Estamos já a viver as últimas horas de 2015 e em pouco mais de dia e meio estaremos num novo ano. Costumamos dizer que um novo ano traz novas oportunidades, novas possibilidades, mas todos os anos chegamos ao seu final e, quando olhamos para trás, percebemos que muitas das resoluções e objectivos que definimos, entusiasmados e motivados por mais um fim de ciclo, ficaram esquecidos logo nos primeiros momentos do ano. Definimos esses objectivos, vislumbramos metas, criamos propósitos, mas tantas vezes esquecemo-nos de olhar para dentro de nós e avaliar se eles são realmente o que a nossa alma nos está a pedir, se fazem parte do caminho maior que cada um de nós traz a esta Terra.
Nestes últimos momentos de 2015, como em cada dia, seja de que ano for, é tempo de olharmos para o nosso coração e fazermos um balanço. Não se trata só de ver as coisas boas e as coisas más, mas sim de entender se nos sentimos bem connosco mesmos, se o nosso coração se sente pleno, apesar de todas as questões que ainda precisem de ser resolvidas e trabalhadas, de todas as pedras que pelo caminho vamos encontrando. É preciso agora entender o que em nós precisa de mudar para que toda a nossa vida possa estar mais em sintonia com o caminho que, bem fundo no nosso coração, sabemos que é o nosso.
Mudar algo em nós, nas nossas vidas, não é simplesmente assinar um decreto pessoal e, no dia seguinte, tudo está diferente. É, primeiro que tudo, olhar para dentro do nosso coração e aceitar quem somos, aceitar a nossa verdade, o nosso verdadeiro Eu. Quando tentamos fugir do que o nosso coração e a nossa alma nos pedem, criamos em nós um vazio, pois não estamos apenas a tentar escapar de um caminho, mas sim a recusar uma missão maior, um propósito de vida. Tal é como se, numa revolta interior, saíssemos da estrada que nos leva até um determinado local, tão simplesmente porque essa estrada é dura, difícil de caminhar, cheia de pedras e buracos, e entrássemos num caminho lisinho e simples que estava ali mesmo ao lado. O problema é que esse caminho torna-se denso e pesado, tão simplesmente porque ele leva-nos para outro sítio qualquer, diferente daquele que sabemos que é o nosso. Rapidamente vemo-nos não mais naquele caminho bonito, mas sim num caminho de frustração, de solidão interior e sofrimento.
Quando pretendemos mudar a nossa vida, fazer as tais resoluções e definir os tais objectivos, precisamos de compreender que a cada um de nós está reservado um caminho único e que ter saído desse mesmo caminho foi o resultado de um conjunto de atitudes e de posturas perante a vida. Muitas vezes, olhamos para o caminho de outros e, ainda que sem maldade, queremos fazer caminhos iguais. Outras vezes, temos medo do nosso próprio caminho, dos desafios que ele nos pede, e escolhemos vias mais fáceis. Em outras situações, também, não nos achamos capazes de fazer esse caminho e bloqueamos, ficamos parados, ou seguimos outros trilhos. Esquecemo-nos, em todos os casos, que para esta missão vamos com tudo o que precisamos. Os nossos sapatos estão preparados para andar aquela distância, as nossas roupas são as adequadas às condições climatéricas do caminho, a mochila que carregamos tem todos os mantimentos necessários para a viagem, ao mesmo tempo que o seu peso é o ideal, nem 1 grama a mais ou a menos. Tudo está perfeito para a nossa viagem, mas quando saímos do nosso caminho, tal pode, rapidamente, mostrar-se desajustado, e não pensemos sequer que podemos mudar tais condições.
Então, neste tempo que agora vivemos, sejamos capazes, acima de tudo, de parar um pouco e olhar à nossa volta, observando o nosso coração e compreendendo se o caminho que estamos a trilhar é o que está gravado no mapa que temos nas nossas mãos. Se o nosso coração é a bússola, o mapa é a nossa consciência sobre nós mesmos, e eles não vão mudar de configurações só porque nós assim pretendemos. Olhemos então para dentro de nós e compreendamos o que precisamos de fazer agora, neste preciso momento, para começar a mudar aquilo que sentimos que não está bem. Ainda que sintamos que estamos a fazer o nosso caminho, há sempre algo que precisamos de trabalhar, pequenos desvios ou desacelerações, pequenas paragens que fazemos por cansaço ou medo e que precisamos de colmatar, corrigir e reajustar. É preciso que nunca nos esqueçamos que dentro da nossa mochila há algo essencial para compreendermos estes momentos, a humildade de nos olharmos a nós mesmos e vermos o que precisamos de ver.
Compreendamos também que o que fazemos, por norma, nesta altura do ano, temos de fazer em cada momento das nossas vidas, observando os nossos pensamentos e propósitos, alimentando o nosso coração com a esperança de vermos aquela luz no final de mais um túnel escuro que o caminho nos trouxe, celebrando os momentos de alegria, mas sendo gratos pelos de dor, pois são eles que nos trazem as maiores aprendizagens e nos conferem mais resistência, assumindo a responsabilidade de cada passo, de cada decisão, de cada escolha, mesmo aquelas que parecem não ser verdadeiras escolhas, mas sim obras do acaso. Tudo o que somos, tudo o que temos, é apenas o resultado de escolhas, decisões e caminhos trilhados, não há acasos nem coincidências, há apenas sementes plantadas e frutos colhidos. Compreendamos, por fim, que sem a força da fé em nós, dificilmente podemos trilhar seja que percurso for. É a fé que nos sustenta, que nos segura nos momentos mais difíceis e que nos dá força nos momentos em que precisamos de ter uma energia extra para aquele degrau especial.
No novo ano que está prestes a começar, que possamos tornar cada dia num momento de reflexão, definição, mas também de concretização de objectivos, que possamos transformar cada obstáculo em crescimento e, com determinação, construir, em cada segundo, a mudança que queremos ver em nós mesmos, sem esperar mais tempo, sem protelar para outras alturas, sem pessimismo ou derrota, mas sim com a confiança que o caminho se faz em cada passo, e que cada passo tem de ser dado com a devida força e vontade. Apenas dessa forma, em cada momento, e não só no final de mais um ano ou de outro ciclo qualquer, podemos sentir dentro de nós o cumprimento de um propósito, a verdadeira construção da nossa vida.
Feliz 2016!