pedida neste momento, após todos os acontecimentos do mês, com o eclipse lunar do dia 15, a Cruz Cardinal que já está a aliviar a sua tensão (para compreender melhor este tema, veja o meu artigo neste link) e, agora, com este mesmo eclipse solar. Após todas as transformações que fomos sentindo e vivenciando, é agora, na lua nova em eclipse que vamos depositar a semente de um novo Eu. Se uma lua nova é uma sementeira, o eclipse é um adubo especial e, por isso, tudo o que for plantado aqui é reforçado e amplificado. Curiosamente, o facto deste eclipse ser anular e, por isso, fazer com que no seu pico mais alto fique, devido ao alinhamento entre o Sol e a Lua, apenas uma auréola, um anel, visível do sol, mostra-nos simbolicamente que este momento é uma aliança, um compromisso do Universo para connosco, se assim quisermos, de nos auxiliar nos nossos processos, se em sintonia com a nossa essência divina e com a nossa Luz estivermos.
Uma forma simples e que gosto muito de explicar este tipo de acontecimento é através da simbologia do Tarot. Sendo o eclipse uma união energética entre o Sol e a Lua, e em que, neste caso, é a Lua que se sobrepõe ao Sol, como já foi referido, temos uma ligação simbólica entre a carta XIX – O Sol e a carta II – A Papisa, representativos dos dois astros, sendo que é a Papisa que se sobrepõe à luminosidade do Sol.
A Papisa é o véu, a sabedoria interior, o silêncio e o inconsciente, enquanto o Sol é o consciente, o brilho, a energia e a força de vida. Quando a Papisa surge sobre o Sol, com o seu véu e com a sua sabedoria, filtra a energia da centelha divina do segundo, mostrando-nos que é um momento de vivência energética para o nosso interior, com o objectivo de iluminar todo o nosso Eu profundo, para que possamos ver e entender tudo o que lá está. É como se tivéssemos a possibilidade de iluminar uma sala escura que sabemos que existe e até temos ouvido lá uns ruídos, mas não o fizemos devido às nossas inseguranças e medos. Simplesmente, não sabíamos que havia um interruptor de luz.
Contudo, existe um terceiro elemento nesta equação. Esta união (o eclipse) forma-se sobre a energia da carta V – O Papa (simbolizando a energia de Touro), mostrando que existe um poder superior em tudo o que está a acontecer, algo que nos está a orientar. O Papa pede aceitação do processo, compreendendo que ele revela um desígnio maior para os tempos que cada um de nós está a viver. Aceitação não é resignação, não me canso de dizer, mas sim a entrega profunda ao nosso caminho, compreendendo que cada situação é uma vivência, uma aprendizagem, e que se nos mantivermos centrados poderemos tomar as decisões correctas em cada momento.
Ao unir-se a esta equação, o Papa vem-nos dizer que é o tempo de acender o interruptor do nosso Eu interior e ver, com os olhos da alma, o que precisamos de mexer em nós para compreender mais uma mensagem importante que o Universo tem em relação aos tempos que estão por vir. O Papa é a energia da orientação superior que podemos ou não aceitar e permitir entrar na nossa vida.
As três cartas são muito fortes e intensas, trazendo-nos uma união energética muito poderosa. No entanto, poderosa também é a energia que podemos obter daqui, pois se somarmos 19 (O Sol) com 2 (A Papisa) e 5 (O Papa), vamos obter 26, que reduzido (dado que não existe a carta 26 no Tarot), dá origem ao 8, a carta A Força, representativa da coragem e da fé no nosso propósito, símbolo do nosso Eu interior aguerrido pela vontade de ser maior que si mesmo! Unindo todos estes conceitos ao que anteriormente, em termos astrológicos, evidenciei, não será muito difícil de compreender o seu propósito.
Como muitas vezes digo, não sou, de todo, especialista em eclipses, mas algo me levou a escrever sobre este. Não tem muito de diferente em relação a outros, mas o que sinto é que ele pede algo importante. Não importa se sabe de astrologia ou de tarot, nem sequer importa se sabe em que casa do seu mapa o eclipse vai tocar. Olhe para si, calma e serenamente, medite se sentir necessidade, mas compreenda que área ou áreas da sua vida, neste instante, estão a ser pressionados e necessitam duma nova postura, duma nova forma de estar. Procure bem, pois sempre existe qualquer coisa, ainda que pareça subtil (que na verdade encerra coisas muito mais profundas), seja honesto consigo. Foque-se nisso e reflicta sobre o que atrás escrevi, veja o que em si ressoou. É isso mesmo que o Universo lhe está a pedir.
Olhando para o sol, lá fora, a sensação de que a sua luz e a sua energia estão diferentes ainda se mantém, o que me relembra uma muito interessante cena do filme Matrix, em que o Neo olha para uma criança de cabeça rapada e vestimentas semelhantes a um budista que dobra colheres com o pensamento. Ao sentar-se à sua frente, a criança dá-lhe a colher, já direita, levando Neo a olhar fixamente para a colher, ao que a criança lhe diz “Não tentes dobrar a colher. Isso é impossível. Em vez disso, tenta apenas compreender a Verdade… não existe colher… Nessa altura, vais ver que não é a colher que se dobra, és simplesmente tu.”