A singularidade dos tempos que estamos a viver é bem visível e perceptível a todos nós. Cada momento que nos é oferecido pelo Universo pelo alinhamento dos planetas e das energias arquetípicas celestes que chamamos de Signos projectam-se sobre a Terra e sobre cada um de nós de forma bem profunda e significativa, mostrando-nos que este é um tempo de mudança, de transformação, que estamos a caminhar numa ponte entre algo que conhecemos e outra realidade que estamos ainda a construir.
É nesta compreensão que estaremos a viver, dia 8 de Abril, um dos momentos mais significativos deste ano, um Eclipse Solar Total no Signo de Carneiro, um dos mais fortes e importantes destes tempos e que, feliz ou infelizmente, não será visível em Portugal. É preciso também recordar e reforçar que os eclipses são, acima de tudo, eventos de efeito global, tendo uma influência muito mais significativa sobre os temas sociais e aplicando-se em cada um de nós, indivíduos, de forma diferente, totalmente dependente e alinhado com o mapa natal de cada um.
Por natureza, um eclipse é sempre um momento especial, pois representa um alinhamento entre o Sol, a Lua e a Terra, entre o consciente, o inconsciente e a matéria. Por isso, os Eclipses sempre foram, ao mesmo tempo, temidos e admirados, assustadores e fascinantes. No entanto, este, que iremos experienciar nos próximos dias e que projectará o seu efeito durante cerca de 4 meses, terá uma força simbólica suplementar e extraordinariamente especial, nomeadamente pelo alinhamento energético em que ele se dará.
Um Eclipse Solar é uma Lua Nova, uma sementeira muito especial que nos é oferecida para os tempos que vivemos. Em Carneiro, como estamos a viver desde 2023 e como iremos viver até ao primeiro semestre de 2025, um eclipse oferece-nos a possibilidade de trabalharmos um novo Eu, um novo Ser, uma nova projecção de quem somos enquanto indivíduos, enquanto sociedade e projectando essa energia para quem queremos ser enquanto humanidade, algo que nos será exigido, principalmente, a partir de 2026.
Uma das maiores e mais importantes particularidades deste Eclipse é o facto de se dar em perfeita conjunção com Quíron e estar muito próximo do Nodo Norte. Sol, Lua e Quíron estarão a, precisamente, 19º24’ do Signo de Carneiro e a menos de 5 graus do Nodo Norte, também ele em Carneiro. Esta tão profunda ligação é muito significativa e especial, pedindo-nos uma atenção especial ao trabalho que este Eclipse nos oferece. No entanto, é preciso também termos em atenção que ele se enquadra numa configuração de sequência entre todos os planetas nos céus, que chamamos de locomotiva, que leva a que estejam todos integrados num espaço de cerca de 120º, entre Aquário, onde está Plutão, e Touro, onde Úrano já recebe a força de Júpiter e se prepara para outro dos momentos mais importantes do ano.
É esta configuração tão especial que projecta sobre este momento um simbolismo único e que nos leva a compreender que o Eclipse do dia 8 de Abril não é apenas mais um eclipse, não é um simples evento astrológico ou astronómico, mas sim um verdadeiro portal que nos está a deixar uma mensagem muito importante. Existem momentos especiais e existem momentos únicos e este, definitivamente, pertence à segunda classificação e, por isso, necessita de ser visto, vivido e integrado duma forma especial.
Ao estar em conjunção tão próxima com o Nodo Norte, também ele em Carneiro, este eclipse encontra-se reforçado, mais intenso e profundo, projectando a sua energia para uma tomada de consciência, para a confrontação com o seu propósito. O caminho do primeiro Signo do Zodíaco é o do nascer, do rasgar as barreiras do inconsciente para que nos permitamos, conscientemente, Ser e não apenas existir. O caminho dos nodos lunares é integrativo, eles levam-nos a um mergulhar interno e, por isso, o seu percurso dá-se no sentido inverso ao movimento natural do Zodíaco, como um processo interior que necessitamos de fazer e que se ajusta ao caminho de consciência que é o ciclo Solar. Contudo, Carneiro é um dos Signos mais fortes nos céus, neste momento, e um dos grandes protagonistas dos próximos anos, e isso também nos mostra o trabalho profundo que este eclipse nos vem oferecer.
