A trilogia é um formato muito utilizado nas mais diversas artes, mas não só, pois a própria vida e o Universo estão-nos constantemente a mostrar esse número três expresso em tudo o que existe. Ele é o número da expressão, da criatividade, da alegria, elas mesmas grandes representantes da vida. O número três é a trindade, que nos dá um sentido de início, meio e fim, que nos leva de novo a um início, que nos dá a ideia de progressão, de crescimento e de aprendizagem, de profunda integração de uma vivência que nos orienta para algo maior.
Vemos esta dimensão nas grandes histórias que nos formaram, onde o herói faz um percurso, encontramos essa dimensão no Tarot, com o mesmo fundamento, mas encontramos bem mais próximo, na nossa própria existência. O ser humano é, no seu fundamento, dividido em três parcelas integradas: corpo, alma e espírito. Ainda que haja uma enorme e profunda complexidade envolvida nesta divisão, estas são as três bases da nossa existência terrena e é com elas que temos de viver, aprendendo a integrá-las, a exprimi-las e a manifestá-las.
O momento que estamos a viver traz-nos também uma trilogia própria, a dos eclipses que nos têm acompanhado, que agora encontra o seu capítulo final, com o eclipse do dia 11 de Agosto, que vai ter o seu ponto mais alto às 10h57 (hora de Lisboa, UT-1). Como todas as trilogias, o último capítulo é onde temos a possibilidade de encaixar as várias peças da história, integrá-la e decorrer para o momento em que tudo ganha sentido, em que todas as linhas se cruzam em direcção a um mesmo ponto, aquele que dará voz e manifestará uma nova realidade.
Temos vivido dias muito fortes e intensos, com uma poderosa energia a envolver-nos, que nos tem levado a alguns limites do nosso ser. Progressivamente, temos sido levados a olhar mais e mais profundamente para dentro de nós e para o que nos rodeia, nomeadamente pelo facto de termos, por estes dias, numa situação rara e bonita de se ver, embora difícil de viver, sete planetas no seu movimento retrógrado, algo que só se irá começar a alterar a partir do próximo dia 19 de Agosto. Neste processo, onde os Eclipses que estamos a viver se inserem perfeitamente, temos sido obrigados a mudar a nossa forma de nos vermos e de vermos o mundo em que vivemos, a compreendermos a nossa presença nas nossas próprias vidas e a tomarmos consciência de um conjunto de coisas, de forma a podermos, agora, empreender um novo sentido de transformação, mudança e existência em nós mesmos. No fundo, esta é a história que este conjunto de eclipses no signo de Leão e no seu eixo, Leão-Aquário, nos têm trazido, que agora chega (praticamente, pois ainda vai ter mais um apontamento no próximo ano) ao fim.
Se os Eclipses são momentos de transformação e revelação, alinhamentos cósmicos perfeitos que nos abrem portais de trabalho, também é verdade que eles nos dão abordagens subjacentes à própria subjectividade que a existência terrena pressupõe. Ainda que possamos ter uma máquina fotográfica topo de gama, que nos custou o dinheiro de vários meses de trabalho, com uma lente poderosíssima, não vai implicar que sejamos grandes fotógrafos, pois a máquina é apenas o meio para o artista poder manifestar a sua essência. Da mesma forma, o eclipse dá-nos a possibilidade de manifestar algo, mas a forma como o fazemos depende da abordagem que cada um quiser imprimir na sua vivência.
Como referi atrás, os últimos dois eclipses trouxeram-nos a capacidade de olharmos melhor para a forma como estamos presentes na nossa própria vida, de forma a tomarmos consciência de quem somos e dos nossos processos. É este caminho que trará, durante os próximos meses, processos profundos de transformação e de revelação dos nossos caminhos, que nos permitirão mudar o que necessitamos de mudar. Olhar este eclipse do dia 11 torna-se mais simples se olharmos para os anteriores, o do dia 13 de Julho, sobre o qual escrevi neste artigo, e o do dia 27 de Julho, sobre o qual também escrevi neste outro artigo. Olhando para ambos, é fácil perceber tudo o resto que está preparado para nós, mas, ainda assim, este tem o seu lugar muito próprio, importante e especial.
