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Prova de Amor

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Existem momentos no nosso percurso, num período de tempo ou durante a nossa vida, que funcionam como uma espécie de pontes. Esses momentos definem uma passagem, uma transição entre um tempo que vivemos, que nos ensinou um conjunto de lições, nos ofereceu oportunidades e colocou desafios, e que com ele fizemos o que conseguimos e soubemos, mas que tem de fechar o seu ciclo e dar início a outro. Nesse outro tempo que se encaminha e que se está a construir, novas lições, oportunidades e desafios são-nos trazidas, novos percursos são desenhados.

Podemos pensar que isto é uma verdade para todos os momentos da nossa vida e não estaremos errados. No entanto, para além desses instantes que são permanentes na nossa vida, existem outros que são verdadeiros pontos de transição, de transformação e de integração. No fundo, é como olharmos a nossa vida como uma escadaria, onde cada etapa é um degrau que necessita de ser alcançado. Contudo, ao fim dum conjunto de degraus, de etapas, de aprendizagens, encontramos um patamar, um espaço maior que dará origem a um novo lance da escada, a um novo caminho dentro deste grande caminho que é a nossa vida. É desse patamar, essa ponte, que um novo Eu se constrói, se assim pretendermos.

Normalmente, no percurso das nossas vidas, esses momentos são manifestados através daqueles grandes desafios que nos são colocados, mas também os encontramos noutros tempos menos pesados, como no percurso do nosso ano. O importante, na verdade, é compreendermos que estes tempos, estes patamares, precisam da nossa profunda entrega e do abrir do nosso coração para que possam transformar-se em sementes que germinarão e darão origem a belíssimas flores.

Pensemos num plano mais simples, como o ciclo do ano. Para todos nós, com maior ou menor consciência, existe um momento de maior paragem e de realinhamento. Se tivermos esta percepção mais presente em nós, naturalmente (embora às vezes isto peça uma maior disciplina), reduzimos o nosso ritmo, reorganizamos a nossa vida e definimos os nossos propósitos e objectivos. Mesmo sem grande percepção, a vida leva-nos a um realinhamento, ainda que ténue ou menos consciente, mas ele está lá.

Digo muitas vezes que o medo existe na ausência do amor. É através do amor, e apenas dele, que conseguimos transformar o medo e extrair dele a pedra preciosa que nele se encontra.

Da mesma forma, num plano maior e mais elaborado, no ciclo da nossa vida estes momentos também acontecem. Quando nos defrontamos com uma mudança mais brusca ou com algum acontecimento traumático que despoleta em nós um vazio ou uma crise de fé, é porque chegámos a uma ponte no nosso percurso, a um patamar que nos pede entrega e dedicação para que possamos integrar os seus ensinamentos e, assim nos realinharmos com a nossa própria vida. No entanto, estes momentos são, por norma, desafiadores, são passagens estreitas e escuras no caminho da nossa vida, onde somos postos à prova, não por alguma mente sádica superior, mas sim porque é esse teste que nos permite crescer e que faz parte do percurso da nossa encarnação.

Os patamares, as pontes que a vida nos coloca, são também momentos onde o medo se eleva, como o suor que sai dos nossos poros quando fazemos maior esforço físico, sendo o sinal de que há algo dentro do nosso ser que se está a transformar. O medo é o sinal inequívoco da importância do momento, mas ele é também uma força poderosa que nos pode absorver e até, se não trabalharmos sobre nós, destruir. Nestes momentos importantes, a mestria adquire-se quando compreendemos que o medo é a matéria-prima do nosso caminho, o barro que precisamos de aprender a moldar para se transformar numa obra-prima. Ainda assim, o medo é uma matéria difícil de dominar, que pede um ingrediente muito especial para que o consigamos fazer. Assim como precisamos da água para manter o barro moldável, também precisamos dum enorme trabalho de amor para dominar e transformar o medo.

O nosso primeiro instinto é tentar afastar o medo, pois foi isso que nos foi ensinado. “Não podemos ter medo! Temos de ser bravos e audazes! O medo não nos pode quebrar!” Tudo isto implica, muitas vezes, fecharmos as nossas emoções para conseguir partir a barreira do medo, mas tal tem um custo, pois torna-nos frios, calcifica-nos, bloqueia-nos em muitas áreas da nossa vida. Isto é o que nos foi ensinado, pois vivemos numa sociedade onde as emoções tornaram-se um assunto sensível e difícil, e a prova disso é a quantidade de questões do foro psicológico e psiquiátrico com que tantos de nós se debatem atualmente.

Digo muitas vezes que o medo existe na ausência do amor. É através do amor, e apenas dele, que conseguimos transformar o medo e extrair dele a pedra preciosa que nele se encontra. Então, é com amor que, de certa forma, vencemos o medo, mas não por sermos bravos e audazes, sem pingo de emoção e pura resistência, e sim por sermos corajosos, que é algo muito mais difícil. A coragem não é a ausência de medo, é a capacidade de alimentarmos o nosso ser, a nossa essência, o nosso coração, com tanto amor que tal nos dá a força necessária para caminharmos serenamente através dele, iluminando essas partes de nós que precisam de colo, de um abraço, de afecto e amor. A coragem é o acender da nossa luz interior e a capacidade de enfrentar os desafios, apesar dos medos que eles nos possam trazer.

Nestes patamares, nestas pontes importantes que a vida nos traz, é esse trabalho e esse mergulho interiores que nos são solicitados, pois o seu grande propósito é o quebrar de cascas, de barreiras e armaduras, não para nos fragilizar, mas, pelo contrário, para nos mostrar a nossa verdadeira força. Então, esses momentos são de verdadeira morte, de entrega total, de transformação profunda, de vulnerabilidade, a tal semente que quebra a casca e germina, não porque é obrigada, mas sim porque é para isso que ela existe, porque esse é o seu propósito e o seu caminho. Ainda que ela não saiba sequer se vai conseguir rasgar a terra, gerar folhas, flores e frutos, ela “sabe” que tem de o fazer, pois em si há uma força que a move, uma vibração, uma vontade.

Estes momentos desafiadores e importantes, que encontramos algumas vezes nas nossas vidas, são então verdadeiras provas de amor, que nos solicitam coisas muito específicas. Por vezes são fechares de processos e ciclos, como um trabalho, uma relação ou uma amizade, e outras vezes são quebrares de barreiras pessoais, de conceitos e valores que nos bloqueiam, pedindo-nos para procurar uma ajuda, para nos vulnerabilizarmos, para colocarmos o nosso coração em cima da mesa e permitir que outros nos auxiliem a cuidar dele, que nos mostrem que há um amor que se gera dentro de nós, mas que há também amor que vem de fora, que nos é oferecido e que dele necessitamos também.

Uma das aprendizagens neste plano é que estamos todos ligados, que necessitamos todos uns dos outros, e muitas vezes disso nos esquecemos. Ainda que a planta possa germinar sem grande dificuldade, o mundo que a rodeia ajuda-a a crescer, assim como ela auxilia outros intervenientes a se desenvolverem. Nós, humanos, é que nos temos esquecido que não somos alheios a este sistema maior, que somos também parte dele, ainda que com uma consciência diferente, mas que estamos todos ligados e que de todos necessitamos, desde que a vibração que nos una seja de verdadeiro Amor, pois é também assim que conseguimos atravessar estas pontes, estas provas de fé, mas, acima de tudo, provas de Amor.

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