O período de eclipses é sempre um tempo especial, muitas vezes intenso e desafiador. Estes eventos, tão importantes e, em tempos idos, muito temidos, são orientadores e desencadeadores de processos que nos afectam individual e colectivamente, despoletando tomadas de consciência e transformações necessárias ao nosso próprio desenvolvimento. Num tempo tão intenso, com tanta informação e coisas a acontecerem à nossa volta, debruçarmo-nos um pouco sobre o que eles nos pedem é verdadeiramente essencial e ajuda-nos a compreender melhor os desafios que nos estão a ser colocados.
Um eclipse é um momento de sublime magia neste nosso sistema, em que a Terra e a Lua se alinham com o Sol de forma muito especial. Num Eclipse Solar vivemos uma Lua Nova e, por isso, ela traz-nos, de certa forma, uma sementeira peculiar, uma possibilidade de transformação consciente através do potenciar da sua energia, como a dádiva dum terreno fértil e pronto a colocarmos o que, conscientemente, temos estado a trabalhar. Num Eclipse Lunar vivemos uma Lua Cheia, que nos traz a colheita, o fruto das transformações feitas, elevando a nossa sensibilidade e permitindo-nos olhar para dentro dos nossos processos através duma visão mais consciente.
É nesta vivência, a cada seis meses, que vamos integrando processos e transformando o nosso próprio percurso. Esse é o grande propósito dos eclipses, desenvolvidos em estreita ligação com os nodos lunares (que, por natureza, são os pontos virtuais de eclipse) e que, por isso, fazem o seu caminho no sentido contrário ao zodíaco, o que podemos chamar dum processo lunar, levando a energia para dentro, para uma compreensão profunda e consciente. Assim, os eclipses são verdadeiros construtores de alicerces, delineadores de processos interiores, construindo, de forma quase imperceptível, as pedras basilares da nossa vida e do mundo que nos rodeia.
O que este ciclo de eclipses tem de relevante não é a sua intensidade ou a sua força, suplantada, de certa forma, por outros anteriores que já temos vivido, nomeadamente em 2022, mas sim pelo facto de, entre outras questões, nos trazerem os últimos momentos, pelos próximos cerca de 9 anos, de trabalho dos nodos lunares sobre o eixo Touro-Escorpião. No fundo, eles trazem-nos o concluir desse processo profundo de transformação e a preparação da transposição para uma nova energia, a do eixo Carneiro-Balança. Esta passagem é feita de forma peculiar entre o Eclipse Solar deste primeiro ciclo, que se dá a 20 de Abril de 2023, e o último eclipse deste ano, a 28 de Outubro de 2023.
Durante o último ano e, quase, meio, os Nodos Lunares têm transitado no eixo Touro-Escorpião, exactamente nesse sentido. Este tem sido um período de fortes e intensas transformações, como todos temos visto, de permitir vir ao de cima o que está estragado e podre, caduco e devoluto, para que possa ser destruído e, através dessa aprendizagem, ser reconstruída uma nova realidade, alinhada com todos os processos que as transições planetárias nos têm trazido, nomeadamente nestas últimas semanas, com a entrada de Saturno em Peixes e de Plutão em Aquário.
Ainda que estes primeiros eclipses do ano não sejam com os Nodos Lunares já no eixo seguinte de trabalho, o eixo Carneiro-Balança, é neles e no seu trabalho que se inicia a transição. Veja-se que o Eclipse Solar, de 20 de Abril, já se dá no signo de Carneiro, no grau anarético, aos 29º50’, trazendo um enorme impulso energético a este evento, como de seguida irei referir. O Eclipse Lunar, de 5 de Maio, é, na verdade, o último deste eixo Touro-Escorpião, com os Nodos Lunares, Sol e Lua nesse eixo, trazendo os pontos finais de trabalho desta energia, nomeadamente por um conjunto de sincronicidades que contém e que também, de seguida, irei referir.
É importante percebermos que estes dois eclipses se dão em situações muito peculiares e oferecem-nos uma energia preciosa para o momento presente. A primeira questão crucial que precisamos de ver é que eles dão-se precisamente no meio dum período de Mercúrio Retrógrado, precisamente no signo de Touro, o que faz com que este seja um tempo de enorme mergulho interior, trazido através duma enorme tensão interna, algo que se torna palpável quando olhamos o mundo “lá fora”, quando lidamos com as pessoas, quando vemos o que se passa à nossa volta, quando percebemos, em todos os lados e em todos os extremos, o obscurantismo que está visível e disponível para podermos ver e dele tomar consciência.