Sob a energia de Leão, o que nos é solicitado é uma visão de nós mesmos, da nossa identidade, de quem somos e de quem pretendemos ser, de forma a podermos não só manifestar essa mesma essência, mas também projectá-la, expressá-la e, assim, direccionarmo-nos para a sua materialização.
No dia 11 de Agosto estaremos a viver um eclipse parcial do Sol, que não será visível a partir de Portugal, que se dará no grau 18 do signo de Leão, onde Sol e Lua se encontrarão. Como qualquer eclipse solar, iremos viver uma Lua Nova, logo, iremos também ter a oportunidade de poder semear algo. Ainda que este eclipse mexa com todos nós, ele será mais forte para quem tiver planetas ou pontos à roda do grau do eclipse, nos signos fixos – Leão, Escorpião, Aquário e Touro. Da intensidade deste trabalho, creio, nenhum de nós terá dúvidas, mas, se as tiver, basta olhar para si mesmo e para o mundo, para a realidade de tudo o que o rodeia, e verá como a força dos pilares energéticos que estes signos representam está a ser bem mexida e muito trabalhada.
É importante referir que um eclipse solar se dá quando o Sol e a Lua se encontram nos céus, como uma Lua Nova, mas que, por alinhamento com a Terra, o seu posicionamento faz com que, em pleno momento diurno nalgum ponto do planeta, a Lua oculte o Sol por alguns instantes. O Sol, símbolo do consciente, é tapado pela Lua, símbolo do inconsciente. Neste tempo, é projectada sobre a Terra a visão do consciente pelo olhar do inconsciente e, invariavelmente, isso faz com que coisas que nem sempre eram visíveis, se mostrem de forma mais concreta, que se revelem e nos mostrem o que precisamos de olhar e observar nas nossas vidas.
Sob a energia de Leão, o que nos é solicitado é uma visão de nós mesmos, da nossa identidade, de quem somos e de quem pretendemos ser, de forma a podermos não só manifestar essa mesma essência, mas também projectá-la, expressá-la e, assim, direccionarmo-nos para a sua materialização. Essa energia é-nos dada pela proximidade de Mercúrio e do Nodo Norte, ambos também em Leão, da conjunção entre Sol e Lua. O curioso nesta mistura energética é que este é um Eclipse, pela ligação com o Nodo Norte, de projecção e expressão, também manifestada pela própria energia do Signo de Leão, mas que, por outro lado, nos pede uma contenção, um trabalho interno, uma ressonância profunda, materializada pela ligação com um Mercúrio, também em Leão, a fase final do seu movimento retrógrado.
Então, este Eclipse pede-nos um trabalho simultâneo de interiorização e de expansão, que têm de funcionar em uníssono, em conexão profunda. No fundo, ele diz-nos que não nos adianta advogar uma coisa e ser outra, não nos serve de nada gritar palavras de acção e de moralidade se, dentro de nós, tal não existe. Não podemos manifestar algo que não existe em nós, da mesma forma que não podemos tornar-nos algo que não somos na nossa essência. A transparência da nossa Alma tem de passar para a matéria, como uma forma de manifestação do próprio Espírito encarnado.
