Na existência terrena, assim como em todo o universo que nos circunda, nada é um evento isolado ou desprovido de qualquer tipo de conexão. Como uma perfeita trama, todos estamos directa ou indirectamente ligados, não só seres humanos, animais e plantas, mas também todos os pedacinhos de energia que existem neste imenso universo, o que faz com que um acontecimento, uma situação, esteja conectado com outros. Da mesma forma, um Eclipse, acontecimento que por estes dias está a ser muito badalado, não é um evento isolado, é uma perfeita e maravilhosa integração de diversos factores e faz sempre parte de algo maior, de um processo que nos é oferecido para viver e trabalhar.
Por norma, num ano temos 4 ou 5 eclipses, agrupados em dois momentos, com um espaço de sensivelmente 6 meses entre eles. Se no início do ano tivemos a primeira época de eclipses, neste momento estamos no centro da segunda época, começada pelo eclipse do dia 13 de Julho (sobre o qual escrevi neste artigo), que terá na noite do dia 27 de Julho (a data em que este artigo é publicado) um dos mais fortes e potentes eclipses que teremos o prazer de ver e de viver, e terminará no próximo eclipse, no dia 11 de Agosto. Por outro lado, os próprios eclipses estão agrupados em grandes séries, que derivam da interacção perfeita entre a Terra e a Lua, nas suas órbitas perante o Sol e a própria Terra, respectivamente, o que faz com que, num ciclo de aproximadamente 19 anos, tenhamos eclipses nos mesmos pontos, reflectindo uma sincronicidade de consciência e de transformação muito importante.
Um pouco por todo o lado, notícias, artigos e posts nas redes sociais falam-nos do Eclipse Lunar Total que iremos viver, o mais longo do século, mais intenso, lua de sangue e mais não sei quantos nomes associados. Independentemente de tudo, sem dúvida, este será um evento de grande intensidade, e isso reflectir-se-á nos céus, numa visão que será, sem dúvida, memorável, pois esta não será uma simples Lua Cheia, ingrediente base dum eclipse lunar, mas sim um momento de grande tensão e profundidade energética, que nos solicitará e nos possibilitará, para quem tiver este eclipse a activar algum ponto no seu mapa, mexermos em tópicos e reajustarmos, nos próximos tempos, o que precisar de tal energia.
O Eclipse Lunar Total terá o seu ponto nos 4 graus e 44 minutos do eixo Aquário-Leão, com a Lua no signo de Aquário e o Sol, claro, no signo de Leão. No entanto, o que torna este eclipse mais forte será a proximidade com os nodos lunares, que estarão a pouco mais de 1º dos luminares, e os aspectos que a própria interacção Lua-Sol fará com outros planetas, como Marte, com quem a Lua estará em conjunção, e com Úrano, com quem Sol e Lua farão um aspecto de quadratura, muito desafiador. Na prática, isto significa que teremos um momento de grande tensão nos céus, mas a realidade é que são estes momentos que potenciam os grandes feitos e as grandes transformações. Na prática, um eclipse lunar é uma Lua Cheia e, como tal, é um momento de manifestação, de colher os frutos das sementeiras anteriores.
Este é um momento de grande profundidade, que nos levará, durante os próximos meses, a fazer uma viagem ao interior de nós mesmos e a descobrir, revelar e consciencializarmo-nos dum conjunto de coisas que necessitam de ser trabalhadas, transformadas, ou até largadas. A tensão que se sente no ar, fruto das energias desafiadoras que temos estado a viver, nomeadamente da quadratura entre Marte, no seu movimento retrógrado, e Úrano, a reduzir a velocidade aparente para entrar, também ele, no mesmo movimento, está a ser direccionada para as áreas mais profundas do nosso ser, para os nossos campos de consciência mental e emocional, pedindo-nos que sejamos muito honestos e sinceros connosco, pedindo-nos que saibamos olhar para nós sem medo de nos vermos, mas dando-nos, também, a força para que o consigamos fazer.
Se o último eclipse nos pediu um trabalho de cuidar de nós e de compreender o nosso corpo como o templo em que o Espírito se manifesta, agora é tempo de percebermos que tal só faz sentido quando nos propomos a ser quem realmente somos, sem mais máscaras e capas, sem armaduras, revelando a essência, sublimando, como um profundo e maravilhoso processo alquímico, a nossa própria Alma, elevando-a, passo a passo, sem pressa, até que ela possa manifestar, verdadeiramente, o seu propósito.
Ainda que se goste de fazer muito burburinho sobre os eclipses, nomeadamente sobre este, a verdade é que ele é um grande desafiador interno, até porque o ponto-chave do processo, a própria Lua, está em conexão directa ao Nodo Lunar Sul. Isso faz com que este seja um processo de interiorização, de consciência interna e de compreensão duma realidade, a de que não nos podemos ultrapassar a nós mesmos sem atravessarmos cada milímetro da nossa totalidade, sem a compreendermos e integrarmos. Se nos conhecermos, se formos aos limites da nossa existência e os trabalharmos, então estaremos preparados para irmos para além de nós, superarmo-nos, subindo mais em direcção ao alto, à conexão com a Fonte.
