A mente humana é extraordinariamente complexa, fruto duma máquina fantástica, que chamamos de cérebro, e duma consciência que, resultado da nossa evolução enquanto seres, nos permite sermos criadores de coisas maravilhosas e, ao mesmo tempo, os maiores destruidores e aniquiladores de vida que a Terra já conheceu. É a mente que nos coloca mais próximos do Divino, é ela que nos conecta ao que chamamos de Deus e é através dela que trazemos esse poder maior para o nosso plano. Ela é complexa e profunda, mágica, avassaladora e criadora, mas, nestes tempos que vivemos, esquecemo-nos destas coisas maravilhosas que ela é capaz e o alimento que lhe damos faz com que estejamos muito mais conectados com o nosso Ego do que com essa divindade que ela nos oferece.
Os últimos séculos trouxeram-nos uma postura muito racional, muito cartesiana, focada na competição, num crescimento constante e no perfeccionismo. Esta construção do nosso ser social levou-nos a viver numa constante sobrevivência, a darmos mais importância à matéria do que a outras coisas que, na verdade, nos definem até de forma muito mais clara e bela, como a arte, o pensamento e, na verdade, as emoções. Este foco mental tem gerado um conjunto de problemas com os quais o ser humano já se debate, mas que serão as grandes pandemias das próximas décadas, como as questões de saúde mental, resultante, em grande parte, duma quebra dos nossos ciclos naturais.
É óbvio que o ser humano necessita de evoluir e que o grande mecanismo que temos disponível para o concretizar é a nossa mente. É através dela que construímos equipamentos que resolvem problemas, que encontramos curas para doenças, que nos elevamos enquanto seres a patamares que nunca tínhamos imaginado. Acredito que tenha sido essa a ambição que nos trouxe também a este lado tão pesado e negativo de desconexão com a natureza, com a vida que nos rodeia, uma tentativa, no fundo, de nos tornarmos deuses. Na realidade, essa tem sido a história do ser humano ao longo dos tempos, uma constante necessidade de retornar ao Todo, de voltar ao que sente que é a sua origem, fazendo-o de diversas formas, umas mais simbólicas, outras mais literais, como a construção de torres imensamente altas (o reflexo da ideia da Torre de Babel).
É esta vivência tão intrinsecamente ligada à mente, ao pensamento, à racionalização de tudo, diminuindo a presença do coração e das emoções nas nossas decisões e caminhos, que tem acelerado o tempo, que nos coloca numa urgência constante, que constrói, muitas vezes, problemas onde eles, outras tantas, não existem. Sem querermos, sem intenção, transformámos uma complexidade criadora e saudável numa complicação, num excesso de foco mental, condicionando as nossas próprias capacidades e potenciais. Esquecemo-nos que, na realidade, tudo é muito mais simples do que aparenta, tudo é muito mais directo e linear do que inicialmente pensamos e, como dizemos “achamos”.
Perante um problema, um desafio, uma situação nas nossas vidas, a nossa tendência, resultado de toda esta construção social da qual provimos, é, automaticamente, acelerar a mente para que a possamos resolver. Sem nos apercebermos, entramos em mecanismos de urgência e de controlo, não porque queremos ultrapassar a situação, mas sim porque ela modificou algo que considerávamos estruturado e certo, porque nos tirou uma segurança, um conforto, e isso activou os nossos mecanismos de defesa, ligou os alarmes e deu-nos a indicação urgente de resolução do problema para podermos voltar ao que existia antes. Essa ideia, como mais tarde, inevitavelmente, acabamos por compreender, é uma profunda ilusão.
Quanto mais aceleramos a nossa mente em busca duma resposta, dum resultado, duma resolução, maior complexidade criamos, pois começamos a ramificar a questão, criando cenários infinitos, amplificando mecanismos de ansiedade para, no final, estarmos no mesmo ponto do qual partimos. Esta necessidade que nos foi incutida de preencher espaços que parecem estar vazios, de não deixar esse mesmo vazio, o silêncio e a calma fazerem a sua parte, destrói a nossa capacidade criativa e impede-nos de ver o propósito de cada coisa nas nossas vidas. Esta aceleração constante, que tudo complica, fecha as portas do entendimento e condiciona a nossa visão e percepção do que chegou até nós, do que nos propõe como caminho e do seu potencial, algo que só conseguimos quando aprendemos a simplificar.
Por mais difícil que, muitas vezes, seja, a única forma de resolver uma questão é simplificá-la, é levá-la ao mais básico possível. Esta complexificação de tudo a que nos fomos habituando leva a uma verdadeira complicação do que já, por si, pode ser desafiador. A resposta mais plena e clara é, normalmente, a mais simples e directa, e revela-se quando retiramos os excessos, quando juntamos as várias peças e compreendemos que a nossa reacção excessiva e acelerada, na verdade, apenas trouxe mais variáveis e prolongou o tempo do problema. Por isso, a primeira resposta que precisamos de dar a qualquer coisa nas nossas vidas é o silêncio, é uma respiração profunda, é um serenar da nossa mente e deixar tudo acalmar. É nessa postura que quebramos um vício que nos foi colocado desde os tempos de escola, a competição pela resposta rápida e o medo que nos foi incutido do erro.
É na simplicidade que nos reencontramos com a nossa própria essência. É olhando tudo pelos olhos duma criança (da nossa própria criança) que conseguimos resolver os desafios mais profundos e intensos.
É a forma como nos construímos, as responsabilidades que desenvolvemos com o nosso crescimento, com as coisas da vida de um adulto, que nos colocam um peso maior nas costas. No entanto, é preciso compreender que simplificar, que olhar as questões pelo olhar da criança, não é ser irresponsável nem desprezar o que a vida adulta nos trouxe e que, como é óbvio, queremos e devemos preservar sem a elas ficarmos presos e condicionados. Não vimos à Terra para viver em carência ou em dificuldades, muito pelo contrário, pois este planeta é profundamente abundante e a vida também assim o é. No entanto, se vivermos presos a essas coisas da matéria, nunca conseguiremos trazer a nossa verdadeira essência e afirmar o nosso enorme potencial.
É na simplicidade que nos reencontramos com a nossa própria essência. É olhando tudo pelos olhos duma criança (da nossa própria criança) que conseguimos resolver os desafios mais profundos e intensos. A criança, na sua pureza, não complica, não inclui inúmeras variáveis construídas por anos de valores incutidos, regras e medos assimilados. Ela olha tudo pelo coração e, por isso, simplifica, não corta caminhos nem cria trajectos alternativos e complicados. De certa forma, a criança vê um problema do mesmo modo que vê uma brincadeira, pois, no fundo, essas questões que a vida nos coloca são, para a nossa alma, o mesmo que uma brincadeira nos oferece, um estímulo ao nosso desenvolvimento, um desafio ao nosso crescimento, um degrau na nossa evolução.
Simplificar é largar o que nos impede de crescer com uma situação que a vida nos colocou e compreender o porquê dela ter surgido e o que nos solicita, é silenciar o medo e voltar ao nosso centro, ao nosso coração. É aí que as respostas se integram, sintonizando a mente e o coração no mesmo sentido, abrindo e revelando os caminhos, não porque achamos ou sentimos, mas sim porque, verdadeiramente, sabemos, em profunda consciência, quais os passos que temos de dar. Simplificar, na verdade, é vibrar em Amor e dele nos nutrirmos, compreendendo que, embora seja um enorme caminho de aprendizagem e de mestra, é apenas nessa ligação que conseguimos ultrapassar todo e qualquer desafio.