A encarnação é a experiência duma dor, é o rasgar das águas profundas do inconsciente (do ventre materno) e dar um grito de afirmação, é o dizer: “Eu Sou”.
A verdadeira e sublime força deste eclipse está no facto de se desenvolver, como referi no início, numa conjunção perfeita com Quíron. Quíron é o curador, o mestre dos deuses e heróis, o Centauro, filho de Cronos e da ninfa Filira, abandonado e rejeitado pelos pais e adoptado por Apolo (o Sol), que lhe ensina as artes e os conhecimentos pelos quais seria sempre lembrado. Na mitologia, Quíron é ferido por uma seta envenenada e, por ser imortal, fica em sofrimento. O curador não se consegue curar e é esta a base do simbolismo de Quíron na Astrologia.
Quíron representa uma ferida que em nós existe e não pode ser curada, nem sequer é esse o seu propósito, fruto do nosso caminho kármico, que nos torna mestres no trabalho com os outros nessa área, mas com uma enorme dificuldade em trabalhá-la em nós. É através dessa ferida que acedemos à energia crística em nós e, por isso, o seu propósito é aprendermos a viver e trabalhar com ela, a integrá-la no nosso Eu. Quíron faz o seu percurso entre a órbita de Saturno e Úrano e, por isso, ele é uma chave, uma ponte entre a matéria e o espírito, entre o limite do que é conhecido e o que está para lá dessa barreira. Em Carneiro, como referi neste artigo, Quíron revela-nos uma ferida de afirmação da nossa existência, da nossa presença neste plano, da nossa vontade e do nosso propósito.
A encarnação é a experiência duma dor, é o rasgar das águas profundas do inconsciente (do ventre materno) e dar um grito de afirmação, é o dizer: “Eu Sou”. No entanto, Ser é muito mais do que apenas Existir, Ser implica reconhecermo-nos nas nossas capacidades, nas características que nos definem e caminhar para a afirmação da nossa identidade. Por isso, ao estar associado ao Eclipse, este trabalho projecta-se duma forma ímpar.
Nesse sentido, quando Quíron se encontra tão conectado, em perfeita fusão com esta energia, o que nos é trazido é muito mais do que um simples evento, mas sim uma profunda revelação. Vejamos que, num eclipse solar, nomeadamente total, como este será, o dia torna-se noite, o sol é ocultado pela lua e, simbolicamente, o consciente é olhado pela profundidade do inconsciente, revelando o que nele está guardado, latente, e que necessita de ser trabalhado.
Este eclipse traz-nos um momento de activação das feridas que nos têm estado a consumir e, no fundo, a destruir também. Este é o tempo de as limpar, purificar e cauterizar. Esse é o trabalho de Quíron na essência deste eclipse, o de trazer ao de cima o que necessita de ser curado em nós, humanidade, semeando-o em cada um de nós, individualmente.
Se não estivermos a viver debaixo duma pedra nos últimos anos, ou eventualmente cegos pelos nossos medos, todos nós veremos que a humanidade está doente, ferida, em profunda dor. Vê-se claramente nos problemas do mundo, nas guerras que nos assolam, na escalada de ideologias que advogam discriminação, ódio, individualismo e competição, nos nacionalismos desmesurados, na necessidade doentia de poder, no materialismo, nas estruturas caducas e corrompidas que têm vindo a cair, que se revelam como um cancro que esteve a crescer e que começa a mostrar os sintomas da profundidade da doença.
Então, agora é tempo de extirpar a doença, de suportar a dor do tratamento que é necessário para a eliminar, que poderá pedir algum (ou mesmo bastante) tempo. Para tal, é preciso que tudo se revele, tudo seja visto, que a profundidade da ferida esteja visível, que o mal se mostre em toda a sua magnitude para poder ser devidamente tratado, se assim o escolhermos fazer. Na verdade, esse é o trabalho que tem sido feito nestes anos e que nos trouxe até este momento. É por isso, também, interessante compreender que o regente deste eclipse é Marte, em Peixes, que se encontra em conjunção com Saturno, uma energia poderosa de amor e devoção, mas de enorme resistência.
