Existem dias que ultrapassam o tempo que nele vivemos, que são verdadeiras pontes para novos tempos, e o dia de hoje, sem dúvida, é um desses dias, tão profundos e especiais, que a energia que nele está contida quase se consegue tocar. Se este ano está a ser forte, a Lua Cheia de hoje, no eixo Touro-Escorpião, em perfeita conexão com o grande revolucionário do nosso sistema, Úrano, no seu movimento retrógrado, traz-nos uma chave profunda para os tempos que se avizinham.
O eixo zodiacal que conecta Touro e Escorpião é a ponte entre a vida e a morte. Existir e Ser são duas coisas bem diferentes. Para Sermos verdadeira Nós, é preciso de passar pelo crivo da iniciação, a morte para nós mesmos, dos velhos hábitos e padrões, do velho “normal”, para a exaltação da Centelha de Luz que nos habita, para a manifestação plena dessa partícula de Deus que reside em cada um de nós, que nos mostra que somos esse pó de estrelas, parte do divino que nos rodeia e que tudo permeia.
Nós somos Deus e Deus está em nós, não no sentido religioso, mas sim no sentido do divino, essa manifestação que Úrano nos oferece. Contudo, neste dia tão especial, Úrano liga-se à Lua Cheia, a Lua que se alinha em perfeita harmonia com a Terra e reflecte a pureza do Sol, a plenitude do Espírito. Nessa conexão íntima entre Lua e Úrano, no seu movimento retrógrado, há uma força que nos impele a quebrar as velhas estruturas, a libertarmo-nos dos padrões de segurança e de conforto para gerarmos nova vida em nós, pois esse é o grande sentido de tudo o que estamos a viver e a experienciar com este momento tão difícil e especial aqui na Terra.
Na mitologia, Úrano une-se a Gaia, a Terra, para gerar nova vida, vida única. Úrano não reconhece os seus filhos e rejeita-os, atirando-os para Gaia, que sofre, até vir Saturno e libertar a mãe do seu sofrimento, através da castração do pai. Nos nossos céus, Saturno segue aliado com os seus dois filhos, Plutão e Júpiter, revendo e transformando as estruturas, levantando pedras, rasgando véus, trazendo ao de cima tudo o que precisa de ser visto. Enquanto isso, Úrano, no signo de Touro, o signo da Terra fértil, rasga o solo para que novas sementes possam ser plantadas, e é isso que esta Lua Cheia nos oferece, pois ela é sempre o colher de algo que permitirá alimentar os tempos seguintes, adubar a terra e preparar a nova sementeira.
Há sensivelmente seis meses vivíamos a Lua Nova de Touro e estávamos quase no final de Abril, já a viver todo o processo que ainda continua (e que ainda vai continuar), em confinamento total, com chaves e lições fortes e aprendizagens profundas disponíveis para fazermos, essenciais para os meses que viriam pela frente. Esses meses passaram, esse tempo chegou, e o que havia para aprender, para ver, para decidir, está feito. Agora, claro, novas escolhas poderão e deverão ser feitas, mas há que colher os frutos do que foi decidido atrás, e esta é a maravilha que a Terra e a Vida nos ensinam, presente em tudo na natureza.
Para haver vida é preciso haver morte, pois uma existe em conexão profunda com a outra. Em cada momento, independentemente das escolhas que tenhamos feito no passado, podemos fazer novas, podemos plantar novas sementes, podemos escolher novos caminhos. Na Terra, a natureza renova-se a cada instante, mesmo depois de grandes catástrofes, readaptando-se, reajustando-se, renascendo. Contudo, é sempre preciso assumir o que ficou para trás, responsabilizarmo-nos pelo que foi gerado antes e, à boa maneira de Escorpião, transformar, morrer, sacrificar, pois só dessa forma poderá haver renascimento, quando conseguimos tornar o que apodrece em alimento para a nova vida, tal como a natureza faz.
Hoje, Lua Cheia de Touro, dia de celebração do Samhain (o Halloween), o véu entre os mundos é muito ténue, quase rarefeito. O mundo visível e o mundo invisível, o dos vivos e o dos mortos, confunde-se, toca-se, o que nos tempos que vivemos é muito intenso e, até pesado. Vivemos tempos de desencarnes colectivos, sejam pela pandemia, por doenças que estão para lá da pandemia, por catástrofes naturais ou por medo; vivemos tempos em que lidamos com a morte todos os dias, pois tornou-se imperativo valorizar a vida, a verdadeira vida.
