Acredito – mais do que acreditar, sei – que dentro de cada um de nós há um diamante em bruto, pronto a ser lapidado e revelado na sua profunda beleza, e que os tempos que vivemos pedem exactamente que sejamos capazes de fazer esse duro trabalho de limpar a nossa alma e o nosso coração e mostrar o ser único e especial que somos. Lá fora, na televisão, nos jornais, nas revistas, nas pessoas que conhecemos e com quem nos relacionamos, nas que passam por nós na rua, que vemos num instante e, possivelmente, nunca mais voltaremos a ver, há tanto medo, tanto pessimismo, tanta dor, revolta e mágoa, tanta prisão que é vivida, apenas porque a maior parte de nós não conhece a beleza da unicidade da sua alma, assumindo-se como apenas mais um, sem qualquer valor acrescentado, que vem aqui à Terra viver uns anos e fazer qualquer coisa que nem sabe muito bem o quê nem porquê, esquecendo-se duma das maiores e mais extraordinárias premissas de se ser humano.
Em cada um de nós reside uma Centelha Divina, uma parcela daquilo que podemos chamar de Deus, não o gajo das barbas brancas que gostamos de representar, que nos fizeram acreditar, mas sim esse Todo do qual cada um de nós é uma pequena, mas essencial, gota. O Mestre tinha em si esta Verdade e, por isso, nos transmitiu que o Pai estava nele e Ele no Pai e que, por isso, fez todas as obras que nos foram relatadas. Da mesma forma nos disse que, se tomássemos para nós essa mesma Verdade, o mesmo seríamos nós capazes de fazer, e até maiores obras. Cada um de nós traz em si uma missão única, um caminho único, capacidades únicas e especiais, um singular toque que, se crermos e trabalharmos em nós mesmos, tudo pode transformar.
A questão reside, precisamente, em sermos capazes de mergulhar num trabalho profundo dentro de nós mesmos, resgatar as sombras, amá-las como uma parte essencial de cada um de nós, e com esse mesmo amor transformá-las, uma a uma, em verdadeira Luz, até que o percurso na Terra, a missão, esteja cumprida. Habituámo-nos a esconder-nos de nós mesmos, a fechar as nossas sombras num espaço reservado dentro do nosso ser e a fazer tudo para que nos esquecêssemos da sua existência. Durante séculos, transportámos para o funcionamento da nossa sociedade essa mesma condição, apoiada pelo Ego, instinto de sobrevivência primordial aqui na Terra, uma ferramenta criada para suportar o espírito no corpo, ferramenta que precisamos de aprender a usar, a dominar, a trabalhar. Durante séculos, transformámos o Eu num ego dominado, onde uns se elevaram, suportados por ganância, inveja, necessidade de poder e soberba, e outros foram dominados através das crenças, dos conceitos, da estruturação da individualidade.
Hoje, nos dias que vivemos, chegámos a um ponto em que, por necessidade de ascensão da própria energia da Terra, não podemos mais continuar a viver nas malhas do Ego, não podemos permitir ser dominados e aprisionados por medo, por revolta, por raiva e mágoa, pois isso significa apagar essa centelha que nos torna únicos, significa não revelarmos a nossa essência mais profunda e cumprir o caminho que nos predispusemos, noutra dimensão, noutro tempo, a vir cá trilhar. Não nos esqueçamos, porém, que revelar essas mesmas capacidades, essa faísca, é um trabalho constante, contínuo, de recordação dessa Verdade, de limparmos o nosso coração de tudo o que nele foi carregado de negativo, de transformarmos a nossa mente para a sua verdadeira função, a de co-criadora da nossa realidade.
O trabalho não é simples. Pelo contrário, é muito duro, pois implica quebrarmos padrões, conhecermo-nos tão bem que cada passo que damos estará em sintonia com um mapa já delineado, um mapa que nos orienta para a descoberta do nosso tesouro, a nossa unicidade, as capacidades e dons que nos encaminham para a compleição, para o reconhecimento duma das mais simples e concretas realidades, a da magia da vida. Recordemo-nos que o diamante é o resultado de uma das mais agressivas e violentas transformações, que pelo poder do fogo, da temperatura elevadíssima que provém do centro da Terra, transforma os elementos terrestres numa composição única e perfeita, fazendo com que, como um floco de neve, nenhum seja igual a outro. Da mesma forma, nenhum de nós é igual ao seu irmão, embora sejamos todos feitos das mesmas matérias.
Assim, é fácil de entender que não faz qualquer sentido olharmos para o nosso semelhante pelas lentes da comparação, que nos direccionam à inveja, que nos levam às mágoas, aos abandonos e às revoltas. Se alguém quiser fazer o caminho do seu irmão, então também os seus sapatos tem de calçar, a sua mala tem de carregar, as suas dores tem de suportar. Porém, se cada um reconhecer a Centelha Divina que há em si, ao mesmo tempo que dá os seus passos, que carrega o seu peso, que suporta a sua cruz, estende a mão ao seu irmão e ajuda-o a avançar. Hoje um irmão nosso, amanhã nós e, lado a lado, cada um segue o seu mapa e encontra a mais bela riqueza que poderá achar, a do espírito, libertando-se de todas as amarras, de todas as prisões. Mais uma vez, este não é um trabalho fácil nem rápido, é um trabalho de cada dia, é uma descoberta constante, uma entrega total e absoluta a nós mesmos.