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Liberdade, Responsabilidade, Humanidade

20210228liberdaderesponsabilidadehumanidade

Nelson Mandela, entre o maravilhoso legado que nos construiu, deixou-nos na sua autobiografia, uma frase que gosto peculiarmente: “Ser livre não é apenas libertarmo-nos das correntes que nos aprisionam, mas também viver de uma forma que respeite e valorize a liberdade dos outros.”

Um dos tópicos que mais tem povoado a minha mente nos últimos tempos, nas últimas semanas, principalmente, tem a ver exactamente com esta questão da liberdade, os seus tão profundos e importantes contornos, a sua fragilidade. Num tempo onde tantos reclamam duma suposta perda das suas liberdades, é preciso mergulhar neste tema e compreender o que ele representa e se, realmente, estamos a perder alguma coisa ou se, na verdade, apenas está a ser trazido ao de cima um conjunto de questões que há muito tempo existem em nós, do ponto de vista individual, mas também colectivo.

A liberdade é um tema que tem uma correspondência muito precisa no Zodíaco, especificamente com o signo de Sagitário, o signo da fé, da crença, do que nos eleva no sentido de tocar o divino, que nos coloca em contacto com ele através daquilo que é o nosso fogo sagrado. Sagitário é o signo da transição dum enorme processo de construção e desconstrução do nosso eu, o primeiro signo que nos transporta para uma fase de atingirmos o mais elevado de nós mesmos, a mente abstracta, pensadora, criadora, a mente social. É neste signo que, após a morte de Escorpião, ressuscitamos, libertos das amarras da matéria, mas nela permanecendo.

Assim, a liberdade que Sagitário nos fala não é uma materialização de nada, nem sequer um direito divino, mas sim um ideal, uma projecção, como a seta lançada pelo Centauro que busca o alvo para lá do que podemos alcançar fisicamente. No entanto, este conceito, esta ideia, não se pode ficar por aqui, sob pena de cairmos numa esparrela da nossa mente, uma noção errada de algo que é muito superior a apenas um pensamento ou uma sensação, criando uma ilusão, um mecanismo de fuga à realidade e construindo, na verdade, prisões muito maiores.

Este tópico é hoje tão importante, pois os Nodos Lunares, pontos virtuais que representam um caminho de evolução que está disponível para todos nós aqui na Terra, estão a transitar, desde Maio de 2020, e até aos primeiros dias de 2022, no eixo entre Gémeos e Sagitário, signos complementares que nos falam da mente nas suas duas dimensões de base, a concreta e a abstracta, a que recolhe informação e se alarga até à obtenção de conhecimento. A verdade, um tema também muito sagitariano, é proporcional à dimensão da minha mente. Quanto maior é o meu mundo intelectual, maior é a dimensão das “verdades” que posso atingir e compreender. O problema é que, nos últimos anos, o nosso mundo mental, concreto, da inteligência e do pensamento, diminuiu, fechado em ecrãs de computadores, tablets e telemóveis, com informação a cair a cada segundo, estimulando apenas uma necessidade imediata, um fast-food, como tantas vezes digo, e não um trabalho profundo e concreto sobre o que nos chega.

Neste tubo de ensaio que temos vivido, encontramos os medos que nos habitam, os mecanismos de controlo, os auto-boicotes, as crenças limitadoras, as feridas que pedem para ser trabalhadas e, em última instância, curadas.

A Verdade, promotora da Liberdade, está assim condicionada à forma como olhamos para tudo, como processamos a informação que nos chega, como sobre ela pensamos, nomeadamente do ponto de vista crítico, processo essencial para atingirmos o conhecimento e, por fim, a sabedoria, transposição profunda, emocional, de alma, de tudo o que a nossa mente recolhe e produz, para uma compreensão espiritual. Este ciclo, que no Zodíaco nos é traduzido pelos signos mutáveis – Gémeos, Virgem, Sagitário e Peixes –, é um processo crucial, pois é ele que nos permite sair duma estrutura construída para uma elevação, para um novo Eu.

