O mundo em que vivemos habituou-se aos resultados rápidos, às fórmulas instantâneas, às comidas já feitas, que só faltam ser mastigadas. Fomos incutidos, ao longo do tempo, com a necessidade da rapidez, da celeridade, do ter tudo já, agora, ontem, nas nossas mãos, no nosso colo, mesmo que para isso tenhamos de pagar mais. Nesse ímpeto de rapidez, de imediatismo, subvertemos o ciclo natural de tudo o que nos rodeia, assim como o nosso próprio ciclo, esquecemo-nos que tudo tem um tempo certo para nascer, crescer, dar flores, frutos, assim como também tem um tempo certo para morrer e se transformar.
Esquecemo-nos que uma casa se constrói pelos alicerces, depois tijolo a tijolo, erguendo paredes, criando a estrutura, depois colocando o telhado e, apenas no final, dando os acabamentos e retoques. Esquecemo-nos, acima de tudo, que é preciso pensar, procurar as respostas dentro de nós, subir as escadas e valorizar cada passo que damos num caminho que pode ser sinuoso, mas que nos fortalece, nos ensina, nos mostra a beleza de uma escolha. Digo muitas vezes aos meus alunos que não lhes ensino em formato Cookbook (Livro de Receitas), que é preciso compreender, pensar e juntar peças. Nesse aspecto, respeito em pleno aquilo que o Universo sempre me ensinou, pois também ele não nos dá nem cookbooks nem livros de instruções, dá-nos a cana, ensina-nos a pescar, o resto está por nossa conta.
Tudo nas nossas vidas surge com um propósito, seja um obstáculo ou uma bênção, no tempo certo e na hora exacta, como mais uma peça que nos vem trazer uma informação preciosa para o próximo passo a dar nas nossas vidas. Cada um de nós, enquanto alma, antes da encarnação terrena, define o propósito de evolução que o trará até este planeta, escolhe a plataforma de base, na qual se inclui pais, irmãos e ambiente, faz contratos com guias, não só espirituais, mas com outras almas que encarnaram ou encarnarão e que se cruzarão nos seus caminhos, levando-lhes peças subtis e essenciais para esse enorme puzzle que é o caminho do seu próprio desenvolvimento e cumprimento da missão. O resto, em cada momento, é uma escolha de cada um de nós.
Então, uma das principais aprendizagens que precisamos de fazer é a de sermos gratos por tudo o que a vida nos traz, pois é a gratidão que nos conduz à aceitação do nosso caminho e à compreensão e consciência de cada escolha que nos é colocada. A gratidão é a mais bela manifestação do que se poderá chamar de viver no agora, pois ela é o reconhecimento de que nada é perpétuo, e muito menos garantido, que tudo está em perfeito equilíbrio. Quando queremos tudo rapidamente, quando não percebemos que tudo tem o seu ritmo e o seu tempo certos, não temos a capacidade de expressar a verdadeira gratidão, aquela que nasce dentro do nosso coração, aquela que não julga o que uma situação trouxe às nossas vidas, simplesmente compreende que há uma razão maior e que é necessário vivê-la e retirar dela a aprendizagem, fazer uma escolha, encará-la e, com ela, crescer.
Se queremos entender verdadeiramente o porquê de algo nas nossas vidas, precisamos primeiro de aceitar e sermos gratos pela vivência que nos é dada, pela aprendizagem que nos é oferecida, e, na verdade, perceber que tudo é uma vivência, tudo é uma aprendizagem. O simples acordar, o simples abrir os olhos e ver, o ter um tecto, o ter comida na mesa, o ter mãos para trabalhar e pés para andar, tudo é digno de gratidão e, na verdade, sem antes de tudo o mais, soubermos agradecer estas, que parecem pequenas coisas, jamais saberemos ser gratos por todas as outras, nomeadamente aquelas grandes bênçãos que a vida nos traz.
Muitas vezes me dizem que é difícil agradecer as coisas difíceis que vivemos, os obstáculos que nos são colocados. Como é possível ser grato por algo tão mau, questionam-me. Contudo, é preciso compreender que são, acima de tudo, essas coisas que, normalmente, são as mais duras, as mais desafiadoras, as mais difíceis, as perdas, as dores, as traições, os murros no estômago e as punhaladas nas costas, os tapetes que nos são tirados de debaixo dos pés, que mais nos ensinam, que mais pecinhas de informação têm, que mais força nos dão para poder subir mais um degrau na nossa escadaria. No entanto, para sabermos verdadeiramente dar-lhes valor, temos antes de conseguir, de coração, mostrar e sentir gratidão pelas mais pequeninas coisas, pois o Universo, como cada um de nós, é composto por ínfimas parcelas de energia e sabe que cada uma delas é essencial e que sem a mais pequena aquele todo não seria igual, não funcionaria da mesma forma, não seria o que tem de ser.
Quando conseguimos perceber esta tão simples verdade, aquelas grandes e difíceis situações, aquelas que julgamos logo como sendo negativas, verdadeiramente más, transformam-se à frente dos nossos olhos, mostrando a sua verdadeira dimensão, tão simplesmente porque somos capazes, pela energia da gratidão, vê-las no seu real propósito. Ontem bati os olhos numa pequenina história deixada pelo nosso amado irmão Chico Xavier, que nos contava como, certa vez, perante uma queda, quando já se preparava para reclamar, o seu guia, Emmanuel, ordenou Chico a agradecer. Acatando a ordem, agradeceu e levantou-se, permitindo que Emmanuel lhe explicasse que, se ele reclamasse, estaria a vibrar na mesma energia dos seres que o tinham feito cair, mas que, ao agradecer, de coração, eles tinham perdido a sua força contra ele. Da mesma forma, quando somos gratos por essas coisas que julgamos más, que nos deitam abaixo, retiramos-lhes as capas e vemo-las como são, trazemos Luz às sombras, elevamos a nossa vibração e entramos em verdadeira comunhão com a nossa essência, pois a maldade, a dificuldade e o obstáculo podem ser reais, podem vir contra nós, mas só se manifesta quando lhe damos condições para tal. Isso é, também, viver em Amor.