Boa tarde!
Há algumas semanas falei aqui da ideia da metamorfose, associada à metáfora da lagarta e da borboleta. Hoje, retomo essa ideia para falar de um outro forte e tão importante momento, aquele em que, em tantos momentos na nossa caminhada, quando atingimos determinados patamares, somos obrigados a viver, o de rasgar o casulo e seguirmos em frente a mais uma etapa.
Cada processo de transformação é, na realidade, uma vivência de morte e renascimento, que tem como grande propósito não só crescermos, mas também evoluirmos. Morrer não é fácil, mas é necessário, pois é na morte que nos desprendemos, que nos desapegamos daquilo que já não nos pertence, do que não necessitamos mais para podermos crescer e evoluir. Como a lagarta, precisamos de abdicar de tudo o que somos em prol da nossa própria evolução. Tal não é simples, não é fácil, mas, sem dúvida, é essencial.
Muitas vezes, gostamos da ideia da transformação e até decidimos fazer algumas coisas para isso, mas quando compreendemos o compromisso e a entrega que tal nos exige, quando percebemos que é preciso viver a dor desse processo, morrer em quem somos, encarar a nossa sombra, o nosso lado mais negro e os nossos maiores medos, desistimos e mantemo-nos como estávamos, na ilusão de uma suposta modificação. Muitas outras vezes, em casos ainda piores, ficamos encurralados dentro dos processos que já iniciámos, pois desistimos, tão pura e simplesmente, de nós mesmos.
Nesses momentos, o chão debaixo dos pés parece ser-nos tirado e a sensação de não sabermos quem somos, não sabermos que caminho escolher, invade a nossa alma. O processo seguinte é previsível, é o da vítima, pois torna-se mais fácil projectar sobre os outros, a sociedade, o governo ou sobre a sorte e o acaso aquilo que, na realidade, é apenas fruto das nossas próprias escolhas. Contudo, esse processo apenas amplifica a vivência da prisão interior e a estagnação da nossa caminhada. É preciso ter a coragem de assumir um caminho e de viver essa abnegação profunda em prol de nós mesmos. Como o Dependurado, no Tarot, é preciso entregarmo-nos, por inteiro, por nossa livre vontade, ao processo que, no nosso coração, sabemos que nos levará à mais profunda e bela transformação.
Tão forte e difícil como viver essa transformação dentro do casulo, também o seu rasgar e o sair de dentro dele pode ser um processo muito complexo, pois ele é o reflexo duma escolha, da vivência de um caminho de ascensão que começa dentro de nós mesmos. Quando vivemos tal processo, há um velho Eu que é liberto para dar à Luz um novo Eu, mais próximo da nossa verdadeira essência, mais em sintonia com o nosso propósito de vida. Rasgar o casulo é também aceitar o nosso caminho, sair dele e voar é reconhecer a nossa centelha divina e largar os medos ligados ao Ego, é compreender que somos mais do que nós mesmos, que cada etapa neste percurso terreno é mais um degrau que subimos em direcção à união com o Todo, é mais um passo no retorno a Casa.
Boa semana!