Quando os Nodos Lunares transitam no eixo entre Sagitário e Gémeos, somos chamados a questionar as nossas verdades, a rever a forma como processámos esta suposta liberdade que foi adquirida ou, simplesmente, herdada, que tomámos como garantida e que, de repente, devido a algo do mundo real, concreto, da matéria, é, aparentemente, posta em causa. É curioso percebermos os paralelismos e as sincronicidades que tão bem os ciclos astrológicos nos mostram, e compreendermos que vivemos algo muito semelhante, embora muito mais intenso, ao que foi vivido do final de 2001 até Abril de 2003, um mundo transformado e revolucionado por um acontecimento catastrófico, um golpe de morte no coração do mundo estruturado, o ataque às Torres Gémeas, a 11 de Setembro de 2001, que levou a uma mudança de processos, a restrições e a perdas de liberdades, de alguma forma.

Voltando ao início, se liberdade é, sem dúvida, um tema que encontramos reflexo no signo de Sagitário, também é necessário compreender que o Zodíaco não acaba nesta energia, o que significa que há ainda um caminho a percorrer. Depois de Sagitário vem Capricórnio, um signo profundamente trabalhado nos últimos, que nos recorda que o conceito da liberdade tem de ser trazido para o mundo real, concreto, e que tal só pode ser vivido através da responsabilidade. Quanto maior a nossa liberdade, maior a nossa responsabilidade, e o contrário também é verdadeiro.

No entanto, quando olhamos para o mundo que nos rodeia, vemos um enorme pedido de liberdade, mas sem a compreensão das responsabilidades que isso implica, o que leva a uma deturpação desta energia tão bela. Sentimo-nos presos, não porque estejamos numa cela física (na verdade, muitas vezes podemos encontrar pessoas bem mais livres dentro de celas do que “cá fora”), não porque estejamos acorrentados fisicamente, mas sim porque fomos projectados para dentro de nós e encontrámos, nos últimos meses, muitas das nossas sombras, dos nossos medos, das prisões que verdadeiramente nos encerram, que não estão fora, mas sim dentro de cada um de nós.

Quando estamos mais tempo connosco, quando muitas das nossas fugas, dos nossos “ocupares de tempo”, deixam de ser possíveis de se realizarem e concretizarem, temos a oportunidade de conviver com os inquilinos que vivem em nós. Neste tubo de ensaio que temos vivido, encontramos os medos que nos habitam, os mecanismos de controlo, os auto-boicotes, as crenças limitadoras, as feridas que pedem para ser trabalhadas e, em última instância, curadas. De repente, todos nos povoam, todos nos absorvem, mexendo nas nossas entranhas e, por fim, fazer como o azeite em água, trazer ao de cima o que precisa de ser visto. É este o grande trabalho que Plutão tem estado a fazer em Capricórnio, desde 2008, confrontar-nos com o inferno que existe dentro de cada um de nós e, principalmente, com aquele que alimentámos do ponto de vista global.

Ao longo dos últimos anos desresponsabilizámo-nos de muito do que há do ponto de vista comunitário, social e humanitário. Sem dúvida que, como nunca, há uma mobilização de apoio a quem mais precisa, de consciência dos problemas sociais, dos problemas ambientais, de um conjunto de coisas que estão mais visíveis e que são questões reais e muito importantes. Ainda bem que existe esta mobilização e esta consciência exterior, sem dúvida, mas falta a consciência interna, o colocarmo-nos em causa, o cuidar do que é nosso, começando por nós mesmos, de forma a podermos fazer esse trabalho com os que nos rodeiam e, em última instância, levar ao outro o melhor de nós mesmos. Ainda que exista muita desta consciência global, continua a haver uma desresponsabilização pelo funcionamento da sociedade, entregando isso aos governos, eleitos por uma parcela, tantas vezes pouco significativa, dos cidadãos. Contudo, depois vemos a culpabilização desses mesmos governos, esquecendo-nos que a nossa não atitude é, em si mesma, uma escolha, que quando não assumimos o nosso lugar no xadrez que é o mundo, a sociedade, a comunidade, outros vão assumi-lo. Isto é válido numa perspectiva social, governamental, mas também o é em relação aos nossos trabalhos, às nossas famílias, às nossas relações, a tudo o que nos rodeia.

