Saturno é o Tempo, e o Tempo é o soberano Mestre desta nossa existência na Terra. É ele quem nos rege, quem nos orienta, quem nos define, em cada instante, na plenitude de quem somos e de quem nos propusemos vir a ser. O Tempo é o verdadeiro modelador de cada um de nós no percurso que fazemos aqui na Terra, no propósito de vida que abraçamos aqui neste planeta, e isso está intimamente ligado, na dimensão da linguagem astrológica, ao poderoso, crucial e supremo trabalho de Saturno no nosso mapa e na sua influência sobre o mundo que nos rodeia.
Por isso se torna tão importante, neste momento, falar um pouco sobre o trabalho deste planeta, até porque, muito próximo do final de Dezembro de 2017, Saturno protagonizou um dos mais importantes acontecimentos astrológicos destes anos, com o seu ingresso no signo de Capricórnio, signo do seu domicílio, onde se sente em casa e onde estará até 2020. Este retorno de um dos mais importantes e desafiadores planetas do nosso sistema energético, espiritual e evolutivo, pelo seu signo de domicílio, após quase 29 anos, é o abraçar duma aprendizagem profunda, agora com nova consciência, com um mundo, e cada um de nós, bem diferente.
Entender este momento e o que ele nos reserva nos próximos anos é essencial para que consigamos, num tempo tão desafiador, único e especial, ao mesmo tempo com tanto potencial disponível, crescer, evoluir, extrair a grande lição que o percurso aqui na Terra nos tem proposto. Dessa forma, conseguiremos, cada um de nós, subir essa grande escadaria a que nos propusemos, enquanto Espíritos, numa missão terrena e, também assim, mudar um pouco o mundo que nos rodeia.
Na verdade, uma das grandes compreensões que Saturno nos irá trazer é também a da responsabilidade que temos perante o mundo “lá fora”, depois de tantos anos em que, efectivamente, nos desresponsabilizámos, onde se tornou mais fácil culpar o outro, apontar dedos, apontar baterias aos governos, às instituições, aos que nos rodeiam, mas sempre nos imiscuindo do nosso papel na dinâmica e na construção da nossa vida, seja pessoal, seja em sociedade. Para isso, muito contribuíram também os meios desenvolvidos nestas últimas três décadas, como este mesmo em que “nos encontramos”, a Internet, onde é fácil nos escondermos, onde muitos radicalismos, boatos e mentiras crescem e onde um, cada dia maior, desligamento de nós mesmos se tornou vivência. Nos próximos anos, muitas destas questões serão colocadas em cheque, em cima da mesa, e não teremos muita forma de fugir delas.
Viver, compreender e falar de Saturno é, talvez, uma das mais desafiadoras tarefas para qualquer um de nós. Contudo, para compreender o seu trabalho nestes próximos anos, é preciso entender quem ele é, a sua importância e o seu poder.
O romano Saturno é, na mitologia grega, Cronos, o mais novo dos titãs, filho de Úrano, o Céu, e de Gaia, a Terra. Ele tornou-se rei ao derrotar e castrar o pai com a sua foice, assumindo o seu papel soberano como deus do Tempo, o supremo mestre, aquele que tudo rege. Ficou também conhecido por, graças a uma profecia, devorar os filhos, entre os quais estavam Hades (Plutão) e Posídon (Neptuno). Zeus (Júpiter), também seu filho, foi poupado, não por vontade de Cronos, mas sim porque a sua mãe o trocou por uma pedra. Este filho cresceu e foi ele quem destronou o pai e o enviou para o exílio.
Na mitologia romana, Saturno foi o responsável, durante o seu reinado, pelo período de maior riqueza e prosperidade que se tinha visto, uma verdadeira Idade de Ouro. O seu exílio, no Lácio, foi um dos períodos de maior riqueza e prosperidade dessa terra, onde, segundo a lenda, fundou Roma.
A foice, tão conhecida de outras figuras mais actuais, como a idealização da Morte, é o símbolo do poder de Saturno, o poder do Tempo, que todos ceifa, sem dó nem piedade, que limpa o terreno para que nova vida possa lá florescer, no tempo certo. Por isso, Saturno era também um deus ligado à fertilidade, à vida, às colheitas, e a ele eram consagradas as Saturnálias, festas de grande opulência. Entre os seus símbolos estava a serpente, representante da morte e da vida, algo sobre o qual apenas o Tempo tem poder. Por isso também, na astrologia, rege Capricórnio, o signo do início do Inverno, da sua dureza e da conquista das adversidades.