Marte em Peixes, regente do Eclipse, conjunto a Saturno, é como um líquido muito denso que entra no sistema circulatório da humanidade. Como um processo de quimioterapia, o seu efeito imediato é profundamente doloroso, intenso, diluidor e destruidor de estruturas. No entanto, tal é absolutamente necessário e crucial, pois, em Peixes, a chave é um trabalho de Amor e de Sacrifício. É preciso destruir para reconstruir, é preciso diluir para transmutar. Marte e Saturno dependem de Júpiter, em Touro, e de Neptuno, em Peixes, mostrando-nos esta verdade, pedindo-nos o sacrifício duma ligação doentia e desajustada com a matéria para que encontremos uma nova harmonia, levando-nos ao confronto com os nossos medos mais profundos.
Por isso, é também interessante que vivamos este eclipse nos primeiros dias de Mercúrio retrógrado, também em Carneiro, levando toda esta energia para dentro de nós, da nossa mente, mas também do nosso centro, do nosso coração. Mercúrio encontra em Carneiro o seu regente esotérico, a mente elevada para se tornar manifestadora da nossa Vontade, e no seu percurso, ainda durante o mês de Abril, encontrará Vénus, trazendo um pouco de luz, esperamos, a estes tempos tão intensos.
Embora, em muitos momentos, o tempo que estamos a viver seja assustador, a verdade é que é também um tempo de oportunidade única e sublime. O medo que encontramos quando nos defrontamos com o que se passa à nossa volta é o reflexo do que tem sido alimentado em nós, das feridas que estão abertas e sobre as quais precisamos de nos debruçar, em amor, para que as possamos apaziguar e curar. Não é fácil lidarmos com toda a dor e sofrimento que nos rodeia, neste mundo em que vivemos, tão próspero e belo, mas mais difícil é encararmos as dores que existem dentro de nós, as feridas que foram abertas no nosso percurso e que estão infectadas e inflamadas, e continuarmos a viver com elas, em sofrimento.
Este eclipse é, assim, um profundo grito de coragem para verdadeiramente Sermos e não apenas existirmos, que se projecta, em primeiro lugar, para a própria humanidade e que se manifesta através de cada um de nós. No fundo, é como uma escolha que nos está a ser colocada nas mãos e na consciência, e todas as escolhas, passadas, presentes e futuras, têm consequências que nos recordam das responsabilidades que nelas estão implícitas, mesmo que muitas vezes não o compreendamos.
Qual é o caminho que queremos percorrer? Quais são os passos que pretendemos dar? Cabe a cada um de nós escolher, decidir e agir em conformidade, assumindo também o que dessa escolha provir. É-nos pedido, por isso, uma posição, uma verdadeira afirmação de quem somos e do nosso lugar no mundo, o enorme processo que Plutão em Aquário nos oferece. É preciso, contudo, recordarmo-nos que o Tempo, simbolizado por Saturno, o grande dimensionador da nossa existência neste plano, não vai parar à espera das nossas escolhas, pois ele flui para lá do nosso poder, trazendo no seu leito os movimentos celestes e oferecendo-nos as suas energias.
Este não é um tempo fácil, como todos nós temos percebido, não é sequer linear nos seus processos, mas é muito importante e especial. Este Eclipse Solar, no Signo de Carneiro, conjunto ao Quíron, é uma peça crucial deste caminho, um mergulhar num lugar escuro e encarar o que nele encontrarmos, um grito de coragem e de despertar. Se nos reencontrarmos na nossa essência, se nos permitirmos lidar com as nossas dores mais profundas, mas em profundo Amor, trabalhando as nossas feridas e medos, sacrificado as nossas ilusões, poderemos tornar este eclipse e o seu rasto numa iniciação, num caminho pelo nosso fogo interior, acender a fé e a esperança em cada nós e espalhá-la pelos corações daqueles que connosco se cruzam.
Palavras certeiras e diretas!! Obrigada Leonardo por nos agraciares com as tuas palavras. 🙏
Gratidão 🙏