A liberdade implica responsabilidade e só dessa maneira conseguimos ser verdadeiramente humanos. Sagitário lança a seta para o topo da montanha de Capricórnio, mas é só a partir de lá que compreendemos que existem muitas mais montanhas e que todas juntas formam uma serra, uma comunidade onde cada um de nós tem o seu lugar, a vibração profunda de Aquário. Se não vivemos em responsabilidade total, sobre nós e sobre a sociedade, não vamos ver a nossa montanha e vamo-nos comparar, vamos viver sob o medo de que alguém possa tomar o nosso lugar, que nos possa pisar, ultrapassar ou destruir, deixamos de ser humanos e passamos a ser espectros, tomados pela sombra do nosso ser, fechados no seu ego, em constante modo de sobrevivência. Nessa vibração, é fácil ficarmos permeáveis a ideias que não vamos sequer questionar, que vamos tomar porque nos vão parecer doces e sinceras. Vamos ouvir o que queremos ouvir, porque alguém percebeu, mesmo que intuitivamente, a nossa fragilidade, o nosso medo, e mostrou-se compassivo com a nossa situação, mas apenas por interesse de nos tornar servis, de o alimentar com a nossa energia, com o nosso próprio poder.

Todo este processo é compreendido quando olhamos a energia do Zodíaco de forma diferente, integrada e integrativa, transformadora e evolutiva. Se procuramos uma liberdade sem responsabilidade, vamos inverter a natureza da evolução da nossa energia, vamos voltar ao medo, ao nosso inferno, ainda que de forma diferente, e vamos dar o nosso poder, vamos inflamar o nosso ego e cegar a nossa verdade por via do fanatismo, das verdades absolutas, do radicalismo, da segregação. Alimentamos a eterna divisão entre o bom e o mau, o nós contra eles, polarizamos a nossa posição, reagindo ao que nos rodeia de forma descentrada, não compreendendo que, com isso, criamos mais reacção e que, em vez de construirmos, destruímos. Levantamos barreiras e muros, destruímos pontes, tudo porque deixamos de nos ver como parte de um todo, de compreender que a minha liberdade implica a liberdade de todos os que nos rodeiam, que quando olho apenas para o meu umbigo posso passar por cima de outros, mais necessitados e frágeis do que eu.

Candeeiro com Zodíaco - Jardim Botânico de Nova Iorque (Fotografia por @joulesstar via Twenty20)

Vemos isto muito presente no mundo de hoje, onde o cansaço de estarmos fechados leva a atitudes completamente irracionais de egoísmo e egocentrismo puro, onde procuramos as excepções para justificar a dificuldade que temos de estar connosco e com as nossas questões. Isto não significa seguir ordens cegamente, pois aí estamos a entrar no mesmo problema, ainda que num espectro oposto, mas sim que precisamos de nos tornar mais esclarecidos, sobre nós e sobre o mundo, para podermos questionar e ser parte efectiva da solução, não do problema. Quando não o fazemos, como temos visto um pouco por todo o mundo, e como vemos também em relação às questões das nossas próprias vidas, prolongamos o sofrimento, a restrição, o problema.