Saturno é assim, um grande mestre no nosso mapa, o último planeta visível a olho nu da Terra e, como tal, o representante dos limites que a matéria nos coloca, de como o tempo nos ensina a sermos nós mesmos e a desbloquearmos e a ultrapassarmos as nossas próprias barreiras. Ele pede-nos respeito por nós mesmos, responsabilidade e foco, pede-nos ordem, rigor, atenção e determinação, ele impõe-nos as suas regras e não nos deixa, como um professor rígido, fugir um milímetro sem algum tipo de ensinamento suplementar. Saturno recorda-nos que a maturidade é um trabalho de aprendizagem contínuo, que o tempo tudo muda e tudo transforma, desde que o saibamos ver e integrar nas nossas vidas.
Na Terra, a Alma necessita do Corpo, pois ele é o veículo perfeito para o cumprimento do trabalho de cada encarnação. Saturno recorda-nos que não podemos libertar a alma, fazê-la cumprir o seu propósito de evolução na Terra, sem compreendermos que a matéria tem o seu tempo certo, uma estrutura e os seus desafios próprios. Por isso, sempre que necessitamos de evoluir, de crescer, de alcançar uma meta mais longe, precisamos de trabalhar Saturno e lidar com o que ele nos apresenta, o medo, a dúvida, a limitação, a zona de conforto, transformando tudo isso através da mestria do tempo, do domínio de nós mesmos e da transposição da nossa Centelha Divina, através da nossa Alma, para a concretização e para a materialização de algo no plano terreno.
É impossível fugirmos a Saturno e ao seu profundo trabalho em nós, pois, na Terra, apenas conseguimos crescer e alcançar o pico da nossa montanha pessoal através dele. Por isso, ele é regente de Capricórnio, um dos signos que mais está a ser trabalhado nestes últimos anos e que, com a entrada de Saturno nele, maior trabalho, ainda, certamente irá ter.
Uma excelente forma de compreender Saturno é entendendo o seu ciclo. Saturno leva cerca de 28 anos e meio a dar a volta ao Zodíaco, o que significa que passa cerca de dois anos e meio em cada signo. Se tivermos em conta estes números, entendemos que aquela ideia muito vigente dos ciclos de 7 anos está profundamente associada ao ciclo de Saturno, que, mais ou menos de 7 em 7 anos, convida-nos a trabalhar questões e a mexer questões ligadas ao nosso propósito de vida. O número 7 é um número mágico e místico, que associa a matéria ao espírito, que pede que consigamos integrar ambos no sentido do crescimento e de vencermos no nosso percurso.
Quando Saturno volta a Capricórnio, é como se voltasse a sua casa, nomeadamente a uma sala cheia de clepsidras e ampulhetas que contam o tempo, os segundos de cada caminho, de cada vida, de cada um de nós. Nesse momento, em casa, ele dá-nos a capacidade de nos reajustarmos, de fazermos aprendizagens, de assumirmos responsabilidades e de abraçarmos desafios, mudando, tantas e tantas vezes, a velocidade dessas mesmas gotas, desses mesmos grãos de areia.
Na verdade, a dimensão Tempo é a que mais tem estado a ser mudada no plano terreno. Há muito, sem dúvida, que largámos a 3ª dimensão pura e começámos a integrar a 4ª dimensão, a do Tempo, no percurso terreno, com vista ao que chamamos de Ascensão, uma passagem para, em primeira instância, a 5ª dimensão. Então, basta olharmos à nossa volta para percebermos o quanto o tempo mudou, o quanto tudo é mais rápido, mas, acima de tudo, como Einstein tão bem nos demonstrou, como estamos, cada vez mais, capazes de moldar o tempo e trabalhar em nós mesmos através dele, algo que irei explorar melhor um pouco mais à frente.
Com os seus anéis, Saturno envolve-nos e recorda-nos que a matéria é uma escola, um processo, uma vivência. O muro não foi feito para ficarmos nele presos, foi feito para ser subido e ultrapassado.
