A vida é um caminho, uma jornada, uma busca pela plenitude de quem nos propusemos ser enquanto Almas no plano terreno como forma de crescimento e evolução. Cada um de nós, na definição deste caminho, escolhe o tempo e o momento que, neste sistema em que estamos integrados, tem as condições necessárias e perfeitas para o cumprimento da sua missão. Então, naquele momento, dá-se o nosso nascimento, o momento em que nos abrimos à consciência do nosso caminho.
A partir do momento em que nascemos, o caminho está definido e dimensionado no tempo, permitindo-nos ter acesso a essa informação a qualquer altura, integrando o passado ou o futuro no presente. Podemos pensar que existe nesta ideia um pré-determinismo que nos retira todo e qualquer poder ou livre-arbítrio, mas tal não é verdade, pois o que temos disponível, na verdade, são caminhos, janelas energéticas, processos e desafios, não acontecimentos concretos nem predefinições de qualquer natureza.
No entanto, o ser humano tem uma certa dificuldade em lidar com o que não consegue controlar, com o que não domina ou com o que pode vir a acontecer, o que faz com que, em momentos mais desafiadores, não só em termos individuais, como também globais, o ego, o nosso poderoso mecanismo de sobrevivência, dispare um conjunto de processos. Esta questão revela-nos também um ponto muito importante do comportamento humano, o de ser mais reactivo do que proactivo, o que leva a entrar com muita facilidade em processos de medo, ansiedade e desespero, buscando então soluções, por norma, urgentes.
Não podemos controlar o que nos acontece, na sua forma concreta. Podemos, sem dúvida, ter uma orientação de caminho, luzes que se abrem sobre a compreensão do nosso propósito, dando-nos uma visão diferente sobre os passos que necessitamos de dar no percurso da nossa vida, mas não temos controle algum sobre o que nos acontece. No entanto, podemos dominar a nossa forma de actuar sobre isso, podemos mudar o nosso comportamento, mas, para tal, necessitamos de fazer um trabalho prévio, essencial e crucial, o de nos conhecermos a nós mesmos.
Maior parte das vezes, o que acontece é que, apanhados pelas situações que nos ocorrem, sem qualquer, ou com pouco trabalho interno feito, queremos soluções rápidas, queremos panaceias milagrosas, esquecendo que tudo o que nos acontece tem um sentido e um propósito, construído ao longo de anos e anos, muitas vezes até de vidas. Na verdade, esquecemo-nos até que, por muito difíceis que sejam as situações, elas fazem parte dum plano de crescimento, que nos pede uma acção, sim, escolhas e processos. No entanto, perante um problema que se desenha, que cresce e se torna incomportável, a nossa natureza é querer, apenas, uma solução, algo que o faça parar.
Quando os tempos, como aqueles que vivemos, são repletos de desafios, de destruturações e reajustes, muitos deles dolorosos e profundos, quando algo se sucede, há um conjunto de alertas que disparam, de medos e receios, de dúvidas e anseios, que nos levam a querer imediatamente resolver a questão, a controlar todos os factores, a colocar as peças nos locais que achamos que são os correctos. Então, entramos em estado de emergência, centrando-nos no nosso problema, mergulhando nele, deixando-nos dominar por ele.
Isto revela-nos que, maior parte das vezes, vivemos em estado de reacção, não entendendo nem nos debruçando sobre o nosso caminho, esperando que muitas das sensações e sinais que vamos tendo antecipadamente sejam coisas da nossa cabeça, se resolvam por elas mesmas, desapareçam ou se diluam no tempo. Contudo, é o ignorar dos sinais que nos são dados, fruto duma falta de estarmos centrados em nós mesmos, de vivermos nas redondezas da nossa própria vida, focados no outro, que faz com que o impacto das coisas que nos chegam seja muito maior do que a realidade.
Quando não estamos centrados em nós mesmos, quando não trabalhamos para nos conhecermos melhor, para vivermos melhor a nossa vida, tudo o que nos sucede passa a ser visto do exterior, tornamo-nos vítimas das circunstâncias. Nessa sintonia (ou na falta dela), tornamo-nos totalmente reactivos, com a agravante de que, muitas vezes, esse mesmo comportamento só se activa quando já estamos mesmo no limite, fazendo com que sejamos movidos por desespero e ansiedade, muitas vezes levados ao extremo, perdendo a total noção e consciência do nos está a ser oferecido como aprendizagem, crescimento e evolução, em cada situação, nomeadamente nas mais complexas e desafiadoras.
Sim, os tempos em que vivemos são tão profundamente desafiadores que muitos de nós se sentem no meio de tempestades avassaladoras, assoberbados por uma quantidade gigantesca de acontecimentos e informação, sem a saber gerir, sem sequer ter a capacidade de a olhar, muitas vezes, de frente. Psicológica, mental e, acima de tudo, emocionalmente, estamos a ser desafiados, a ser retirados das nossas zonas de conforto, e isso leva-nos a perder o controlo daquilo que (achávamos nós) antes conseguíamos manter nos sítios que considerávamos certos.
É aqui que surgem as muitas urgências e emergências, as necessidades absolutas de respostas e soluções rápidas e quase milagrosas, a manifestação de uma postura reactiva que nos define muito nos tempos em que vivemos e que tantos problemas nos está a trazer. Temos a ânsia de controlar tudo, de ter nas nossas mãos o controlo de cada pormenor das nossas vidas, até inventámos mecanismos, aplicações, softwares, para o fazer, para podermos ter acesso a tudo ao segundo, mas não percebemos que, nessa obsessão, perdemos a capacidade de viver, de aprender, de receber o que a vida nos dá e permitirmo-nos também ser guiados. Sobrevivemos e alimentamos esses padrões, acabamos por resolver a questão naquele momento, mas, mais cedo ou mais tarde, ela irá voltar, mais forte e poderosa.
Então, é necessário percebermos que o que nos está a ser pedido é para quebrarmos padrões reactivos e de sobrevivência, aprendermos a deixar a vida fazer a sua parte e permitirmo-nos, no meio das tempestades que nos são trazidas, ser como a árvore que, perante os ventos fortes, que sabe que não pode controlar, sustenta-se pelas suas raízes e não se preocupa com as folhas e os ramos que pode perder. O que a árvore sabe, na sua sabedoria ancestral, é que, muitas vezes, é aquela tempestade que a vai ajudar a libertar-se daquelas folhas mais difíceis de cair, dos ramos secos que não se quebram sozinhos. Dessa forma, a tempestade, que parecia o fim da árvore, na verdade, é quem lhe dará, no tempo certo, uma nova vida.