Um eclipse é como uma sala escura que permite revelar as fotografias que andámos a tirar ao mundo que nos rodeia, compreendendo se aquilo que foi a nossa visão no momento em que olhámos para a câmara é igual ao que ficou registado no negativo e passou, posteriormente, para o papel. Por vezes pode ser uma agradável surpresa, mas outras é uma enorme desilusão – em ambas, porém, há uma aprendizagem e uma compreensão. Dado que vivemos num mundo tão imediato, de câmaras digitais onde tiramos a foto e logo percebemos se corresponde ao que pretendíamos, este aparente descer ao mundo analógico é, muitas vezes, um choque, mas é apenas mais um reflexo da realidade.
Há bastante tempo, ali pela altura de 2004 (altura em que tivemos os eclipses precisamente nos mesmos graus), tirámos umas fotografias à nossa realidade e ao mundo que nos rodeava. Agora temos a oportunidade de voltar ao mesmo local e tirar novas fotografias, rever conceitos, perceber o que mudou e implementar as transformações necessárias. Não se trata de repetir a história, mas de compreender como as coisas foram alteradas e vividas, tomar decisões e consciências, trazer maturidade ao nosso caminho. Podemos ver isso nas nossas vidas, mas, principalmente, no mundo que nos rodeia.
O que esta série de eclipses tem também de especial é o facto de se seguir ao ingresso de Saturno no Signo de Peixes, a primeira grande transição energética deste tempos, e ao primeiro ingresso de Plutão em Aquário, a segunda e importantíssima transição. Estes dois planetas têm importância para estes primeiros eclipses do ano, auxiliando os seus processos, mesmo quando, aparentemente, os complicam ou os tornam mais intensos.
O Eclipse Solar de 20 de Abril, como acima referi, dá-se no último grau de Carneiro, embora com os Nodos Lunares ainda no eixo Touro-Escorpião. A intensidade do último grau de um signo, que chamamos de anarético, tem a ver com o facto de ele ser a ponte de transição de um signo para o outro, como o espaço de água entre o rio e o mar, onde ambos se misturam e em que as águas não são doces nem salgadas, mas sim duma forte intensidade. Este grau é de incertezas e até contradições, pois representa essa mistura que faz com que o ponto que nele se dá adquira características desse signo, mas também do seguinte. Por isso, este eclipse é tão forte e importante, pois a sua energia é de verdadeira transição e transformação.
Como se tal não fosse suficiente, este eclipse dá-se em quadratura a Plutão, ainda no grau 0º de Aquário e a desacelerar, pronto a entrar no seu movimento retrógrado, no primeiro dia de Maio. Esta sincronicidade causa ainda maior intensidade no processo, trazendo-nos uma visão muito forte e consciente do que está a cair, do que precisa de ser deitado abaixo e pedindo uma reflexão sobre a forma como o caminho até aqui foi feito e o que está por fazer. No fundo, o que este Eclipse nos pergunta é, no que em nós afectar, se estamos a afirmar e a ser quem realmente precisamos de ser, se nutrimos o nosso caminho da forma correcta e se sentimos que estamos a fazer o caminho para trazermos o melhor de nós neste processo. Se a resposta for “sim”, então é continuar, aproveitar a sementeira e alimentar o nosso caminho, mas se a resposta for “não”, então, sem dramas ou medos, o processo é o mesmo, embora com a profunda, directa e intensa tomada de consciência que lhe está associada. Acredito que, para muitos de nós, a verdadeira resposta é um pouco das duas.
O Eclipse Lunar de 5 de Maio, o último totalmente na energia do eixo Touro-Escorpião, é também um processo forte e importante. Ao ser um eclipse Lunar, com a Lua conjunta ao Nodo Sul, há um claro e crucial processo de integração de aprendizagens. Para além disso, é preciso compreendermos que ele se dá aos 14º58’ de Escorpião, pouco menos de 1º de orbe da oposição do grau inicial deste Mercúrio Retrógrado que se vive neste momento. Ao mesmo tempo, é interessante perceber que este eclipse, assim como o anterior, Solar, dá-se com o Nodo Norte aos 4º de Touro, a pouco mais de 1º de orbe da conjunção com o grau final do Mercúrio Retrógrado. Tal como no eclipse solar anterior, há uma particularidade de acção sobre este, pois temos a Lua Negra, Lilith, em quadratura ao eclipse, fazendo um trabalho em tudo semelhante ao de Plutão no eclipse anterior, mas agora de forma interior, profunda, abrindo feridas, rasgando véus, trazendo medos ao de cima para poderem ser trabalhados e integrados. No entanto, também é preciso ver que este eclipse se dá com a Lua em oposição ao Úrano, trazendo ainda mais esta força de quebra e de necessidade mudança em nós.