A última passagem de Saturno por Capricórnio, entre 1988 e 1991, trouxe-nos grandes mudanças globais, com enorme destaque para a queda do Muro de Berlim e o início do fim da União Soviética (ainda que a concretização já tenha sido com Saturno no signo de Aquário). O Muro de Berlim, construído no Verão de 1961, durante um período em que Saturno também estava em Capricórnio, foi o grande símbolo da divisão do mundo em dois espaços geoestratégicos no ambiente da Guerra Fria, a divisão entre um capitalismo ocidental e um comunismo oriental. Curiosamente, em perfeita sincronicidade, 28 anos depois, em 1989, com Saturno em Capricórnio, a queda desse mesmo Muro que dividiu o mundo deu início ao dealbar de uma nova ordem mundial, ordem essa que hoje, num novo tempo de Saturno em Capricórnio, urge por mudança e transformação.
Um muro é, provavelmente uma das melhores metáforas para representar o papel deste planeta nas nossas vidas. Saturno é o limite do nosso sistema solar visível do ponto de vista terreno e, por isso, ele também representa os nossos próprios limites, o que é em nós e por nós conhecido, tudo aquilo em que a matéria nos condiciona e como nos define, o invólucro, o veículo que escolhemos para fazermos esta passagem pela Terra. Com os seus anéis, Saturno envolve-nos e recorda-nos que a matéria é uma escola, um processo, uma vivência. O muro não foi feito para ficarmos nele presos, foi feito para ser subido e ultrapassado.
Em cada um de nós, os muros e os limites que traçamos ao longo da vida, consciente ou inconscientemente, por nós mesmos ou com a contribuição dos que connosco partilham do nosso caminho, precisam agora de ser vistos, focados e reestruturados, reorganizados e reorientados. Para tal, Saturno em Capricórnio vem pedir-nos que sejamos capazes de olhar bem para dentro de nós, para as nossas vidas, e compreender, trabalhar e reequilibrar os vários pontos que nos têm sido, nestes últimos tempos, mostrados, assumindo, acima de tudo, a responsabilidade de cada passo traçado, de cada escolha feita, de cada semente plantada.
Com Saturno em Capricórnio somos confrontados com o nosso poder, aquele que tem sido mexido e trabalhado desde 2008 por Plutão, também neste signo. Chegou, por isso, o tempo de assumirmos os nossos caminhos, abraçarmos a nossa individualidade, responsabilizarmo-nos por cada passo dado, por cada escolha feita, sendo genuínos e autênticos, acima de tudo, connosco. Neste percurso, quando, entre 2019 e 2020 (com especial destaque para o início de 2020), Saturno e Plutão se encontrarem em conjunção, todos nós seremos confrontados com as nossas escolhas de como usar, ou não, o nosso poder.
Não há culpados, mas também não há inocentes, todos temos de passar pelo crivo de Saturno, e esse tempo será, sem dúvida, um enorme teste ao nosso percurso e às nossas escolhas. Curiosamente, na mitologia grega, há uma vertente que nos diz que a Cronos, pela misericórdia de Zeus, foi permitido ser o governante dos Campos Elíseos, o paraíso grego. Sendo Hades (Plutão), o regente do submundo, esse momento em que Saturno e Plutão se encontram será, certamente, quase como uma espécie de grande e profundo julgamento, não ao estilo Juízo Final apocalíptico, bem longe disso, mas sim ao estilo da carta do Julgamento no Tarot. Nesse tempo, aqueles que não quiserem cumprir o seu propósito, que não quiserem olhar para si, serão, de alguma maneira, entregues à sua própria sorte e o resultado poderá não ser o mais interessante, não por um castigo divino, mas sim por responsabilidade própria. Contudo, todos aqueles que se disponibilizarem e se propuserem a trabalhar sobre si mesmos, encontrarão algum tipo de pote de ouro, algum tipo de benesse para seguirem o seu caminho.
Saturno é, frequentemente, chamado do Senhor do Karma, e ainda que essa não seja a sua principal tarefa, ela faz muito sentido e está em total sintonia com o grande trabalho que a dimensão Tempo, em plena transformação, vai estar a permitir-nos fazer nestes próximos anos.
O título de Senhor do Karma é-lhe atribuído por uma questão simples e que, de certa forma, já foi explicada atrás. Ao ser o Mestre do Tempo, ele rege os seus ciclos, as suas aprendizagens, mas, ao ser também um deus ligado à fertilidade e às plantações, ele recorda-nos que cada momento é uma semente plantada, que essa semente irá crescer em consonância com a forma como dela cuidarmos e que, invariavelmente, teremos sempre de colher os seus frutos para deles fazermos o que quisermos e entendermos. Uma certeza podemos ter, não podemos esperar plantar batatas e colher limões, e essa é uma das maiores verdades que temos de aceitar e trabalhar.
