Dentro de pouco mais de 24 horas entramos no terceiro e último período de Mercúrio Retrógrado deste ano. De quatro em quatro meses, mais ou menos, Mercúrio fica retrógrado por cerca de três semanas, num período que nos pede para, após um tempo de actividade, pararmos e reflectirmos, interiorizarmos, algumas aprendizagens. Este ano, pela terceira vez, Mercúrio fica retrógrado num signo de Ar, sendo que agora irá começar o seu percurso em Balança (depois de Aquário e Gémeos), voltando depois a Virgem, onde voltará ao ser movimento directo.
Este é sempre um momento, como referi, de interiorização, dum voltar para dentro muito necessário após meses de actividade contínua. Depois de tanto que temos vivido, agora é necessário olharmos para nós, de forma muito profunda, através do espelho que os outros são para nós e através de tudo o que estamos a ter nas nossas vidas.
Balança é o signo do equilíbrio, da justiça nos seus mais variados sentidos. É ele quem nos traz, após todo um percurso, e na preparação para a sua continuação, o retorno de tudo aquilo que demos, plantámos e alimentámos. No entanto, o que ele nos pede é que tenhamos a compreensão e a consciência do que criámos nas nossas vidas e que tudo o que plantamos, mais cedo ou mais tarde, colheremos. Ele é também o signo das relações, onde eu me vejo no espelho que o outro é para mim. Na Terra vivemos na dualidade, em busca dum equilíbrio, e Balança mostra-nos que tal só é possível quando reconhecemos as várias partes de nós mesmos, aquelas que reconhecemos em nós, mas também aquelas que todos à nossa volta trazem-nos como espelho que somos uns dos outros.
Mercúrio é o planeta da comunicação, do pensamento, do funcionamento da mente. Em Balança, ele preconiza a mente que nos liga ao outro, que conecta-se e compreende-se nesse espelho. Em movimento retrógrado, essa compreensão, essa percepção, passa a ser feita dentro de nós para que, no fundo do nosso ser, possamos entender o que a vida nos tem trazido e que, muito provavelmente, ele representa um equilíbrio, o simples colher do que foi plantado. Tal não é um castigo nem uma maldição, é tão-somente a mais básica e natural lei do Universo, e está sempre ao nosso alcance mudar esse rumo, desde que saibamos assumir a responsabilidade do que criámos nas nossas vidas.
Um momento de Mercúrio retrógrado é sempre complexo e profundo, de várias formas, e quando olhamos para o mapa do momento compreendemos a beleza do Universo em funcionamento. Mercúrio, em Balança, entra retrógrado às 19h09, hora de Lisboa, o que faz com que ele esteja localizado na Casa 7, a casa natural de Balança, dos relacionamentos e da nossa ligação com o outro. O mapa tem Ascendente Peixes, e é nesta definição de propósito que reside a grande energia deste momento, pois ele pede-nos que saibamos caminhar para uma ligação mais profunda com a energia do Todo. É preciso apaziguar a mente humana, complexa e rápida, habituada ao ritmo da vida terrena, e conectá-la com o saber divino, deixando o coração guiar-nos, mostrar-nos o caminho, permitindo a intuição surgir e trabalhá-la para que nos dê as respostas.
Com um Ascendente Peixes, dois regentes nos mostram a forma de fazer o caminho. Por um lado, Neptuno, em Peixes, ele também retrógrado, em conjunção com o Ascendente, pedindo-nos esse trabalho profundo nas nossas emoções, o assumir da responsabilidade para que o sacrifício que nos é imposto em tantas situações nas nossas vidas possa, realmente, valer a pena e possamos elevar a nossa consciência e transformarmo-nos. Por outro lado, Júpiter, em Virgem, signo do seu exílio, onde se sente muito restrito, na Casa 6, em perfeita oposição ao próprio Neptuno, lembrando-nos que, ainda que precisemos de trabalhar tudo isso, de nos conectar ao Todo e deixar esse lado intuitivo ganhar força e manifestar-se, tal só é possível quando trabalhamos em nós mesmos, quando nos focamos em expandir o nosso Eu e assumimos que tudo o que vivemos é o resultado de um trabalho feito antes.
Esta oposição é, no entanto, complexa e perniciosa, pois leva-nos a amplificarmos um certo sentimento de vitimização. Contudo, se nos focarmos em nós mesmos, não só vamos compreender tudo o que vivemos e somos, como também teremos a capacidade de aceder a essa consciência superior que nos revela totalmente o nosso Eu. Júpiter está em Virgem, signo regido por Mercúrio, que está em Balança, por sua vez regido por Vénus, que está em Leão, que por fim é regido pelo Sol, em Virgem, voltando a sequência energética a Mercúrio. Com esta energia de Vénus em Leão e com Sol em Virgem a alimentarem o arranque da retrogradação de Mercúrio, o segredo está no que referi inicialmente, a necessidade de olharmos para o que temos como reflexo de escolhas, de caminhos e de opções, assumindo a responsabilidade de tudo e, se acharmos que não é o que pretendemos, termos a capacidade de mudarmos esse rumo. Tal só é possível com a compreensão e a humildade que nos são trazidas por Virgem, assumidas por um Eu consciente da sua força criadora, como Vénus em Leão é capaz de manifestar.
Se dermos força à vítima, culpando o mundo à nossa volta, este período será apenas mais um de sofrimento e contratempos, os clássicos de um Mercúrio retrógrado, agora muito manifestados nas relações que temos com as várias pessoas da nossa vida. Tal pode ser altamente destruidor, dado que Mercúrio está em quadratura a Plutão e em oposição a Úrano, energias de grande poder que nos pedem que saibamos respeitar as leis do Universo se queremos revelar a nossa centelha divina. No entanto, se pararmos um pouco para nos vermos através do mundo que nos rodeia, permitirmo-nos limpar as questões que ainda nos prendem (não nos podemos esquecer que Saturno está nos últimos minutos do último grau de Escorpião a elevar energias mais densas e escondidas), e olharmos bem profundamente para os nossos sentimentos, para o nosso coração, tendo a coragem de rasgar padrões e hábitos e de assumir o nosso caminho, então conseguiremos ver tudo o que precisamos de encarar e percepcionar.
Todas as coisas mais “normais” de um Mercúrio retrógrado não deixarão de acontecer, aquelas a que já estamos mais do que habituados, mas a realidade é que o que está em causa neste momento é o que nos liga aos outros e, por isso, é preciso ter em muito profunda atenção o que sentimos em relação aos outros, que emoções e sentimentos alimentamos em relação a quem nos rodeia, o que eles despertam em nós. Não só é preciso ter em atenção, como também é preciso reconhecer, sem máscaras ou desculpas, pois apenas dessa forma podemos fazer o trabalho necessário, o de purificação, ou não estivesse a Lua em Escorpião, pedindo que saibamos trabalhar perdão, desapego e libertação, largando os pesos que tanto nos impedem de avançar.
Este é, acima de tudo, um momento de reflexão, que não nos impede de fazermos a nossa vida, nem nos devemos bloquear ou impedir de fazer seja o que for. Só precisamos de ter a consciência do que ele nos está a pedir, pois só assim saberemos olhar o mundo, o nosso mundo, com a beleza da criação divina que somos.