Quando, no dia 12 de Março de 2013, Jorge Mario Bergoglio entrou nas portas da Capela Sistina para dar início ao Conclave que o elegeria como o 266º Papa, provavelmente, já teria uma perspectiva do que se sucederia menos de 24 horas depois. Contudo, se entre os Cardeais se desenhava uma tendência, para o resto do mundo a eleição de Bergoglio foi uma verdadeira surpresa. Certeza para uns, perplexidade para outros, a realidade é que, nesse instante, Jorge Mario Bergoglio deu os primeiros passos para se tornar, sem dúvida, numa das figuras que marca os primeiros 15 anos deste século, que, certamente, marcará muitos mais.
Aquele que hoje é o Papa Francisco nasceu no dia 17 de Dezembro de 1936, uma quinta-feira, às 21:00, em Buenos Aires, na Argentina, no seio de uma família humilde de imigrantes italianos. Sagitariano com Sol na Casa 6, a casa do trabalho e do serviço, e Ascendente Caranguejo, a vocação para cuidar daqueles que mais necessitam e merecem é-lhe algo inato. Manifestado por uma Lua, na Casa 7, em Aquário, regente do Ascendente e orientadora do seu caminho de vida, trazendo-lhe este sentido de cuidado e de orientação para algo maior que si mesmo é algo muito presente e importante na sua vida.
Como a Lua simboliza a energia da mãe no nosso mapa e dada a importância deste astro no seu mapa, a figura materna foi, com toda a certeza, uma das mais fortes influências na sua vida. No signo de Aquário, esta relação com a mãe é algo muito especial e único, compreendido apenas por ambos, que o Papa passa muito nas suas mensagens, quer através da protecção e da importância que dá às mães, quer através da ligação que tem com Maria, Mãe de Jesus. Recordem-se as suas palavras na Missa do primeiro dia de 2015, onde disse: “nenhuma criatura viu brilhar sobre si a face de Deus como Maria, que deu uma face humana ao Verbo eterno, para que todos nós O pudéssemos contemplar.”
O Papa Francisco é um homem de carácter forte, sério e recto, embora mantenha o ar descontraído, afável e divertido. O seu sentido de serviço é irrepreensível, com o Sol na Casa 6, a casa do trabalho e do serviço, em Sagitário, conjunto ao Nodo Norte e regido por um Júpiter em Capricórnio, também na Casa 6, ao qual está ligado em conjunção, partilhando da sua energia. Apesar de fazer tudo para se colocar ao serviço do que acredita, para si, nada disso faz sentido se não for feito com seriedade e entrega absoluta, com verdade e enfrentando todo e qualquer obstáculo. Acima de tudo, Francisco é um aguerrido diplomata, que sabe direccionar de forma perfeita a sua energia para a sua comunicação, ou não tivesse Marte em Balança na Casa 3, em harmonia perfeita, num grande trígono, com a Lua e Quíron. As suas palavras curam, resgatam e elevam o espírito.
Esta entrega ao que acredita, colocando na prática e assumindo uma missão, é o grande caminho cármico do Papa Francisco, com um Nodo Norte em Sagitário, conjunto ao Sol, mostrando que existe uma consciência muito profunda e concreta do seu propósito de vida, aprendendo com uma visão muito própria e ampla da questão espiritual. Embora seja um homem da Igreja, o Papa Francisco é, acima de tudo, um homem de Fé, um homem espiritual, que aceita e preconiza o contacto, a comunicação e a ligação entre as várias visões religiosas do mundo, compreendendo-as e aceitando-as, mas com o foco no conceito que acredita e defende. O Nodo Sul em Gémeos, na Casa 12, de onde provém carmicamente, é reflexo exactamente desta visão ampla e pluridisciplinar da vivência espiritual, mas também dum certo desprendimento, falta de foco e de compromisso, trazidos de experiências de vidas passadas, que criaram uma necessidade de aprendizagem sobre o seu próprio ser espiritual, uma ferida que, com toda a certeza, o Papa está a curar nestes anos de pontificado, pois está a assumir o seu verdadeiro propósito de serviço e de escolha da alma, o de orientar e guiar uma enorme instituição num sentido mais humano, mais próximo dos valores originais da Igreja, do Cristianismo. Algo que já demonstrou estar a fazer nos praticamente dois anos do seu pontificado.
Ao ingressar, com 21 anos, na Companhia de Jesus, o futuro Papa Francisco iniciou o longo caminho do propósito da sua vida. Nesse ano, em 1958, Saturno transita sobre o seu Nodo Norte e sobre o seu Sol, activando um fabuloso aspecto natal do mapa do futuro Papa, uma quadratura entre estes astros e um Neptuno. A Companhia de Jesus foi uma escolha natural, pois Neptuno, em Virgem, na Casa 2, preconiza exactamente a purificação e o sacrifício em relação ao mundo material e pede a focalização dos recursos materiais naqueles que mais dele necessitam, auxiliando os mais necessitados, uma das premissas Jesuítas e de São Francisco de Assis, que inspirou o seu nome papal. O desprendimento total deste Papa é também demonstrado por um Plutão em Caranguejo, na Casa 1, a casa do Eu, da personalidade, que traz uma enorme capacidade de ruptura e de entrega ao que acredita, que não se importa de quebrar com regras, normas e ordens para trazer ao concreto aquilo que sabe que é o necessário.