Atrás referi que a dimensão Tempo estava a ser trabalhada e modificada por nós aqui na Terra. Uma das coisas que, facilmente e de forma muito empírica, podemos perceber é que o tempo está diferente, mais rápido, mais directo, mais curto. Passamos anos e anos a referir que o tempo não dá para tudo, que passa rápido, mas, sendo o tempo o domínio de Saturno, o desafio a entender é o de assumir responsabilidade e organização de nós mesmos e do nosso próprio tempo, definindo prioridades, caminhos e rumos.
O que poderemos entender nestes tempos que vamos viver é que, cada vez mais, de forma mais intensa, a grande Lei do Karma, do Dar e Receber, será quase imediata e muito directa, não dando margem de manobra para indecisões, para correcções e desculpas. Essa verdade, ainda que dolorosa, é incontornável e, de dia para dia, mais situações, nas nossas vidas ou na nossa sociedade, vão trazer ao de cima tudo o que precisamos de colher, de trabalhar e de vivenciar, sendo-nos pedido que assumamos a responsabilidade por tudo nas nossas vidas.
Contudo, uma das grandes e maravilhosas coisas que esta modelagem da dimensão Tempo nos permitirá fazer é um profundo trabalho de cura, pois teremos a possibilidade de trabalhar as nossas questões, os nossos traumas, as nossas vivências, desta vida, de vidas passadas ou de quaisquer outras dimensões aqui reflectidas, de forma muito mais plena, muito mais intensa e reveladora. Einstein falou-nos disto na sua Teoria da Relatividade, uma verdadeira “profecia” do que hoje, cada vez mais, poderemos trabalhar em nós mesmos. Se o Tempo é a grande dimensão que nos define, cada dia mais, aqui na nossa vivência na Terra, então precisamos de o dobrar, trabalhando na consciência do presente o que vivemos na matéria no passado, modificando a memória energética desse momento e potenciando uma cura e um profundo resgate de Alma.
Este é, também, o trabalho que Saturno nos irá permitir fazer nestes próximos tempos, o de resgatarmos parcelas de nós mesmos e as curarmos. Para tal, precisamos de, em cada dia, despertar para a nossa Centelha Divina, para o nosso verdadeiro Eu, compreendendo o porquê de cada materialização nas nossas vidas, de cada situação, mas, acima de tudo, aceitando essas mesmas materializações como estágios, aprendizagens e percursos de evolução. Esse mesmo despertar elevar-nos-á para uma profunda revelação de quem somos, de novos tempos, de novos e mais belos, se assim quisermos, percursos. Isto não significa, porém, que não haverá dor ou dificuldades, que não haverá desafios profundos, pelo contrário, Saturno sempre nos lembra que o caminho na Terra é um caminho de crescimento, desenvolvimento e evolução pela dor, que a dor é uma forma de aprendizagem, que implica rendição aos processos que a vida nos apresenta.
Saturno, das profundezas do nosso sistema solar, recorda-nos que até na escuridão de tudo o que está para além dele, a luz do Sol chega, mostrando-nos que há mais, muito mais do que os nossos limitados olhos terrenos conseguem ver, mas que, para tal, precisamos de nos libertar de nós mesmos, de aceitar essas mesmas fronteiras e trabalhá-las, de forma a conseguirmos ultrapassá-las e resgatar, até à dimensão do nosso espírito, a unidade do nosso Ser com tudo o que existe.
Para tal é preciso vermos para além da limitação física e terrena, é preciso mergulhar dentro de nós mesmos, é preciso observar com os olhos da Alma e aceder à Luz que existe em cada um de nós. Só assim, e tal não é simples nem directo, saberemos estar preparados para as grandes mudanças que os próximos anos nos trarão, de forma individual, mas também social, colectiva, até porque chegou o tempo de perceber que, assim como o nosso corpo funciona com todas as suas células, que todas participam dessa grande experiência que é a vida, também a sociedade precisa de todos e de cada um de nós, conscientes do seu lugar, do seu trabalho, da sua responsabilidade, e isso é estar em comunhão com quem realmente somos e escolhemos ser aqui na Terra.