Contudo, não é possível fazer, do ponto de vista da dimensão terrena, o percurso de reconexão com o Todo, de irmos para além de nós mesmos, sem nos conectarmos também com o aqui e o agora, com este plano que escolhemos, amorosamente, abraçar como escola, o que implica também aceitar a vida, a nossa vida, em todos os seus contornos, restrições, caminhos, vicissitudes e bênçãos. O que nos torna seres espirituais é a compreensão da nossa trindade, não o desligamento do plano terreno e a direcção para um suposto plano “lá de cima”, e isso é aprender também a sermos humanos, o grande tema de Aquário na sua dádiva ao sistema onde vivemos, ainda que tal implique necessariamente a vivência na matéria.
Por isso, este eclipse, ainda que se dê entre os elementos Ar e Fogo, tem como grande foco de libertação e de trabalho a energia de Terra, com Saturno e Úrano, os dispositores, “donos” da energia, da Lua, em Capricórnio e Touro. Por outro lado, o Sol em Leão está em domicílio, na sua energia-casa, sendo um dos planetas fortes deste momento. Curiosamente, nos céus, neste momento, todas as energias são dirigidas para Sol e para Saturno, e a realidade é que estes dois senhores são dois extremos duma mesma compreensão, a da vivência terrena. Somos espíritos encarnados, que vêm para manifestar o seu brilho, a beleza do próprio Sol, mas tal só pode ter efeitos produtivos quando fazemos um percurso de aprendizagem, quando nos confrontamos com o limite da matéria e o trabalhamos, quando nos dedicamos a nós mesmos numa devoção e num compromisso profundos, num trabalho amoroso que é essencial para que nos possamos reconhecer como a divindade que somos.
Não é possível também nos esquecermos que temos um momento nos céus com vários planetas em movimento retrógrado, com Mercúrio acabado de entrar e com Úrano a caminho, com, nas próximas semanas, a termos uma forte e intensa energia de interiorização e de profundidade. Isto significa que não é o tempo de nos movimentarmos para fora, mas sim para dentro, de pararmos para olharmos para nós e nos apercebermos que nada pode existir nas nossas vidas sem antes se manifestar no nosso interior, sem compreendermos o que estamos a materializar e a atrair até nós, sem percebermos e escolhermos se é isso que queremos, ou se é outra coisa qualquer, e trabalhar nesse sentido. Tal como a vida nos ensina que para existirmos precisamos de estar a ser formados em ambiente controlado e só depois nascer, também, no mesmo sentido, nada pode, por acto de espontaneidade, simplesmente surgir ou aparecer. Tudo tem um início, um propósito, um caminho, e uma materialização, e todos os passos, todos os momentos, são de suprema importância.
Ainda que não possamos parar a vida para olhar para nós, para fazer todos estes processos, quase como uma reclusão ou um retiro, e até mesmo nestas situações ou locais a vida continua e acontece, temos de ter a capacidade de nos propor, em cada momento, a olhar para nós, mesmo em movimento, em postura de observador, em vivência crítica, sem ser destrutiva, mas sim potenciadora, amorosa e transformadora. Seria fácil se pudéssemos parar tudo durante algum tempo, reestruturar e depois voltar, plenos e belos, mas o tempo não espera por nós e o desafio é compreender que, mesmo em movimento, podemos fazer as coisas mais belas e poderosas, podemos mudar o mundo, o nosso mundo, e tal, muitas vezes, apenas passa pela mudança da nossa própria postura, da nossa própria visão, da forma como somos, estamos e pertencemos.
Durante os próximos meses há um portal de consciência aberto para que possamos olhar para nós mesmos, um poderoso espelho que nos vai mostrar exactamente como somos, que nos vai ensinar que há feridas e cicatrizes que precisamos de assumir, que fazem parte da nossa beleza, da nossa originalidade e individualidade. Quando perdemos tempo a tentar ser algo que não somos, a esconder coisas que precisam de ser reveladas, que são parte visível de nós, escondemo-nos numa suposta máscara que nos consome energia a todos os níveis, energia essa que é essencial para podermos levar ao mundo o que de único existe em nós. Agora é o tempo de, por nossa escolha, caírem as máscaras, rasgarmos os véus, trabalharmos os medos e revelarmo-nos, mesmo que doa, mesmo que custe, mesmo que traga ao de cima coisas antigas, sentimentos que estavam guardados e enterrados, mesmo que precisemos de ver o lado mais sombrio do nosso ser. Todos somos Luz e Sombra, na mesma proporção, na mesma dimensão, e, tal como num eclipse, por vezes, é preciso alinhá-las e integrá-las, de forma a que coisas maravilhosas se possam manifestar, pois algumas das mais belas plantas e flores só nascem no lodo e, muitas vezes, as frutas mais belas e perfeitas são as mais pobres e desprovidas de nutrientes e sabor.