Na Terra, em toda a vida que a habita, em todos os espíritos que nela se materializam, assim como no nosso sistema solar, e até mesmo no Universo, há uma premissa que se manifesta permanentemente, a de que tudo existe sob constantes e contínuos ciclos. São os ciclos que nos organizam e orientam, que nos dão sentido de crescimento e evolução, que nos permitem e, muitas vezes, nos obrigam a reflectir, que nos pedem para parar e, com a integração duma experiência e da aprendizagem que ela nos ofereceu, nos aperfeiçoarmos.
É o aperfeiçoamento como seres que nos permite a sobrevivência, e a natureza expressa isso duma forma absolutamente extraordinária e única. As plantas encontram mecanismos para que o seu pólen e as suas sementes se espalhem, de forma a que a espécie possa desenvolver-se e evoluir, não apenas sobrevivendo, mas ultrapassando determinados obstáculos, adaptando-se e modificando-se. Os animais usam também de mecanismos para que a sobrevivência seja garantida e a espécie sobreviva e evolua. Os machos lutam entre si, usam de “ferramentas” como cor e tamanho, para se evidenciarem e mostrarem que são os melhores para dar continuidade à espécie, de formas a que as fêmeas os acolham ou os escolham, cumprindo a sua divina função, a do gerar. Em tudo isto existe um profundo e divino trabalho de escolha, de lógica, de sentido prático, algo que está ligado ao grande trabalho do Signo de Virgem.
Virgem é o sexto signo do Zodíaco e com ele cumprimos metade do ciclo zodiacal. Signo de Terra no seu modo Mutável, ele representa o final do Verão, tempo em os frutos já foram alimentados com a vida e os nutrientes, em que os cereais, pesados, curvam-se, esperando serem ceifados. Como bom signo mutável, é o tempo de ajustar a energia e preparar para uma nova estação, um novo ciclo dentro de um ciclo. Então, há trabalho a fazer, e não há signo mais preparado para isso do que Virgem. Se houve um tempo para plantar e para cuidar, também há um tempo, tão precioso e essencial, em que é preciso colher. Contudo, é preciso recordar-nos que a colheita não é apenas um simples acto de recolha, de ceifa e de vindima, é, na verdade, um acto sagrado, poderoso e essencial, em todo o seu processo.
Na verdade, o tempo do Signo de Virgem é aquele em que somos chamados a receber, em gratidão, em humildade profunda, o que a Terra nos dá, dando-lhe também algo em troca, permitindo e auxiliando um perpetuar dos sábios e sublimes ciclos da Mãe que nos acolhe. Dessa forma, com ela, podemos crescer, podemos elevar-nos. Todo o percurso feito tem um propósito, uma intenção, um sentido, que só pode ser compreendido quando aceitamos os ciclos na sua totalidade e entendemos que após o Verão surgirá um Outono e um Inverno, que darão, depois, início a um novo ciclo, mas que, agora, o tempo da Luz e da Vida, atinge o seu ponto final para dar lugar ao trabalho da Sombra e da Morte. Então é o tempo de nos prepararmos para esse momento e é nesse sentido que o trabalho de Virgem se torna essencial.
Em Virgem somos chamados a reconhecer que podemos compreender todas as nossas capacidades, reuni-las na dignificação da nossa Centelha Divina, mostrando-as ao mundo no seu esplendor, mas que não somos mais do que um Ego, um corpo estéril, se tal não tiver um sentido, um propósito, uma utilidade.
Nos tempos antigos, as colheitas eram verdadeiros rituais, onde todos os processos eram feitos de forma criteriosa, onde se celebrava a vida e a abundância, em gratidão profunda pela dádiva da Mãe Terra. Virgem, na sua essência, não nos direcciona para o sentido católico do termo, de castidade e pureza, muito conectada à sexualidade, mas sim à fertilidade única e soberana, à independência e a um enorme poder. Por isso, o símbolo do Signo de Virgem leva-nos a Deméter (Ceres na mitologia Romana), a deusa com a espiga de trigo na mão, cujo poder não era explícito como dos seus companheiros de Olimpo, mas que conseguiu curvar Zeus e Hades com a ameaça de não gerar mais alimento na Terra. Da mesma forma, Virgem é um signo de profundo poder, que advém, não dum trono ou de direitos adquiridos, mas sim das suas capacidades.
Em Virgem somos, precisamente, chamados a reconhecer que podemos compreender todas as nossas capacidades, reuni-las na dignificação da nossa Centelha Divina, mostrando-as ao mundo no seu esplendor, mas que não somos mais do que um Ego, um corpo estéril, se tal não tiver um sentido, um propósito, uma utilidade. Para tal, precisamos de trabalhar a profunda harmonia entre aquilo que é o Corpo, a Alma e o Espírito, não só os nossos próprios, como de tudo o que nos rodeia e de tudo o que existe. É nesse processo que compreendemos que a vida na Terra tem um crescimento, uma continuidade, que exige disciplina, foco, organização, porque o trabalho interior e exterior enriquece, não na matéria, mas sim na plenitude do nosso ser. Esse é o sentido de aperfeiçoamento tão presente no Signo de Virgem, que tão facilmente deriva negativamente para a crítica, para o perfeccionismo exacerbado.
