Hoje, no momento em que este artigo vê a luz, estamos a viver o Eclipse Solar Anular, um evento que, embora regular, é de uma importância energética muito elevada. Este eclipse tem o ponto central às 10:03, hora de Lisboa, e uma duração de pouco mais de 3 minutos, dando-se no signo de Virgem, mais propriamente aos 9º21’. Aspectos mais técnicos à parte, no mundo em que vivemos hoje, num ano tão desafiador como o que este tem sido, estamos perante, acredito, um momento de suprema importância e de consciência, dum enorme compromisso que precisamos de firmar.
Um eclipse solar é uma Lua Nova especial, onde Lua e Sol se alinham no mesmo ponto do nosso sistema, mas que se torna um fenómeno pela interacção dos dois corpos, pois a Lua se coloca entre o Sol e a Terra, criando o efeito de ficar, aos nossos olhos, praticamente do mesmo tamanho do nosso astro-rei. Esse momento é um alinhamento fantástico que, como todos os alinhamentos, tem uma importância energética, neste caso reforçada por ter como intervenientes os três pontos principais da nossa existência – Terra, Sol e Lua. Neste caso específico, a Lua não fica bem do tamanho do Sol, apenas ligeiramente menor, permitindo ver um anel de luz solar, um efeito de uma beleza extraordinária que, infelizmente, não poderá ser visto do nosso território.
Nada no Universo é-o por um acaso e o facto deste eclipse solar anular surgir nesta altura também não o será certamente. Um anel é um símbolo de compromisso, de aliança, de união, algo que tem faltado neste planeta em impressionante tumulto, algo que tem faltado dentro de cada um de nós. Ao dar-se no signo de Virgem, signo da colheita, do trabalho, da dedicação, do serviço, da organização, da dádiva e da humildade, traz-nos estes valores para alimentarmos, de forma extra, as sementes que, neste novo ciclo, plantarmos nos nossos corações. Contudo, como em qualquer situação, o nosso livre-arbítrio permite-nos também não escolher esse alimento e carregarmos em nós o aspecto mais pesado e negro de Virgem, o da picuinhice, da arrogância, da mesquinhez, da anulação, da avareza, da crítica e da destruição. A escolha é sempre de cada um de nós; a energia, essa, é una.
A imagem da sementeira foi-nos transmitida pelos grandes Mestres (e é repetida até à exaustão por tantos de nós), pois eles sabiam que tudo em nós reflecte a nossa Mãe Terra, símbolo tão ligado à energia de Virgem. A semente é o início, é a pequena parcela que contém em si o gérmen duma vida, pois é nela que está contida a codificação de uma existência. Uma semente dura anos, vidas, intacta, esperando o plantio e a rega. À nossa volta há uma infinidade de sementes disponíveis, mas cabe a cada um de nós querer colocá-las no seu coração para as fazer crescer. Tomando essa decisão, de seguida vem o momento de alimentar, de cuidar e de, pacientemente, esperar o seu crescimento até que a planta dê as folhas, depois, mais tarde, as flores e, por fim, os frutos que darão alimento e novas sementes.
No entanto, a consciência humana transformou-se e esqueceu-se desta simples realidade, querendo acelerar tudo, colocando de parte a simplicidade da perfeição da Terra, elevando-se numa ganância sem fim, numa necessidade insaciável de poder. O Ser Humano esqueceu-se da sua natureza divina, da sua Centelha, assim como da primeira mãe que tem, o Espírito da Terra. Então, todas as transformações que temos vindo a viver têm, como grande propósito, recordar-nos dessa base do nosso ser, de forma a que consigamos voltar a respeitar quem tudo nos deu, fazendo bom uso dessa dádiva. Por isso, e por algumas outras questões que já irei enunciar, este eclipse se torna tão importante para toda a Humanidade.
Uma das características mais fortes e determinantes deste eclipse é ele dar-se ao mesmo tempo, e em perfeito alinhamento, com a quadratura entre Saturno, em Sagitário, e Neptuno em Peixes, precisamente na altura em que esta quadratura se dá, novamente, ao grau. Sendo Virgem o signo complementar de Peixes, o eclipse une-se a esta quadratura amplificando-o naquilo que chamamos um T-Square, ou Quadratura-T, um triângulo de energias muito desafiadoras, formado por três ou mais planetas.