Se observarmos o mundo em que vivemos vemos, cada dia mais, esta exigência. Nos últimos dias, devido a diversos factores, alguns bem graves, surgem diversas situações e notícias que nos traduzem isso mesmo, a necessidade de encararmos os factos e transformarmos os nossos hábitos, padrões e zonas de conforto. No entanto, não o poderemos fazer sem começarmos esse trabalho em nós. Hoje, ao fim de tantos anos de alertas, vemos, por exemplo, um grito único pelo planeta, com as temperaturas a atingirem máximos históricos, a elevarem-se de forma assustadora em locais onde tal nunca tinha antes acontecido e a fazerem-nos questionar sobre a forma como estamos a gerir os recursos. No entanto, é preciso percebermos, duma vez por todas, que a maneira como gerimos os recursos do planeta é exactamente igual à forma como gerimos a nossa própria energia e os nossos próprios recursos, indo além do necessário, por ego, por vaidade, por orgulho e poder, esgotando a nossa vivência em coisas que são supérfluas e, muitas vezes, desnecessárias, e nem sequer estou a referir apenas coisas materiais, mas também, e principalmente, comportamentos, hábitos e padrões.
Leão é o Signo onde o Espírito se manifesta (como explico neste artigo) na sua magnitude, na sua mais pura beleza, mas é onde também o ego é mais facilmente alimentado, e esta série de eclipses que temos vivido, ao longo dos últimos meses, no signo de Leão e no eixo Leão-Aquário, tem-nos solicitado para olharmos bem para a forma como o temos feito, assim como para a forma como alimentamos o nosso ego, como deixamos o medo invadir-nos e toldar-nos a visão que temos de nós mesmos, como permitimos que o nosso corpo e a nossa alma sejam preenchidos com energias que não lhes acrescentam nada, que não os amplificam e melhoram, que não lhes permitem manifestar a beleza do espírito que os habita. Corpo, mente e coração precisam de estar em correlação positiva para que o espírito possa fluir entre eles e, na Terra, possamos manifestar a nossa unicidade, a nossa verdadeira individualidade.
Por isso, este eclipse traz-nos um desafio profundo, onde Plutão e Neptuno, ambos em movimento retrógrado, unem-se num sextil, um aspecto muito criador e criativo, que todos nós estamos a viver (que, por ser um aspecto de influência geracional, todos os seres maravilhosos que estão a nascer por estas semanas, trazem consigo), que mexe e abala estruturas, mas que se manifesta para a energia do eclipse e de Mercúrio, a ele associado, através de quincúncios. O quincúncio é um aspecto de profundo ajustamento, desafiador, que nos obriga a redireccionar a nossa energia, de forma a podermos unir aquilo que, aparentemente, parecia impossível de se conectar. Então, o que nos será pedido neste tempo é precisamente que nos permitamos quebrar estruturas caducas, podres e desnecessárias, de forma a poder construir novas, sólidas, ajustadas e basilares, que nos permitam crescer e desenvolver, no sentido correcto de quem somos e de quem viemos ser.
Tal só é possível quando somos capazes de nos permitir amar, não só nas coisas boas, bonitas e simpáticas do nosso ser, mas também, e principalmente, naquelas que doem, nas que são feias, nas feridas. Se não o fizermos nos dois sentidos não seremos verdadeiramente capazes de nos amar em quem somos, criaremos uma ilusão do ego, que se sustentará sobre outras ilusões, num intrincado, complexo e muito difícil processo interno que, honestamente, se olharmos bem em nós, veremos que já acontece e existe. É apenas quando alinhamos a nossa Luz e a nossa Sombra, como referi no artigo sobre o último eclipse, que somos capazes de manifestar a beleza dum mundo espiritual materializado na densidade terrena, num enorme e profundo sentido de transformação, crescimento, elevação e evolução.
O portal que este Eclipse nos traz é o da percepção, compreensão e manifestação do propósito do Espírito que somos na conexão com o mundo que nos rodeia, com quem se cruza connosco, com o espelho que é de nós mesmos. Carl Jung (também ele do signo Leão, com Ascendente Aquário) deixou-nos uma célebre citação que diz: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” No fundo, é também isso que nos é pedido, que nos permitamos ser humanos, que nos permitamos aprender a ser essa coisa fantástica, surpreendente, mas profundamente difícil, que é o ser-se humano, e levar essa humanidade a cada coração tocado. No entanto, só o podemos fazer se fizermos o que nos tem sido pedido, e para o qual temos sido empurrados, o largar falsas estruturas, crenças e ideais, o transformar de nós mesmos, o amar quem somos e quem o outro é na sua totalidade, para além dos corpos, para além do que acreditamos ou do que defendemos.
