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Peixes – Retorno a Casa

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Todos os percursos, sem excepção, têm um momento de início, aquele em que damos o primeiro passo, aquele em que escolhemos e nos propomos a fazer um caminho que nos levará a atingir um determinado ponto. Passo após de passo, o caminho constrói-se, cria-se em cada momento, em cada escolha, em cada movimento, orientando-nos até ao seu final, aquele último passo que acumula todos os anteriores e nos posiciona num ponto extremamente importante, o da integração de tudo o que foi vivido. Quando percorremos um caminho nas nossas vidas, se estivermos conscientes dos passos dados, das escolhas feitas, se nos predispusermos a não ser meros observadores, mas sim a estarmos presentes nesse mesmo caminho, vamos entender que, naquele passo final, não somos quem éramos no início, não somos iguais, algo, ou tudo, mudou. Da mesma forma que o nosso sangue foi renovado, que houve células que morreram e outras que nasceram no nosso corpo, num simples percurso de um dia, também no nosso grande percurso pela vida, em cada desafio ou cada etapa, não somos iguais, parcelas de nós modificaram-se, integraram aprendizagens e conhecimentos, e prepararam-se para novos caminhos, novos desafios.

No caminho que o Zodíaco representa, em cada signo encontrámos uma etapa, uma aprendizagem, um degrau, que necessitámos de integrar a cada momento, nos seus ensinamentos, na sua sabedoria, na sua bondade profunda de nos entregar a sua energia e as suas dádivas. Este é o caminho do Espírito, dignificado pelo Sol, a primeira fonte de energia do nosso sistema e a primeira faísca de vida no nosso planeta. No seu percurso à volta do Sol, durante esta unidade de medida que chamamos ano, a Terra atravessa a energia de cada signo e nós, como representantes de um momento único e especial, uma ponte da dimensão Tempo sobre a tridimensionalidade que a Terra ainda vive, integramos, com maior ou menor consciência, cada uma das dádivas que este Universo tem para nós, o que nos permite subir na espiral de evolução que abraçámos que é a vida.

Quando chegamos ao final de um ano e atingimos o ponto de fecho deste percurso, temos a necessidade de voltarmos a nós mesmos, de integrarmos as aprendizagens que o ciclo nos trouxe, de preparar o novo tempo, o ciclo, que se segue. Esse é o papel deste estágio final do Inverno, onde as chuvas começam a cair mais fortes, onde as suas águas, aquelas que fluíram na Primavera, dos rios, dos gelos derretidos, que se encaminharam para os mares e, no calor do Verão, foram levadas para a atmosfera, retornam à terra para a alimentar, para dar às sementes que geraram as suas raízes o alimento que necessitam para quebrar a casca e se dirigirem para cima, rasgarem a terra e cumprirem o propósito da sua existência, assim como para que as árvores já residentes neste planeta, despidas das suas folhas, se recordem de quem são e do seu profundo papel neste sistema, preparando-se para o renascimento da vida em si mesmas, das novas folhas, das novas flores, dos novos frutos.

É neste tempo, em que o novo ciclo se prepara para surgir, em que a morte se prepara para ser nova vida, que cada parcela de energia nesta Terra se redimensiona em si mesma, que retorna a si para se rever em todo o percurso percorrido, que somos levados à profundidade de quem somos e do que nos une na totalidade da existência, não só em nós mesmos, mas com cada um dos seres que pertence a esse sistema. É neste tempo que activamos a energia de um dos mais profundos e desafiadores signos do Zodíaco, o Signo de Peixes, que nos coloca nessa perspectiva profunda e avassaladora, a do cumprimento da promessa de vida que o final do Outono nos fez, com o Signo de Sagitário, para a qual nos preparámos no final do Verão, com o Signo de Virgem, iniciada com tudo o que vimos e aprendemos, através do qual nos percepcionámos e entendemos, no final da Primavera, com o Signo de Gémeos. Chegados a Peixes, o caminho se encerra e é necessário retornarmos a nós e integrarmos todo o processo, cada aprendizagem e cada momento.

Peixes traz-nos a crise de compreendermos que, ainda que estejamos na Terra, somos parte de um Todo, que ainda que tenhamos um corpo e uma identidade, um ego que nos sustenta e nos preserva, estamos todos ligados, e isso faz com que sintamos tudo, pois somos a água que tudo regista e somos o oceano que contém mais do que se vê.

Peixes é o Signo Mutável do Elemento Água, o mar imenso e profundo, que é em si a paz, a calma e a serenidade, a sabedoria interior, o mistério e a fonte de toda a criação, ao mesmo tempo que é imprevisível, oculto, passional e destruidor, faces deste signo dual, representado por dois peixes que se movem em direcções opostas. Peixes é o oceano imenso, sem limite, sem início ou fim, cuja profundidade é perdida de vista, a representação terrena da imensidão existente em todo o Universo. Da mesma forma, se o Universo exterior é ilimitado, direccionando-nos para o desconhecido, o Oceano dirige-nos também para o nosso mundo interior, para o reino do subconsciente, do inconsciente, das camadas mais profundas do nosso ser, que, na sua maior parte, é uma incógnita, um mistério a revelar.

