A existência terrena é repleta de complexidade e maravilhosa diversidade. Contudo, para se existir é preciso tornar-se matéria, é preciso ganhar forma, pois, sem isso, no plano terreno, nada mais somos do que vontade, do que impulso, do que conceptualização. Essa é uma das mais básicas premissas da vida humana, que se manifesta e torna-se matéria como forma de cumprir o seu propósito. Isso é válido para nós, seres humanos, mas é válido também para todas as formas de vida e de energia existentes no planeta, pois até o mais pequeno ser unicelular tem uma forma, é matéria.
Se Carneiro nos trouxe o impulso da vida, a escolha da encarnação e a consciência dessa mesma escolha, é em Touro que a materializamos, com tudo o que ela nos implica e nos oferece, com os desafios que a matéria nos traz. A manifestação da vida na sua forma material é das mais belas e poderosas coisas que este Universo tem, sendo que a Terra, como espírito, manifesta-a duma forma bela e subtil, mostrando-nos como, apesar de tudo, conseguimos, material e fisicamente, cada um de nós, ser únicos, e é a compreensão e a aceitação dessa unicidade que nos permite entender e trabalhar o valor que cada um de nós tem e colocá-lo à disposição. Valor é, sem dúvida, uma das palavras que melhor podemos associar a Touro, mas ela representa algo que a Terra manifesta desde o início dos tempos, nos seus ciclos e na sua renovação constante, onde cada um tem o seu papel, o seu valor, e vive em constante troca desse mesmo valor.
Touro é o segundo Signo do Zodíaco, o primeiro do Elemento Terra e o primeiro do Modo Fixo. Isso faz de Touro o pilar da Primavera, o Signo que concentra em si toda a energia necessária para o trabalho da estação, ou seja, a nutrição energética que irá permitir a materialização da vida na plenitude da sua forma. Por isso, Touro é persistência, resistência e foco, é a força que, depois da manifestação, alimenta a Natureza e dá-lhe a capacidade de se tornar algo com valor. Sem a nutrição da água e a força impulsionadora de vida, uma planta que nasce nada mais será do que um rebento, não acrescentará nada à vivência na Terra. Então, é essa força que a levará a tornar-se vida no sentido mais pleno, a marcar a diferença, a deixar, no tempo certo, o seu legado. Esta é das vivências mais emocionais e profundas que temos e é isso que faz de Touro um signo que vem para sentir e expressar emoções. Para tal, apenas um conceito está em causa, o do valor.
Touro recorda-nos que, mais do que ser ou ter, é preciso saber dar o devido valor, pois algo que simplesmente tenho, mas ao qual não dou valor, nada é para mim, nem para nada me serve. Então, Touro recorda-nos que o verdadeiro valor é o que vem do coração e não do ego, do que sentimos e criamos, estruturamos e sedimentamos nas nossas vidas. É nesse sentido que Touro é regido por Vénus, planeta dos sentidos, do prazer, do valor e da expressão das emoções. Por isso também, Touro vem-nos ensinar a sensação, o sentir que não é emocional, mas sim terreno, manifestado pelos cinco sentidos, tão especiais para este Signo.
Touro é um signo de manifestação da matéria, onde a compreensão se dá pelos sentidos na sua plenitude e onde isso nos transporta para uma noção profunda de valor.
A audição, ainda que esteja mais ligada a um propósito do elemento Ar, traz-nos percepções e emoções, como quando ouvimos uma voz familiar ou uma música que nos recorda de algo importante. O olfacto, que nos permite sentir os aromas, impulsionadores também de emoções, que nos permite também ter a noção de sabor. O paladar, o sentir do alimento em nós, a compreensão de um mundo que nos nutre. A visão mostra-nos o mundo na sua multiplicidade, traz-nos formas e cores, traz-nos movimento e compreensão, revela-nos a intensidade do que nos rodeia. Por fim, o tacto, que nos permite sentir as texturas e as formas, que nos traz sensações e nos revela emoções, o toque e o prazer que ele nos proporciona. Touro é, assim, um signo de manifestação da matéria, onde a compreensão se dá pelos sentidos na sua plenitude e onde isso nos transporta para uma noção profunda de valor.