Se a quadratura entre Saturno e Neptuno tem-nos tornado a vida complexa, levando-nos a um desgaste profundo das nossas crenças, desviando-nos de caminhos que, na verdade, apenas insistimos que sejam nossos, mas que nunca os nossos pés foram criados para lá pisar, pondo-nos perante as provas mais profundas, obrigando-nos a mergulhar no nosso oceano denso, naquele seu lado mais escuro, apenas com uma espécie de escafandro, quando este eclipse a ele se alia, há algo de novo que entra nesta equação e alimenta este trabalho. Na verdade, a quadratura entre Saturno e Neptuno pede-nos que sejamos capazes de encarar as nossas crenças, as nossas convicções, que saibamos perceber se elas são realmente nossas ou se nos foram colocadas, se elas verdadeiramente nos levam para o nosso caminho ou se nos continuam a desviar de quem somos.
Sagitário, onde está Saturno, e Peixes, onde está Neptuno, são dois signos que nos falam do mesmo tópico, mas que nos dão duas perspectivas diferentes. Se Sagitário é a Fé, Peixes é a Espiritualidade. Se Sagitário é a expansão e a abertura dos horizontes exteriores, Peixes é o mergulhar no nosso oceano interior, na busca pelo Universo que existe dentro de cada um de nós. Embora tenham duas direcções diferentes, a verdade é que nos é pedido que saibamos fazer ambos ao mesmo tempo. Parece uma divisão ainda maior num mundo já regido pela dualidade, mas, na verdade, é o inverso, pois só posso crescer para o exterior se levar esse conhecimento para o interior, fazendo-o expandir também, levando depois, de volta, essa vivência para o exterior, continuando num ciclo constante e perfeito, simbolizado pela lemniscata, o símbolo do infinito.
Onde entra o eclipse nesta história? Em Virgem, signo complementar de Peixes, fazendo, como referi acima, alinhamento perfeito com as energias de Saturno e Neptuno, Sol (a nossa Consciência), Lua (o nosso lado interior, inconsciente e profundo) e Nodo Norte (o símbolo do nosso caminho de evolução), vêm trazer à equação uma nova variável, com a diferença que, por ser um eclipse, esta variável não vai apenas actuar nestas horas, mas sim por semanas a fio. Tudo aquilo que Saturno e Neptuno têm trabalhado, toda a confusão, nevoeiro e densidade que eles têm colocado sobre nós para que possamos trabalhar, vai ser agora iluminado pelo anel de fogo da integração do nosso Eu profundo, permitindo que todas as máscaras, se assim quisermos, possam cair, possam quebrar-se, revelando a verdadeira face de quem somos e do que cada situação nos traz.
Recordemo-nos que as máscaras só podem cair quando tomamos consciência e vontade para que isso se torne realidade, quando escolhemos não viver mais na sombra, no nevoeiro, na escuridão que, embora mais fácil, vai carregando-nos de sofrimento e destruição. A vida no planeta Terra é a face mais visível do que descrevo acima, mas cabe a cada um de nós colocar-se com os pés neste planeta e compreender que, se a Terra está assim, não foi por acção exterior, mas sim porque em cada um de nós, do menos iluminado ao mais próximo dos deuses, essa vivência ainda existe. Este é o grande papel deste eclipse em Virgem nas nossas vidas, o de fazer o que esta energia faz de melhor, colher, separar o que está bom do que não está, preparar o que está bom, organizar e armazenar para os tempos que hão de vir. Da mesma forma, o que não está bom para servir de alimento para nós, poder transformar e utilizar para outros fins, para outros propósitos, relembrando que tudo na natureza se transforma, tudo tem um sentido, uma direcção, que embora possa não servir para nós, serve, certamente, para outros.
Se quisermos aproveitar a energia deste momento, deste eclipse, é esta a compreensão que temos de ter, a de olharmos para nós e, no nosso caso em concreto, Portugal, perceber também, até mesmo no seguimento do que temos vivido nestes últimos meses, quem verdadeiramente somos, quais as nossas capacidades, qual o nosso sentido de serviço para com este mundo, e resgatarmos a nossa verdadeira essência, as nossas capacidades, os nossos dons, deixarmos as máscaras caírem e mostrarmo-nos de forma cristalina. Em termos individuais, também, é tempo de criarmos uma aliança, não só connosco, mas com aqueles que fazem parte do nosso caminho, olharmos com o coração para todos aqueles que são parte da nossa vida, e curar essas relações no que for necessário, libertarmo-nos delas, se assim tiver de ser, permitir que se esvaziem em nós para que possamos preencher-nos com o que realmente é para nos fazer crescer.
O anel de fogo que este eclipse nos traz é um pedido de compromisso e aliança, primeiro que tudo, entre o nosso Eu terreno e o nosso Eu Superior, de forma a que consigamos colocar ao serviço da humanidade o mais belo que existe em nós, a nossa verdadeira essência, a nossa Centelha Divina, a fagulha do Criador que nós somos, criados matéria neste espírito que é a Terra, para podermos evoluir e retornar à Casa do Pai mais plenos de nós mesmos.