No fundo, é compreender que quando temos a noção que liberdade implica responsabilidade e que é essa conexão que promove a humanidade, elevamo-nos para lá de nós mesmos e permitimo-nos ser muito mais do que apenas nós. Este é o ciclo que leva a energia de Sagitário para Capricórnio, depois para Aquário, de forma a que possa desaguar em Peixes, a energia do fecho do ano Zodiacal, a integração das aprendizagens de um ciclo solar. Para fazermos isto, precisamos também de assimilar o que os signos complementares nos trazem e complementar com o restante trabalho do ciclo. Em Gémeos compreendamos a mente como criadora, que nos permite construirmos e nutrirmos as bases do nosso ser, algo que em Caranguejo é feito através da sensibilidade e dos sentimentos, dirigindo-nos para Leão, a manifestação do nosso brilho, da nossa Centelha Divina, aquela que nos é solicitada para colocarmos ao serviço, aquela que vamos dar para tornar o mundo que nos rodeia melhor, a pureza humilde da energia de Virgem iluminada.

Se não o fazemos neste sentido, subvertemos a energia e, alimentados pelo medo de simplesmente desaparecermos, manifestação negativada de Peixes, ainda que nem sequer, muitas vezes, compreendamos o que isso é, recusamos o nosso papel e sentimo-nos ostracizados, o extremo castrado de Aquário, e invocamos uma espécie de privilégio, o peso da sombra de Capricórnio. Assim, bradamos por uma liberdade que nem entendemos e isso leva-nos à destruição do nosso verdadeiro poder, uma manifestação corrompida da energia de Escorpião, que nos leva a olhar o outro e a vê-lo como um inimigo, quando ele apenas está a reflectir o que vivemos dentro de nós, a energia deturpada de Balança.

A seguir, é simples e ainda mais tortuoso, pois a energia de Virgem torna-se crítica, destrutiva e arrogante, inflamando uma energia de Leão que se diminui em altivez, em soberba, transformando-nos em vítimas, crianças fragilizadas e maltratadas, a energia de Caranguejo na sombra do seu potencial, levando a que a nossa mente, Gémeos, diminua e se feche. Isso faz disparar as nossas necessidades, carências, apegos e prisões à matéria, manifestadas pela energia de Touro deturpado, e, por fim, remetendo-nos à simples existência que Carneiro sem a sua luz nos traz, o primordial irracional e inumano que existe em cada um de nós, a impulsividade reactiva e autodestrutiva.

A viagem é a mesma, o caminho comporta sempre os mesmos estágios e etapas, mas a forma como o decidimos fazer é o que está nas nossas mãos. O caminho solar leva-nos de Carneiro para Peixes e mostra-nos que só obtemos a verdadeira liberdade quando conseguimos encontrar os cárceres e carrascos, as vítimas e agressores, que existem dentro de nós, que nos construíram, que alimentamos também, tantas vezes. Quando o fazemos, compreendemos a liberdade que nos coloca ao nível dos deuses, que é o elevar do nosso centro o fogo sagrado que nos habita, que nos coloca de pé e nos permite olhar para o céu. É essa percepção que nos dá a noção da responsabilidade de sermos nós mesmos e do mundo, da sociedade, da comunidade, do sistema, em que estamos inseridos.

Assim, abraçamos o desafio de sermos mais do que nós mesmos, de perceber que a nossa liberdade está sempre subjacente à liberdade do outro, que quando invadimos o espaço do outro estamos a comprometer a sua existência, por puro ego mal trabalhado, por puro medo. Ser livre é respeitar, amar, integrar o outro, da mesma forma como nos respeitamos, amamos e integramos em nós mesmos. Não podemos pedir algo que não concedemos e promovemos a nós mesmos, sob pena de vivermos numa ilusão e de nos deixarmos levar por manipuladores, por falsos profetas, que agitam bandeiras de verdades, mas não permitem o questionamento de forma alguma. A liberdade pede verdade, a verdade pede esclarecimento e o esclarecimento pede consciência, algo que só pode ser atingido por união entre a mente e o coração, numa vivência terrena, mas também numa integração espiritual.

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