
Arriscaria dizer que maior parte da população mundial, nas várias áreas da sua vida, simplesmente ocupa espaço. Não, não quero dizer que deviam desaparecer, quero apenas dizer que em vez de vivermos, apenas ocupamos espaços. As pessoas não estão satisfeitas com os seus trabalhos, falam mal de toda a gente e mais alguma, mas mantêm-se nos mesmos locais. A relação não é grande coisa, mas, pronto, deixa-me lá ficar, ao menos não estou sozinho(a). A vidinha é assim, mas olha, é a que há, com 40 ou 50 anos já não vale a pena mudar (já ouvi coisas semelhantes de pessoas bem mais novas). Simplesmente, ocupamos espaço.
A questão é que a insatisfação vai crescendo e a energia que transportamos para o trabalho ou para a relação já não é minimamente construtiva, muito pelo contrário, é negativa e vai minar aquilo que temos em mãos. Este é o grande problema da nossa sociedade. Uma sociedade baseada no medo, insatisfeita, mas que vai aguentando o barco, por receio de qualquer coisa, simplesmente está, consecutivamente, a transmitir energia negativa.
Quando transmitimos energia negativa para um projecto, para uma empresa ou para uma relação, através de insatisfação que não é revelada, por medo do que pode acontecer, a nossa produtividade diminui e, consequentemente, os projectos falham. Aí, os patrões ou os cônjuges vêm com o discurso habitual que ainda mais nos deitam para baixo, mas aguentamos, porque temos medo que nos despeçam por dizermos o que pensamos e o que sentimos, porque temos receio que aquela pessoa nos largue. Cria-se um ciclo vicioso de medo, insatisfação e pura energia negativa, a energia que mais se desenvolve.
Acredito que se cada um de nós olhasse para a sua vida ia encontrar um conjunto de coisas onde simplesmente está a ocupar lugar e que, se se pusesse em causa e assumisse os seus verdadeiros sentimentos, permitir-se-ia modificar essa mesma energia, influenciando tudo à sua volta. Parece utópico, eu sei, mas é a mais pura das realidades. Se quiser perceber isto duma forma diferente, dou-lhe este exemplo. Imagine uma loja de electrodomésticos onde entra para comprar uma batedeira. Quando olha para a secção das batedeiras, vê caixas cinzentas com batedeiras de há 5, 10 e 20 anos. Vai comprar uma batedeira ali? Claro que não! Assim é nas nossas vidas, quando deixamos que coisas antigas, padrões antigos, se mantenham nas nossas vidas, não permitimos algo novo entrar e trazer-nos ar fresco.
Modificar o padrão de energia implica arriscar ser diferente, modificar os hábitos e renovar-se, deixar de ocupar um espaço, alimentando-se de uma energia que não é para si, e criar o seu próprio lugar no mundo, ser dono de si mesmo e do seu caminho. Não, não estou a dizer para se despedir ou para terminar aquela relação. Se gostar do que faz ou da pessoa, pelo menos permita-se ser honesto consigo e com as pessoas que o rodeiam e transmita o que sente. Se não o ouvirem, então tem de pensar que há qualquer coisa que tem de mudar. Se permitir que essa energia acumule, quando sair, sairá tudo de forma negativa e pesada, e é você quem irá ficar com o ónus da consequência. No fundo, quebrar o padrão de energia negativa é trazer amor, aceitação e entrega, compreendendo que, se estou num sítio ou numa relação onde não consigo trazer isto, então é porque isto não é para mim.
Parece difícil e utópico, como escrevi acima, mas, se olhar bem e sentir as palavras, vai compreender, através de si mesmo e da sua vida, presente e passada, que é esta a realidade das coisas.