Francisco sabia que aquilo que a Igreja era até ao momento da sua eleição não poderia continuar a ser, ou não poderia cumprir a sua missão, nem ser fiel a si mesmo.
Na verdade, os planetas transpessoais são extraordinariamente reveladores no mapa do Papa Francisco. Úrano em Touro, em movimento retrógrado, na Casa 10, Neptuno em Virgem, na Casa 2 e Plutão em Caranguejo, também em movimento retrógrado, na Casa 1, mostram-nos uma faceta muito importante da personalidade deste homem, que traz uma ruptura com o instituído, uma nova visão de tudo em que coloca o seu coração, sem medo nem receio, mas com uma total consciência do seu poder e da sua capacidade. Apesar de ser uma das mais influentes e mais importantes personalidades da actualidade, ele sabe como direccionar essa energia, ainda que não se coíba de fazer seja o que for necessário para fazer valer o que acredita e o seu propósito, como foi o caso de, pessoalmente, ter mandado prender um ex-núncio apostólico no seguimento de investigações num caso de pedofilia.
Não podemos de todo esquecer também outro astro profundamente importante no mapa do Papa Francisco. Saturno em Peixes, na Casa 8, em oposição a Neptuno, quadratura a Quíron, trígono ao Ascendente e semi-quadratura ao Meio do Céu, é um planeta que facilmente seria esquecido numa personalidade tão querida de todos. Saturno, mestre da ordem e do rigor, que impõe limites, é também o grande regente da dedicação de Francisco aos outros. Estando em Peixes e na Casa 8, a sua entrega é indiscriminada e total, abraçando todos com um profundo amor pela mensagem de Cristo, transformando as vidas dos que toca. Quando olhamos para o Papa, vemos alguém que parece não ter limites na sua bondade, entrega e actuação, que abraça todos aqueles que, em diversos momentos da história da Igreja, foram de alguma forma discriminados, como as mães solteiras e transsexuais. Contudo, este Saturno é um verdadeiro mestre para o Papa Francisco, pois foi ele quem trouxe a grande aprendizagem feita ao longo da sua vida e que lhe permitiu, hoje, ser a pessoa que é, nomeadamente através de grandes processos de transformação pessoal e de aceitação do seu Eu e do mundo que o rodeia. Recordemo-nos das suas palavras, quando confrontado com a posição da Igreja perante a homossexualidade: “Quem sou eu para os julgar?”
O que torna Francisco uma das grandes personalidades deste início do século XXI? Acima de tudo, a capacidade de pegar numa instituição como a Igreja Católica, desgastada e desconectada da realidade do mundo actual, e lentamente operar mudanças na sua forma de estar, na sua mentalidade e na imagem que transmite. Isso foi visível logo no momento em que surgiu pela primeira vez como o novo Papa, na janela do balcão central da Basílica do Vaticano, assim como nas decisões tomadas nos dias seguintes, nomeadamente em coisas muito simples, como o vestuário, ou a ostentação rica que marcou os anteriores papas e que foi logo por si abandonada.
Compreender o que Jorge Mario Bergoglio está a viver, em termos astrológicos, neste período em que passa a ser conhecido como Papa Francisco, é compreender a sua importância para o mundo actual e o que este homem vem imprimir a uma realidade e aos desafios deste início de século. Olhando para os seus trânsitos e tendo como ponto de partida o momento em que se apresenta como Papa Francisco perante o mundo, podemos perceber alguns pontos que nos explicam facilmente o seu papel perante a Igreja e o impacto que logo teve na opinião pública.
A primeira evidência é a de que, no momento do anúncio, o Sol em trânsito está em oposição, embora já separativa (o alinhamento certo viveu-se dias antes, no dia 9), a Neptuno natal, mostrando que existiu um processo de consciência e aceitação por parte do Cardeal Bergoglio dum chamado, provavelmente o mais importante da sua vida. Cinco dias antes, horas antes do alinhamento entre Sol em trânsito e Neptuno natal, os Cardeais deliberaram, por unanimidade, antecipar o Conclave. Nessa mesma madrugada, o Cardeal vivia o seu retorno lunar, marcando a energia das semanas seguintes, com uma Lua na Casa 2, trazendo um novo sentido do seu Eu, e um Ascendente Sagitário, na Casa 5 natal do Cardeal, regido por um Júpiter em Gémeos, na Casa 8 do retorno, imprimindo uma energia de evidência desse mesmo Eu, da sua imagem e um verdadeiro prenúncio de transformação.