Hoje não é um dia de tristeza, de medo ou de pessimismo, mas sim de celebração. Ao contrário da nossa tradição ocidental, que olha a morte como uma perda insubstituível, este é o momento de honrar esse grande processo e agradecer àqueles que foram antes de nós por tudo o que nos deram, que nos ofereceram. Sem eles, não existiríamos, não seríamos nós, especialmente aqueles que são a nossa ancestralidade, as nossas raízes. No entanto, se pensarmos bem, vamos ver que todos estamos, na verdade, interligados, todos partilhamos ADN, todos provimos, na verdade, da mesma fonte: somos todos Humanos.
É essa Humanidade, com a força de Aquário que nos estará a ser trazida nos próximos tempos, que precisamos de recuperar. Quando a Lua Nova de Touro se deu, Saturno já estava em Aquário, não muito longe de onde estará no Solstício de Inverno de 2020, conjunto a Júpiter, dando início a um renovar de ciclo, a uma nova vibração. Aquário, na sua íntima ligação com Úrano, pede-nos o reconhecimento da nossa humanidade, a vivência profunda em comunidade, a partilha. Com Úrano em Touro, o que nos é pedido é a partilha de valor, de vida, o autocuidado, sem dúvida, mas também o cuidar dos outros, algo que não é feito por dádivas, mas sim por responsabilidade, por consciência.
Esta Lua Cheia de Touro é uma enorme e fortíssima ponte, um caminho para um novo tempo que irá chegar, independentemente de estarmos, ou não, preparados para ele. Não existe caminho mais forte e profundo que o da morte, não a física, mas a simbólica, a que nos transporta para lá dos limites da matéria e nos mostra o que realmente é valioso, o que realmente é importante, a profunda aprendizagem de Touro.
O processo é interno, tem de partir de dentro de cada um de nós, não pode ser feito pelos outros, pelos governos ou seja por quem for, e é isso que Úrano retrógrado, na ligação com a Lua Cheia, nos pede. Este é o momento de viver o perdão, com Quíron retrógrado, em Carneiro, oposto a Vénus em Balança, ambos profundamente isolados no céu. Este é o tempo do perdão, não especialmente aos outros, mas, acima de tudo, a nós mesmos. Este é o tempo de curar feridas, de olharmos para nós e compreendermos como respeitamos e amamos os outros, em que é que somos egoístas e autocentrados, mas também no que nos anulamos em função dos outros, apenas em busca de migalhas de carinho e aceitação.
Esta Lua Cheia de Touro é uma enorme e fortíssima ponte, um caminho para um novo tempo que irá chegar, independentemente de estarmos, ou não, preparados para ele. Não existe caminho mais forte e profundo que o da morte, não a física, mas a simbólica, a que nos transporta para lá dos limites da matéria e nos mostra o que realmente é valioso, o que realmente é importante, a profunda aprendizagem de Touro. Enquanto continuarmos a dar, como tem vindo em muitas notícias e reportagens, não só sobre a pandemia, mas também sobre as decisões governamentais ou sobre as eleições norte-americanas, mais importância ao dinheiro, à economia, aos mercados financeiros, que à vida, que à saúde, que ao bem-estar, não conseguiremos ser plenamente humanos, apenas continuaremos a existir, a vaguear, até à nossa extinção. Isto não significa esquecer a economia ou as finanças, significa sim encontrar, fazer esse esforço, tão fulcral como o de encontrar uma vacina ou um tratamento, um ponto de equilíbrio.
É por isso que, por estes dias, o tempo parece mais lento, mais denso, mais profundo. O ar está mais pesado, e não é por andarmos de máscaras, pois essas carregamos desde o início das nossas vidas e nunca nos queixámos delas. É agora o momento de nos voltarmos para dentro, de olharmos para o nosso coração, de desacelerar mais um pouco, mas não parar, até porque a roda da vida não pára, e ouvirmo-nos, assim como à natureza que nos rodeia, ao planeta que habitamos e que tanto precisa de nós. Hoje é o dia de nos reconectarmos com a vida que existe para lá de nós, antes de nós, depois de nós, sairmos do nosso umbigo e percebermos que nas mãos de cada um de nós está a responsabilidade de deixar um legado melhor que aquele que recebemos, de tornar o mundo mais justo, mais belo, mais valioso. Hoje é o dia de celebrar os ciclos da vida e nos colocarmos no lugar certo, no nosso próprio lugar e espaço, no centro de nós mesmos, de forma a sabermos em que direcção da ponte queremos caminhar.