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Ruído

20220410reflexaoruido

Nós, humanos, tornámo-nos seres extremamente ruidosos. Desde há muito tempo, séculos mesmo, esquecemo-nos de olhar para nós, de nos conectarmos com a nossa essência e passámos a viver dentro das nossas mentes. No entanto, a nossa mente é cheia de movimento, é cheia de sons, de pensamentos, de percepções que, se não forem centradas e orientadas, se não forem, de certa forma, equilibradas com os nossos sentimentos e emoções, tornam-se um vendaval que apenas levanta poeira, criando uma enorme confusão.

No decorrer dos tempos, passámos o ruído que vivia no nosso interior para o mundo que nos rodeia. Os nossos medos e dúvidas, as nossas questões e divagações, as nossas inseguranças e incertezas, todo um mundo que existe dentro da nossa mente começou a passar cá para fora, muitas vezes desprovido de sensibilidade, de senso ou de discernimento. Criámos ruído, muito ruído, primeiro através da comunicação, depois também através das redes sociais, da internet e das aplicações de mensagens. Deixámos de saber conviver com o silêncio, nomeadamente com o nosso e criámos um mundo que se torna, muitas vezes, insustentável.

Podemos pensar, eventualmente defender, que o grande problema está na internet, nas redes sociais, nos telemóveis, tablets e computadores, mas tal é apenas um desviar da nossa atenção, mais uma fuga clássica. Nada do que existe nesta Terra, nomeadamente descoberto, criado ou desenvolvido pelo ser humano, tem como propósito o mal. Se somos espíritos a viver um processo de encarnação, se temos como origem o divino, a Fonte, é impossível que qualquer criação nossa tenha como base o mal. Contudo, a nossa ligação à matéria, as nossas necessidades de poder, de posse, de estatuto, levam à má utilização desses recursos, das criações, da tecnologia – basta pensar que tudo o que já foi criado eliminaria as diferenças mundiais, a fome e as guerras, criaria, em utopia, um mundo justo, equilibrado e próspero num curto espaço de tempo.

Quando nos desconectamos da nossa essência, da capacidade de sermos humanos, da nossa humanidade, no fundo, somos absorvidos pelo instinto de sobrevivência do nosso ego, pelas carências que ele cria, que tantas vezes pouca aderência têm com as nossas verdadeiras necessidades. Nesse momento, a mente terrena começa a dominar todo o espaço do nosso ser, a produzir conteúdo constante, ideias, sons, movimentos, forças internas alimentadas pelo medo, pela dúvida, pela insegurança, que acabam por se tornar autodestrutivas, repressivas, castradoras da nossa capacidade de sermos criadores.

No princípio era o Verbo, e tal mostra-nos que antes de qualquer coisa se manifestar no mundo e nas nossas vidas, ela existe na nossa capacidade de criar, na nossa mente, nas nossas ideias.

Digo inúmeras vezes que a nossa mente é o que nos liga e conecta ao que de mais divino existe em nós. Mercúrio, o planeta que nos traz a dimensão da mente, da voz e da comunicação, é o primeiro planeta do nosso Sistema Solar, o primeiro após o Sol. O Sol é, no nosso mapa, o manifestador da nossa identidade e, por isso, também a energia do propósito do nosso Espírito aqui na Terra. Assim, podemos compreender que é a nossa mente, as nossas ideias, a nossa comunicação, a primeira manifestação do Espírito que em nós habita e, por isso também, podemos compreender o porquê de tantos mitos criadores terem como foco a palavra e o pensamento.

No princípio era o Verbo, e tal mostra-nos que antes de qualquer coisa se manifestar no mundo e nas nossas vidas, ela existe na nossa capacidade de criar, na nossa mente, nas nossas ideias. Como uma semente que reside dentro da terra e que é activada pela água e pelo sol, que começa a germinar, quebrando a casca e gerando as raízes, também a nossa realidade tem como princípio a nossa mente. Ao contrário do que muitas vezes dizemos, por vezes por crença religiosa, não são os nossos pensamentos, por si, que criam a realidade, mas sim a vibração que eles criam à nossa volta. O universo funciona por vibração e a nossa mente gera esse movimento de forma contínua. É isso que vai criar a nossa realidade, aliado aos processos globais que nos rodeiam, como uma lente que colocamos à frente dos nossos olhos.

Como um vento que passa em cima da água e cria ondas, a nossa mente movimenta o que o nosso coração estiver a alimentar. Como estamos rodeados e sujeitos a tanto ruído, há uma turbulência geradora de caos, de desordem, muito porque a ele juntam-se a falta de amor, de empatia, de compaixão e de serenidade. O ruído amplificou-se muito nos últimos anos e nada indica que ele tenha tendência para acalmar, bem pelo contrário. Esse ruído, exterior, nada mais é do que o grito dum mundo doente, ferido, num momento profundo de transformação, e quanto a ele, de forma global, pouco podemos fazer.

No entanto, em cada um de nós há a possibilidade de fazer algo diferente, de mudar um rumo, de alterar, com calma e paciência, a vibração. Nenhum dos processos que temos pela frente é rápido, é célere, é imediato, bem pelo contrário. O que nos é pedido é um sossegar, um serenar da nossa alma, da nossa mente, e um retorno ao nosso coração. Ouvir-nos e ouvir o outro. Colocarmo-nos no nosso próprio lugar na nossa vida, mas olhar o outro. Colocar os nossos próprios limites, a nós e aos que nos rodeiam. Ser compassivo, amoroso, empático, mas não permissivo nem complacente com o que não está em conexão com os nossos valores. Tudo isto, de forma focada, serena, em sintonia com a nossa Alma.

É desta forma que conseguimos, lentamente, mudar a nossa vibração, acalmar os movimentos da nossa mente, serenar o pensamento, diminuir o ruído. Sem fugas, sem ilusões, sem colocarmos uns “óculos cor-de-rosa” ou ignorando a realidade, mas sim, pelo contrário, encarando-a do nosso lugar próprio, do centro do nosso ser. Quando estamos e nos colocamos no nosso lugar, o que chega até nós está na nossa vibração, o ruído de tudo o que nos rodeia apazigua-se, não porque nos afastamos ou ignoramos, mas sim porque filtramos, porque seleccionamos, porque revemos e ressignificamos.

Como assim o fazemos, começamos a agir, movemo-nos, criamos. Tal como o lótus nasce no pântano lamacento e como o diamante reside dentro da pedra baça e escura, como do Big Bang surgiu o Universo, também a nossa luz criadora, a vida, a realidade, a prosperidade, geram-se, manifestam-se e materializam-se do caos (e através dele). É com foco, dedicação e entrega profunda, com paciência e calma, mas sempre em acção, sempre em movimento, que compreendemos que o ruído, o caos, os desafios, os problemas, na verdade, também são caminhos a percorrer.

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