Sob a energia dessa lunação, poucas horas depois, o Sol alinhava-se com Marte e, cinco dias depois, ainda a partilharem essa energia, no momento do anúncio do novo Papa, a Lua, regente do Ascendente do Cardeal, posicionava-se na sua Casa 9 natal, em oposição ao seu Marte natal e ao Ascendente do momento. Um novo ciclo se abria para Jorge Mario Bergoglio com a Lua, importantíssima no seu mapa, a dominar novamente todo o ritmo da sua vida. A Lua no nosso mapa traz-nos o propósito da nossa alma, pelo que, ao estar em oposição ao Ascendente do momento e ao próprio Marte natal do novo Papa, ela demonstra-nos que este ser assumiu, naquele momento, uma função para a qual nunca imaginou estar preparado, que o afastaria de toda a sua realidade e vida normais, abnegando-se de si mesmo em prol de uma missão maior.
Talvez Bergoglio não se sentisse preparado para ser Papa, mas a realidade é que assumiu a função que sentiu que Deus lhe deu, não sem dor, ou sem sacrifício. Como ele mesmo disse antes do jantar, já após ter sido eleito, aos cardeais que o elegeram, “que Deus vos perdoe pelo que acabaram de fazer.” Francisco sabia que aquilo que a Igreja era até ao momento da sua eleição não poderia continuar a ser, ou não poderia cumprir a sua missão, nem ser fiel a si mesmo. Símbolo disso é precisamente esta Lua em trânsito na sua Casa 9, casa da fé, assim como Vénus e Quíron conjuntos ao seu Saturno natal.
Saturno é, sem dúvida nenhuma, o outro lado importante desta mesma equação. O grande mestre, que rege o período de vida que o Papa Francisco está a viver, vem trazer a maturidade do sentido de serviço e transformação que este homem regista. Em Março de 2013, quando o novo Papa é eleito, Saturno transitava em Escorpião, na Casa 4 de Jorge Mario Bergoglio, cumprindo uma transformação profunda das estruturas deste homem, permitindo uma magnífica limpeza cármica através da missão de seguir o legado do Cristo. Esse mesmo Saturno, nesse momento, fazia uma quadratura à Lua natal de Francisco, impondo-lhe uma profunda escolha, ao mesmo tempo que criava um grande trígono, uma fluência energética benéfica e extraordinária, com o Ascendente e o Saturno natais, beneficiando o novo Papa com uma nova direcção de vida, mais profunda e alinhada com o seu propósito.
“Antes de o bispo benzer o povo, peço que rezem ao Senhor para que me abençoe: a oração do povo, pedindo a bênção do seu bispo. Façamos esta oração em silêncio.”Papa Francisco
Os mesmos transpessoais que são importantíssimos na personalidade de Francisco, também demonstram a missão do mesmo perante uma Igreja que ansiava por renovação. Com Úrano em trânsito na sua Casa 9 e Neptuno na sua Casa 8, toda uma energia de transformação e mudança é trazida, com profundos cortes no instituído, orientando a Igreja para a Fé, para a missão do Cristo e para a renúncia aos bens para seu usufruto. Prova disso foi o renegar dos símbolos de ostentação que marcavam a indumentária e o ambiente papal, assim como a rápida acção do novo Papa com mudanças no Banco do Vaticano. Para além disto, Plutão, acabado no momento de entrar na Casa 7 de Francisco, impulsionava a sua imagem perante o mundo, auxiliado por um Júpiter a transitar na Casa 11, criando automaticamente uma ligação muito forte e positiva com o povo, como símbolo de renovação da instituição, como símbolo de fé, num mundo em profunda crise económica, social e de valores.
Fruto da sabedoria, Francisco soube, logo no momento do primeiro discurso perante o mundo, imprimir o seu selo de humildade, não só pela apresentação perante a Praça de São Pedro, apenas de batina branca e com uma cruz de ferro ao peito, como também pelas palavras proferidas: “Antes de o bispo benzer o povo, peço que rezem ao Senhor para que me abençoe: a oração do povo, pedindo a bênção do seu bispo. Façamos esta oração em silêncio.” Vénus em oposição ao Neptuno Natal a permitir a ligação com o mundo de forma humilde, dedicada e apaziguadora.
Nestes anos em que assumiu a liderança da Igreja Católica, o Papa Francisco já mudou muito a imagem que a Igreja tem perante o mundo, preconizando o entendimento inter-religiões, dando os primeiros passos na abertura da tradicional Igreja para a realidade do mundo actual, tecendo duras críticas ao mundo materialista, mas dando também o exemplo, através de modificações na própria gestão do Vaticano. Não sendo refém do dogma da religião, mas seguindo os mais básicos e simples preceitos espirituais do cristianismo, o Papa Francisco será ainda, com toda a certeza, uma das mais carismáticas e transformadoras figuras dos próximos anos. A Igreja, como a conhecemos, caminha para uma transformação profunda e este poderá ser, sem dúvida, o timoneiro desta postura mais humana e humanizada da Igreja.
O seu desígnio maior é precisamente o da transformação em tudo o que vive e experiencia, numa profunda e bela entrega, sendo muito mais do que o Santo Padre da Igreja Ocidental, mas sim um verdadeiro curador da humanidade, consciente dos seus desafios e dos desafios do mundo, levando o sentido da fé, vivido duma forma livre e sem o dogmatismo que fez com que o povo se afastasse da Igreja. Ao caminho de um mundo que necessita não só de fé, como também de esperança e de um enorme e profundo amor.