Em Peixes encerramos duas parcelas do ciclo zodiacal, para além do ciclo propriamente dito que é o próprio Zodíaco. É no último signo que fechamos a dimensão do Elemento Água e a integramos na matéria que a Terra nos oferece. Não esqueçamos que Peixes representa o final do Inverno, a última estação do ano, aquela que se iniciou no Solstício, com o Signo de Capricórnio, a integração do elemento Terra. Então, em Peixes o propósito é o de dignificarmos o Elemento Água, a fonte de toda a vida nesta dimensão. O Elemento Água é o elemento da vivência dos sentimentos e emoções, algo que tão bem nos define como seres humanos, que nos retira do instinto animal e nos dá Alma, mas que precisam de ser entendidas e vivenciadas no plano terreno, pois elas são o dimensionamento de algo maior, algo universal, o Amor.

No entanto, é na Terra que estamos e que nos propusemos a viver esta jornada e, por isso, é em Peixes que somos desafiados a integrar toda a aprendizagem dos sentimentos e das emoções, vividas em Caranguejo e em Escorpião, com a dimensão do nosso próprio Espírito, a noção de que é o Amor que nos une, que nos unifica, que nos cura e nos liberta, algo que podemos compreender com a regência de Júpiter deste Signo. Por isso Peixes é um signo tão complexo e profundo, pois ele é uma ponte entre o nosso Eu terreno e o nosso Eu divino, entre a dualidade e a unidade, entre o Eu individualizado e o Eu total. Isto é também a manifestação de outra parcela do percurso zodiacal que Peixes encerra, a dos signos mutáveis, as transições de estação, as pontes de aprendizagem (Gémeos), experiência (Virgem), conhecimento (Sagitário) e sabedoria (Peixes) que nos permitem, como patamares numa escada, integrar o percurso e direccionarmo-nos para uma nova etapa. Contudo, todos os signos mutáveis são signos que nos trazem crise, são as pontes entre os modos fixos e os cardinais e são eles que nos retiram do conforto e da segurança e nos empurram para o que é novo e diferente.

Peixes traz-nos a crise de compreendermos que, ainda que estejamos na Terra, somos parte de um Todo, que ainda que tenhamos um corpo e uma identidade, um ego que nos sustenta e nos preserva, estamos todos ligados, e isso faz com que sintamos tudo, pois somos a água que tudo regista e somos o oceano que contém mais do que se vê. Este sentir não é o sentimento percepcionado ou a emoção profunda, é uma diluição, uma entrega total e absoluta, uma conexão de espírito para espírito, que tanto se dá entre humanos, como também se projecta para animais, plantas ou toda a vida “invisível”. Se esta ligação é mais pacífica, de alguma forma, com seres cuja existência é totalmente espiritual, como os animais ou as plantas, ela pode ser muito desafiadora com uma existência consciente, suportada por um ego, como somos nós, humanos, permeável a todas as emoções que a nossa existência contém em si. Para além disso, a existência humana implica a dolorosa experiência da matéria na sua forte densidade, algo que torna as emoções muito intensas e até violentas e que activa em Peixes a consciência dum sentido superior das suas acções, que eleva a colocação ao serviço, trabalhada em Virgem, seu signo complementar, para uma dádiva espiritual. No entanto, se tal não for devidamente trabalhado, este sentido superior, esta profunda dádiva, transforma-se em diluição, apagamento e profundo sofrimento.

Estátua de Júpiter de Smyrna (séc. II a.C.) – Museu do Louvre

Peixes é regido por Júpiter e por Neptuno, duas visões diferentes duma mesma energia. Júpiter mostra-nos um lado de busca pelo desconhecido, pela conexão divina, pela descoberta de Deus, uma faceta tão visível na energia deste signo, que procura sempre algo que está para além de si mesmo. Para isso é essencial a vivência do outro regente, Neptuno, que impulsiona essa busca através da conexão com a profundeza do ser, da natureza humana, do conhecimento de si próprio como parte de um Todo. No fundo, em Peixes, buscamos essa identidade superior, que só pode ser feita de forma correcta se o trabalho anterior, em Aquário, for bem-sucedido. Se soubermos quem somos, se tivermos consciência da nossa individualidade, esta busca duma consciência superior, duma conexão com o Todo, transforma-se numa devoção pela beleza do Espírito no seu processo de encarnação terrena, extraindo toda uma sabedoria que ultrapassa tempo e espaço, levando à verdadeira união, àquela que nos permite vivermos em compaixão, auxílio e entrega.

No entanto, tal não é fácil e, se não temos a consciência da nossa individualidade, esta necessidade de conexão com um Todo leva-nos às profundezas do nosso oceano, ao lado mais sombrio da nossa existência humana, aos monstros marinhos que nos absorvem e nos consomem, desligando-nos da compreensão da importância da encarnação. É fácil, então, recusarmos a existência terrena, desconectarmo-nos do seu sentido, isolarmo-nos e perdermo-nos. Isso leva-nos, invariavelmente, a procurar uma identidade superior, um ponto de conexão com o Todo, algo que, sem nos reconhecermos como Unos, como indivíduos, sem termos o trabalho de Aquário feito, pode facilmente dirigir-nos a lados profundos e inconscientes de nós mesmos, e até mesmo à anulação da nossa essência.