Outra particularidade destes dois eclipses, em relação ao Nodo Norte, é que em ambos vivemos um sextil de Saturno, no signo de Peixes, como um auxílio do grande Mestre para o caminho que estamos a fazer. No fundo, neste tempo de eclipses, temos a possibilidade de, através destes processos de transformação que estamos a viver, da intensidade das coisas que se passam nas nossas vidas, da forma tão profunda com que sentimos e vivemos a vida, construir um pouco mais do nosso caminho através da dádiva amorosa de nós mesmos. É através duma devoção profunda, dum trabalho de fé e de esperança, da compreensão que é apenas quando resgatamos esse nosso lado mais humano e empático, que nos percebemos unidos ao todo que nos rodeia. Assim, também compreendemos que esse Todo não é algo que está para lá de nós mesmos, mas sim aqui na Terra e no plano em que vivemos, e assim conseguimos, verdadeiramente, construir uma vida humana, valiosa e integrada com a Terra, uma vida que se molda do barro, mas que, nessa profunda ligação à essência, resgata e activa uma Alma que reflecte o Espírito.
Em cada período de eclipses há uma oportunidade de subir uns degraus, de trabalhar o que vem ao de cima, que nos pede um semear e um colher, mas, acima de tudo, uma profunda entrega a um trabalho de consciência.
A complexidade do tempo que vivemos é visível através dos processos que nos céus se desenvolvem, mas totalmente palpável no que estamos a experienciar aqui na Terra. Com a passagem dos Nodos Lunares para o eixo Carneiro-Balança, este processo vai-se agudizar, pois, ao fazerem um caminho inverso ao sentido do Zodíaco, os Nodos oferecem-nos uma aprendizagem de integração, e, por isso, passaremos dum trabalho de profundidade, de matéria e antimatéria, de compreensão do que é vida e morte, para a visão do Eu face ao Outro, de quem somos e de como só somos se existir o Outro que nos reflecte, que esse Outro é uma visão de nós mesmos e de tudo o que existe dentro de nós.
Este momento é doloroso e já se começa a sentir, pois o que está a vir ao de cima são as feridas guardadas durante anos e anos, durante vidas e vidas, feridas que precisam de ser curadas, que estão a gangrenar, algo tão visível através do ódio que pauta os nossos dias, da raiva que vemos em tantos, do medo que tem sido arma de manipulação. Nesse percurso de ano e meio no eixo Carneiro-Balança, o Nodo Norte fará uma conjunção com o Quíron, que se formará no segundo semestre deste ano, no seguimento do segundo ciclo de eclipses de 2023, mas que ganhará força e terá o seu ponto exacto em Fevereiro de 2024, projectando a sua energia para um importante e fortíssimo Eclipse Solar total a 8 de Abril de 2024, quando estará em conjunção com o mesmo.
Embora estes tempos sejam intensos e fortes, duros e avassaladores, são também profundamente necessários, pois permitem fazer mais um processo de transformação. Vivemos períodos de transições energéticas desde, principalmente, 2020, e tudo o que temos vivido está intimamente ligado a isso. No fundo, estamos a subir uma espiral de consciência e, para o podermos fazer, precisamos de limpar muita da energia kármica que ainda está presente, muitas feridas que ainda necessitam de ser tratadas, algumas que ultrapassam gerações, outras que têm um tempo maior que a vida de maior parte da população deste planeta, que se juntam a umas mais recentes, mas cuja origem é a mesma, uma profunda dor que reside no ser humano, como uma sensação de divisão que se estende e se agudiza, que precisa de ser apaziguada.
Em cada período de eclipses há uma oportunidade de subir uns degraus, de trabalhar o que vem ao de cima, que nos pede um semear e um colher, mas, acima de tudo, uma profunda entrega a um trabalho de consciência. É tempo de voltarmos atrás e rever o caminho feito, de entrar nessa câmara escura que nos auxilia a revelar as imagens do nosso trilho, a perceber os processos que nos têm sido apresentados e compreender quais os passos a dar. É tempo de apurar essas imagens e integrar as suas aprendizagens, projectando sobre as nossas vidas o que elas nos apresentam. Em cada momento há uma oportunidade de mudar, não o caminho, mas a forma como o olhamos e como o integramos, a forma como nele damos os passos e o que nos predispomos a, com ele, apresentar. Só assim conseguimos perceber que, maior parte das vezes, é tudo muito mais fácil do que parece, que é só uma questão de trabalhar (e largar) crenças e padrões e permitirmo-nos entrar no fluxo da vida e sermos nós mesmos.