Este é o trabalho que Vénus e Quíron, em oposição, projectam sobre Saturno através de quadraturas, formando o que chamamos de T-Square, uma configuração desafiadora, mas poderosa, onde, neste caso, Saturno tem o papel de ser o libertador da tensão criada entre os dois outros planetas, e que, por estar tão presente neste Eclipse, irá também ser um profundo trabalho para os próximos tempos. Amar-me por quem sou e como sou, assumindo a totalidade do meu ser, a perfeição duma suposta imperfeição, ou, em contrapartida, criar uma imagem de mim, uma capa e uma máscara, destruir-me, no fundo, para que o outro me ame, me aceite, me respeite, baseado numa falsa verdade de quem eu sou, é uma das grandes questões que nos é colocada agora, que se dimensiona não só para nós, mas também para tudo o que somos e nos rodeia, para as nossas vidas, profissões, relações e amizades, para as sociedades em que estamos inseridos e para o mundo em que vivemos, pois somos muito mais do que nós mesmos.
Muitos de nós ainda vivem sob máscaras, que alimentam como se fossem verdadeiras facetas do seu ser, com medo de assumir a sua verdadeira identidade. Se ainda vivemos sob esta premissa, a pressão é cada dia maior, as situações cada vez mais difíceis, mais desafiadoras e complexas. Contudo, se já nos predispomos a libertar as correntes, a deixar cair as máscaras, mesmo que em passos muito pequeninos, então começamos a sentir um aliviar, como um subir à tona depois de um mergulho profundo. É também este o pedido e o trabalho deste eclipse, o de sermos capazes de largar as máscaras, mais umas quantas, e encontrarmos dentro de nós aquilo que, muitas vezes, procuramos fora, como o amor, a aceitação, a compleição, a totalidade.
Este tempo, este eclipse e os que o precederam, são um profundo apelo para que recordemos que somos Espíritos encarnados, que se propuseram a viver uma experiência terrena num corpo físico, através duma Alma, que tudo na Terra tem um pressuposto semelhante e que, por isso, estamos todos interligados, que cada um vem ser o que realmente é, que não há lugares limitados para uma função, obrigando-nos a competir, que, ainda que tal leve tempo a descobrir, é muito mais complexo quando tentamos contrariar a nossa Essência. Se cada um de nós o conseguir fazer, o mundo muda, não porque nós mudámos, mas sim porque decidimos apenas manifestar a essência da nossa existência. Para tal, precisamos de dar voz e continuidade ao trabalho dos anteriores eclipses.
É preciso ser, sendo, não apenas existindo, pois a nossa vida só acontece quando nela estamos e somos presentes, quando dela tomamos parte efectiva, material e manifestada, quando nos colocamos em causa e compreendemos que a nossa vida, por muitos caminhos sinuosos que tenha e por muitas situações complexas que nos apresente, dá-nos sempre a possibilidade de termos uma voz activa, uma escolha efectiva, um poder, um livre-arbítrio. Para tal, é preciso tomar consciência, é preciso pensar com a mente, sentir com o coração, mas integrar essas duas percepções com as dos nossos próprios sentidos, pois é dessa conexão que o mundo se descodifica. Fazendo-o, abrimos a nossa existência à manifestação do espírito que somos, revelamos e amplificamos a voz da nossa Essência e compreendemos que, assim, tudo o que fazemos, tudo o que criamos, tudo o que escolhemos, presentes e conscientes de nós mesmos, é profundamente divino, na mesma proporção da divindade que assumimos para a nossa própria Vida.