Há um momento no ano em que o Sol atinge a altura máxima em relação ao Equador, trazendo-nos o tempo máximo de luz solar num dia e oferecendo-nos o Solstício de Verão, a entrada do Sol no Signo de Caranguejo. Este é o momento em que, na sua trajectória aparente, do ponto de vista terreno, o Sol, que até agora tinha-se elevado, é coroado na sua magnificência para voltar a mergulhar em direcção às profundezas das trevas, como o guerreiro que cumpre o seu caminho de iniciação e, erguido Cavaleiro, abraça a jornada que o levará à sua sombra, à simbólica morte que dará de novo origem à vida, para retornar ao ciclo perpétuo de sublimação do Espírito através da encarnação terrena.
Todo o caminho de iniciação encontra o momento em que é preciso, como nos dizia o Mestre, nascer de novo, voltarmos à nossa origem, ao primordial de nós mesmos, para podermos erguer-nos vitoriosos na matéria e dirigir-nos para o renascer pelo Espírito. Para o fazermos, necessitamos de mergulhar no que nos criou, no que nos definiu, no que nos formou, e, na Terra, uma das condições básicas da vida é a água. É ela que, com as suas características, recebe a vida dirigida pelo Sol e forma as bases para o novo ser, para a nova identidade que irá formar-se, que advém de todo o trabalho energético anterior, do Espírito que se encarna pelo impulso de Carneiro, manifestado pela fecundação de Touro, dimensionado e conceptualizado por Gémeos, e que agora, em Caranguejo, vai ganhar um sentido, uma origem, um lar, um corpo para cumprir a sua missão.
Caranguejo é o quarto Signo do Zodíaco, o primeiro do Elemento Água, em modo Cardinal. Ele é o primeiro portal, o signo onde estão guardadas todas as nossas memórias, todos os nossos registos, onde somos levados a trabalhar toda a compreensão da nossa personalidade, mergulhando no mais profundo de quem somos, aquilo que não revelamos, que guardamos. Sendo o quarto signo, carrega em si a energia do número quatro, ligado a estrutura, a ordem, construção, base, alicerces e segurança. Por isso, Caranguejo carrega em si uma forte energia de protecção, aquela que nos permite construirmo-nos, que nos dá conforto e condições para podermos crescer e ganhar forma, a forma receptora da Centelha Divina. Nesse aspecto, não há melhor imagem que o útero materno, onde as águas de Caranguejo se manifestam da forma mais plena e bela.
É no útero materno que somos gerados e é ele o representante mais fiel do Signo de Caranguejo. É na sua energia que encontramos as condições para nos formarmos, é nele que somos alimentados, nutridos, cuidados e protegidos, até estarmos em condições para abraçar o desafio da vivência consciente dar encarnação.
A água é a fonte de toda a vida e é nela que habitamos antes de enfrentar o mundo. Caranguejo traz-nos essas mesmas águas primordiais, as da nossa essência, da nossa natureza terrena, e por isso é nele que trabalhamos as nossas origens, que vamos buscar a matéria que, mais tarde, se transformará e projectaremos no infinito dos tempos, o tesouro que está guardado e que iremos, em cada passo, se assim quisermos, encontrar dentro de nós. A semente que estava guardada na terra, que criou raízes, germinou e se elevou em direcção à luz, tornou-se a planta geradora de nova vida, de frutos que contêm em si novas sementes, que transportam em si o gérmen da continuidade da espécie. Para tal, têm guardado um registo genético que permite que a nova semente que tocará a terra e nela ficar guardada reproduza seja um legado duma linhagem. Da mesma forma, Caranguejo representa esse registo genético e kármico que nos alimenta, que está guardado em nós, que nos transporta de geração em geração, de forma a podermo-nos aperfeiçoar, a trabalhar a nossa ancestralidade, a curar as feridas colectivas e individuais.