Nos Signos anteriores trabalhámos a base de tudo aquilo que Virgem vai sintetizar e direccionar. O Espírito, encarnado num Corpo Físico através duma Alma, que sente, percepciona o mundo que o rodeia, pensa, aprende e expande o seu saber, vai aprender agora, através da energia de Virgem a aproveitar o que realmente é importante, a separar e a entender, a organizar e a dar um sentido e um propósito. Contudo, este trabalho não pode ser feito sob os moldes de um ego exacerbado ou excessivamente activo. Pelo contrário, ele pede que o saibamos colocar no lugar certo e entender que, na verdade, tudo na vida e na Terra tem um propósito e, da mesma forma, cada um de nós vem cumprir um serviço, uma missão, única e especial, mas essencial, reconhecendo o seu lugar na engrenagem do Universo, como uma formiga na perfeita organização de um formigueiro, onde todas sabem o seu papel e todas contribuem para um sentido maior.
Por isso, em Virgem vimos também aprender a humildade que a colocação ao serviço nos ensina, ainda que, paralelamente, precisemos de aprender também que estar ao serviço não é ser servil. Depois de a Terra, no seu esplendor, nos dar o alimento do nosso corpo, é preciso colhê-lo, sim, mas há mais, é preciso separar o trigo do joio, organizar, armazenar e prepararmo-nos para o tempo em que os recursos serão escassos. Só assim poderemos aguentar e viver o tempo do Inverno.
Só em humildade, crescendo e aperfeiçoando-nos, trabalhando profundamente em nós, direccionando a Centelha Divina e todas as capacidades únicas, que antes reconhecemos e descobrimos, para um propósito maior, para um sentido, poderemos atravessar a nossa sombra e, no caminho que se segue, elevar a nossa Luz. Recordemo-nos que é a espiga mais cheia que mais se curva em direcção ao chão, não aquela que se mantém bem voltada para cima. Da mesma forma, quanto maior o sentido da nossa Luz, mais é preciso voltarmo-nos para baixo, para a nossa Sombra, de forma a trabalhá-la, integrá-la e, assim, fazer o grande trabalho de aperfeiçoamento que Virgem nos pede.
Virgem sabe também que este é um trabalho contínuo, essencial e constante, o que faz com que, muitas vezes, fique fechado neste processo, esquecendo-se que a vida também pede celebração, alegria e Luz. Quando isto é esquecido ou posto de parte, entramos numa espiral de obsessão pela organização, pela perfeição, pelo correcto e pelo certo que nos leva a processos altamente compulsivos e autodestrutivos. O corpo é um veículo do Espírito e, como tal, ele é o sinalizador de tudo o que fazemos bem ou menos bem no nosso percurso.
Virgem é o signo que faz a conexão entre a consciência mental e o corpo físico, transpondo, através de somatização, o que a mente produz para uma manifestação na matéria. Quando a mente vibra em medos, preocupação e compulsões, o corpo físico absorve essa vibração que é desequilibrada, do ponto de vista da vivência do aqui e agora, da presença terrena e física, e dá-lhe a forma de doença. É ela que nos alerta que é preciso voltar a trabalhar a integração e a integridade, a equilibrar a crítica, a seriedade e a rectidão com a aceitação, a responsabilidade e a tolerância, de forma a voltar ao nosso centro.
O grande caminho de Virgem é o da Experiência, pois é ela que nos permite chegarmos ao Mestre que em nós habita. A experiência é um caminho doloroso para Virgem, um caminho que pede a vivência da aprendizagem em tudo o que ela significa, que pede a aceitação amorosa da queda, da falha, que não a vejamos como uma fatalidade, mas sim como algo que tem uma lição, algo que poderemos assimilar e aperfeiçoar. Só quando o fazemos poderemos tornar-nos melhor e isso, na verdade, é o grande propósito deste signo que, da matéria pretende chegar ao divino.
Mercúrio, o planeta da mente consciente, da linguagem e da aprendizagem, rege o signo de Virgem, dando-nos esta dimensão da lógica, da compreensão e da elevação da mente para além da colectora de informação que Gémeos activou. Em Virgem, a mente trabalha a informação experimentando-a, discriminando-a, sintetizando-a e organizando-a, algo que é muito facilmente ligado ao método científico, uma ordem dentro do caos que este signo tanto aprecia. É só assim que a informação se pode tornar conhecimento e caminhar para a sabedoria, através de todo este processo, mediado por Virgem que, na sua profunda dedicação, vai à exaustão do pormenor para que o erro, a falha, a imperfeição, sejam minimizados e, assim, a divina ordem que o Universo apresenta, em toda a sua dimensão, se possa manifestar plenamente.
Contudo, mais uma vez, é preciso fazê-lo em aceitação, de forma amorosa e em tolerância, ao mesmo tempo que o rigor e a crítica existem, pois se só estes últimos tiverem lugar no nosso percurso, nunca nos aperfeiçoaremos e seremos assoberbados pela sombra e consumidos pela autocensura e pela autocrítica, entrando em perniciosos processos de autodestruição. É o amor que tudo equilibra, tudo une e tudo eleva, e Virgem é, na verdade, um signo de profunda vivência de amor, pois só ele dá sentido ao serviço e à dedicação.
Virgem é, assim, o signo da transição, que nos transporta da descoberta e do trabalho no Eu para a dádiva aos outros, até à ascensão da nossa essência para um novo patamar. Contudo, para tal, precisamos de entender que tão importante como o farol é o faroleiro. Se o farol permite a orientação, a manifestação de um Espírito, e, como um Corpo que o contém, tem esse profundo propósito, ele nada é sem a sua Alma, o Faroleiro, aquele que se dedica à tarefa, ao compromisso, à devoção para com o seu trabalho, transformando-o num serviço, pois dentro de si há um sentido maior que precisa de ser aceite e respeitado, o do espírito, e que só quando nos permitimos harmonizar todas estas partes é que estamos verdadeiramente preparados para cumprir o desígnio que escolhemos para a nossa encarnação.