Contudo, não podemos ignorar que há uma beleza profunda na energia de Peixes, a da sua sensibilidade absoluta, onde os nossos sentidos estão mais alerta, onde a conexão com o mundo que nos rodeia fica mais elevada e sentimos uma maior necessidade de nos colocarmos no lugar do outro. Esta é uma forma de reconhecermos a sua divindade e, dessa maneira, compreendermos também a nossa. O oceano é um enorme espelho que contém em si o nosso inconsciente e, em Peixes, sabemos que o outro é uma parcela subtil de nós mesmos, muitas vezes do nosso próprio sofrimento, dor e sacrifício. Saber distanciar o que é nosso do que é do outro nem sempre é fácil na energia deste signo, pois tal vivência implica a compreensão de algo maior, da nossa verdadeira e subtil Centelha Divina, implica a compreensão do sagrado ofício que é a vida e o estender a mão ao outro, no divino acto da caridade, a verdadeira, focada e baseada no amor profundo, na dádiva incondicional, muitas vezes anónima, mas sempre sem interesse outro que o bem-estar daqueles que auxiliamos.

Quando não o sabemos fazer, perdemos a noção que a vivência na matéria nos ensina, a do limite e da responsabilidade, e esse sacro-ofício transforma-se na vivência da dor do outro, na diluição com o sofrimento que rodeia e com o desligamento da nossa própria vida, algo tão presente nesta energia, quando mal trabalhada. De nada serve sermos a muleta do outro se não temos capacidade para andar pelos nossos próprios pés, e ainda que possamos auxiliar, iremos maltratar-nos, pois não temos a sabedoria de Espírito para tal dádiva, a sabedoria dos grandes Mestres. Por isso, Peixes é um signo de tão difícil vivência e compreensão, esguio e distante, mas, ao mesmo tempo, envolvente e compassivo, dedicado e profundamente emocional. Na verdade, em Peixes somos levados a mergulhar na profundidade do nosso ser, aprendendo a aceitação, a entrega, não aos outros, mas a nós mesmos, na busca pela elevação da nossa Alma, reconhecendo a partícula crística que está e existe em cada um de nós, e tal só pode ser feito quando compreendemos uma máxima que a Madre Teresa de Calcutá, que não era do Signo de Peixes, mas sim do seu complementar, Virgem, nos deixou e que tão bem espelha esta verdade, a de que somos apenas uma gota no oceano, mas que, sem cada um de nós, o oceano não é igual e seria menor.

O propósito supremo da existência humana é o cumprimento de um sentir que nos acompanha desde o primeiro momento da nossa existência consciente, o da necessidade de voltarmos a Casa, à nossa origem, não a terrena, mas sim a espiritual, a de nos reconectarmos com a nossa Essência cósmica, aquela que unifica todos os Seres, a Fonte, o Pai, Deus. Como qualquer caminho, o propósito da nossa existência é, sem dúvida, esse mesmo retorno a Casa, o sair da roda de Samsara, do ciclo das encarnações terrenas, libertando-nos da aprendizagem da matéria e elevando-nos num caminho mais subtil, mais leve. No entanto, retornar a casa implica a aprendizagem tornada conhecimento, vivida pela experiência para se dimensionar em profunda sabedoria. Para nos elevarmos de tal forma é preciso sermos Mestres na arte da vivência na Terra, integrando todo o seu saber na nossa consciência como espíritos, aceitando que o limite da matéria não é um castigo, mas sim uma bênção, que o percurso neste plano é um profundo burilar, um estrondoso lapidar do diamante que é a nossa Centelha para que, ao retornarmos, possamos fazê-lo transformados e aprimorados, para que não sejamos apenas reflexos do nosso espírito, mas sim a sua totalidade integrada num profundo percurso de ascensão.

Peixes é, por isso, o pedido da nossa Alma a uma entrega profunda, uma dádiva de amor pleno e subtil a todos os seres que nos rodeiam, irmãos no nosso percurso, perfeitos na sua imperfeição, que precisamos de amar pelo que são, pela profunda conexão que sentimos com cada um deles, ao mesmo tempo que o fazemos com todos ao mesmo tempo, reconhecendo-os como partículas dum Todo ao qual também pertencemos. Assim vivemos em profunda e consciente devoção, em fé e dádiva, sem diluição ou anulação, integrada e vivenciada num sublime sentido maior para com tudo e todas as coisas, na mesma proporção que o fazemos para connosco. Desta forma poderemos fazer o caminho de retorno à nossa verdadeira Casa, com a consciência profunda, física, emocional, mental e espiritual dum percurso feito, o grande sentido da compleição que nos permite a unificação da elevação da nossa Centelha Divina com o Todo, a Fonte, compreendendo que não somos apenas parte dele, mas sim seus dignos e especiais representantes.

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