É no útero materno que somos gerados e é ele o representante mais fiel do Signo de Caranguejo. É na sua energia que encontramos as condições para nos formarmos, é nele que somos alimentados, nutridos, cuidados e protegidos, até estarmos em condições para abraçar o desafio da vivência consciente dar encarnação. Dentro do Útero que Caranguejo representa, temos o nosso primeiro contacto com o mundo, e ainda que ele não seja feito de forma consciente, ele é profundo, arrebatador e crucial para o ser que terrenamente seremos. Tudo o que no ventre materno recebemos fica guardado e registado no nosso inconsciente, nas nossas memórias profundas, pronto para ser activado e trabalhado ao longo da nossa vida, seja em forma de capacidades, seja em desafios, seja algo específico desta vida, sejam questões kármicas que precisam de ser trabalhadas e que, para isso, têm de encontrar um reflexo na vida presente.
Por isso, em Caranguejo trabalhamos as memórias, aquelas que estão guardadas em nós, das quais, tantas e tantas vezes, temos dificuldade em nos libertar, em largar, em desapegar-nos, pois elas significam a segurança de algo que nos susteve, que foi necessário para a nossa construção como seres, que nos alimentou. A memória é um registo que nos une a uma raiz, a uma origem, sem ela apenas somos matéria, mecânica, conceptual, não somos, não existimos, pois a nada estamos ligados. Então, em Caranguejo somos desafiados a trabalhar este registo de memória, a nos conectar-nos, a nos ligar-nos, a nos permitirmos ser cuidados e nutridos, mas também a sermos, igualmente, cuidadores e nutridores. Quando não o fazemos, activamos memórias profundas, instintivas, de sobrevivência, defendemo-nos, fechamo-nos, como o próprio caranguejo na sua carapaça, que se protege dos predadores atacando com as suas pinças, que agarram e dificilmente largam.
Caranguejo é o início do Verão, o tempo em que a força do sol dá aos alimentos a sua vida, de forma a que eles nos possam nutrir e dar vida. Para tal, a árvore recebe os raios do sol que alimentam de vida a água que percorre o seu tronco e ramos, levando esta mistura até aos frutos, fazendo-os crescer, ganhar sabor e nutrientes. Da mesma forma, quando o Sol transita no signo de Caranguejo somos levados a sentir, a receber, a perceber o mundo pela nossa sensibilidade, aquela que está para além do corpo físico, aquela que atravessa a matéria e nos penetra os poros, de forma a sermos também capazes de passar tudo isso para o mundo que nos rodeia.
A Lua é o regente do Signo de Caranguejo, pois ela representa a Mãe, a nossa base de existência, a nossa fonte, a nossa origem, o receptáculo do Espírito, a Alma preparada para a encarnação. Contudo, assim como o grande propósito da Alma é trabalhar através do corpo físico para se libertar da matéria e retornar ao Todo, também Caranguejo representa a necessidade de trabalharmos as nossas carências, hábitos, dependências, os nossos instintos de defesa e de sobrevivência, no sentido de estarmos preparados para cortarmos os nossos cordões umbilicais e, verdadeiramente, nascermos de novo.
Sentir, transpor uma sensação da profundidade da nossa Alma para uma vivência consciente, é uma das características que mais nos define como humanos, que nos diferencia do resto dos seres vivos. Ela é a capacidade de, na densidade da matéria, transpormos os limites e nos conectarmos, de recebermos e de nos doarmos, de crescermos para a compreensão de quem somos através da permeabilidade do nosso Ser, algo que, de tão instintivo que é, necessita de ser aprendido e desenvolvido. No entanto, tal só é possível quando nos permitimos não ser apenas cuidadores dos outros, dando-nos inconscientemente, apagando-nos na busca de um pouco de colo, de mimo, de protecção, de carinho ou afecto. É quando nos tornamos cuidadores de nós mesmos, quando activamos a Mãe que internamente vive em nós, aquela que cria e nutre, sim, mas que liberta a sua criação para que ela possa dar continuidade da sua linhagem e elevar-se, que podemos trabalhar a nossa capacidade de gerar os nossos verdadeiros frutos, de sermos nós mesmos e de verdadeiramente tocar corações.