Touro eleva-nos também essa percepção num sentido mais consciente, trazendo-nos vivências que são direccionadas a partir da consciência do corpo físico. Em Touro aprendemos a auto-estima, a valorização pessoal, uma construção que pede tempo e paciência. O corpo é a nossa primeira e mais importante posse, talvez, na verdade, a única que tem real importância e valor. O que fazemos com o nosso corpo e com a nossa existência no sentido global, não só do corpo como matéria, é das parcelas mais importantes do trabalho deste Signo. Aceitar, valorizar e amar-nos implica, primeiro que tudo, vivermos com quem somos, entendendo-nos e exponenciando as nossas capacidades, investindo em nós, criando mais e mais valor. Contudo, como em qualquer coisa na Terra, tal implica dedicação, esforço e respeito pelos tempos dos ciclos de todas as coisas, nomeadamente dos nossos próprios, e esse é um profundo trabalho de paciência.
Paciência é, na verdade, um grande trabalho de aceitação, não é resignação nem ficar parado no nosso canto, é compreendermos e aceitarmos que tudo tem o seu tempo certo, o seu ritmo próprio, e que precisamos de saber saborear esse momento, beber do sumo da vida, aproveitar cada momento e, dessa forma, ganhar a força necessária para ir mais longe, mais intensamente. Como a própria natureza, é preciso perceber que temos de aceitar o que nos é dado, em primeiro lugar, para poder fazer isso crescer e tornar-se mais e mais. Duma semente se geram inúmeras outras, mas se olharmos para uma semente apenas como uma, desistindo de a plantar, nunca nos permitiremos descobrir o seu potencial. Contudo, na ânsia de viver o valor, possuir e ter, Touro muitas vezes cai na necessidade da posse, no apego, fechando-se na sua estrutura e teimosia, naquela velha premissa de que mais vale um pássaro, tornando cada transformação mais dura e difícil, pois implica desapegar, libertar, morrer e renascer.
Quando o Sol percorre o Signo de Touro, ele activa-nos o trabalho da nutrição de nós mesmos para criar valor, ele transporta-nos para a importância da valorização da encarnação, da matéria como forma de evolução, mas cujo grande propósito é a compreensão de que ela tem um princípio, um meio e um fim, um propósito concreto, mas finito, e que nada faz sentido na dimensão terrena se não for vivido sob essa condição. Assim como para uma planta, uma árvore, ou até um animal, nascer, crescer, dar os seus frutos e morrer é o cumprimento de uma missão única e especial, para nós, humanos, tudo isso é também verdade, mas esse é um caminho de transformação e de direcção para uma consciência de unicidade, de individualidade, com um propósito de reconexão. Contudo, enquanto que para os outros seres nesta Terra, espíritos puros e sublimes, o seu propósito é algo pleno e integrado, para nós tal não é tão linear e, por isso, se não nos soubermos valorizar, dificilmente conseguiremos expressar a nossa essência, a nossa Centelha Divina, e é essa a grande compreensão da energia de Touro, a aprendizagem da verdadeira importância da matéria e a libertação do materialismo.
Touro não nos ensina a posse de forma desprovida de humanidade. Pelo contrário, ele pede-nos que saibamos sentir, a todos os níveis, uma das mais belas verdades da Terra, a de que vida gera vida, riqueza gera riqueza, valor traz mais valor, mas que isso nada é se não tiver um propósito. Touro, na sua sabedoria, na sua força e persistência, ensina-nos que não precisamos de mais do que nos é suficiente, em cada momento, que acumular valor tem que ter um sentido, que se assim não for, torna-nos o caminho mais difícil, a mochila mais pesada. Touro recorda-nos que somos todos semeadores, que cada semente precisa de terra e alimento, sim, mas também precisa de cuidado, de protecção, e que isso é valorização, sim, mas, acima de tudo, é amor na sua expressão mais terrena, crua, mas também, profundamente bela.