
No início dos tempos, o relógio do Mestre Tempo foi posto em movimento, delineando todos os movimentos dos planetas e das estrelas até para lá do tempo de vida de todos os seres mortais, que não são meros espectadores do seu percurso, mas sim parte bem activa de todo este caminho que fazemos. Ao contrário do que por vezes podemos pensar, a linha de tempo que vivemos não é direitinha, linear, como lhe poderíamos chamar, mas sim intrincada, em espiral, movendo-se em ciclos contínuos de aprendizagem e evolução. Nesse percurso, todos os momentos são únicos e irrepetíveis, mas existem alguns que são tão especiais que, no meio desses caminhos, tornam-se verdadeiras pontes.
Ao longo dos últimos anos temos vivido processos muito fortes e desafiadores que, quase incessantemente, nos têm levado a limites e, sem dúvida, nos têm transformado. Este ano, como referi na Palestra – 2023: O Romper das Águas, tem todos os ingredientes para ser um momento muito forte e intenso, até porque, creio, é uma espécie de ponto central destas transformações profundas que estamos a viver. Para além disso, os eventos de Março, estendendo-se um pouco para Abril, são uma enorme chave para os caminhos que temos pela frente, de tal forma que senti importante trazer este momento, com especial destaque para o início do Ano Astrológico, que se deu no dia 20 de Março, para este artigo, o primeiro de alguns que ao longo deste ano trarei sobre os eventos que iremos viver daqui para a frente.
Uma das formas de compreendermos os processos que nos são apresentados é entendendo as energias que estão a ser trabalhadas e dinamizadas nesse período de tempo. Quando, mesmo no final de 2017, Saturno entrou em Capricórnio, onde já se encontrava Plutão há quase 10 anos, ingressando no primeiro signo da sua regência, seguido pela entrada de Úrano em Touro e Quíron em Carneiro, começavam-se a adivinhar tempos de mudança e transformação.
Anunciava-se também, nessa altura, um tempo mais desafiador, mais denso, uma preparação para três grandes eventos/processos, a conjunção entre Saturno e Plutão em Capricórnio, no início de 2020, aos quais se juntou depois Júpiter, o grande impulsionador da pandemia e de tudo o que viveríamos nesses anos, que parecem distantes, por vezes, mas que foram há muito pouco tempo, a grande conjunção entre Júpiter e Saturno, abrindo um novo ciclo global no elemento Ar, e a quadratura entre Saturno e Úrano. Cada um à sua maneira, estes três e outros que, aparentemente pequenos, foram decisivos e cruciais, mexeram no mundo em que vivemos e quebraram barreiras, mudaram paradigmas, impulsionaram processos que, hoje, começam a dar maiores sinais do que nos espera no tempo que se aproxima.
É impossível ignorarmos a importância do momento que estamos a viver, nem a energia destes tempos nos permite fazê-lo. Estamos, sem dúvida alguma, a ser empurrados para sermos parte integrante da nossa vida e até podemos tentar fugir um pouco, assobiar para o lado, como se costuma dizer, mas a realidade chega até nós, bate-nos de frente e obriga-nos a trabalhar, primeiro e acima de tudo, em nós mesmos, até conseguirmos compreender os caminhos que fizemos, que estamos a fazer e decidir quais os passos a seguir. É nessa consciência que nos tornamos parte integrante da nossa própria vida, estamos presentes, agimos, impulsionamo-nos, saímos da sombra da apatia e nos permitimos ser criadores. Esta é a energia que Carneiro nos recorda, a energia que se abre com o Equinócio da Primavera (no Hemisfério Norte), o início do novo ano astrológico.
Cada ano apresenta-nos dois equinócios e dois solstícios, um por cada início de estação. Em Março, iniciando o ano astrológico, o Equinócio traz-nos o arranque do signo de Carneiro, simbolicamente associado com a energia do arranque da Primavera, mas que também nos dá o mote da energia do ano (ou de parcelas dele) que iremos viver. É verdade que todos os anos temos estas energias a serem vividas e disponíveis para as trabalharmos. Contudo, há anos que, pela intensidade desse momento e do que o rodeia, ele se torna muito especial. 2023 traz-nos um bom exemplo desta premissa.
O Equinócio é o momento em que o tempo de dia e de noite são iguais, trazendo-nos um simbolismo de equilíbrio entre luz e sombra no caminho do astro maior, o Rei Sol. O Sol, que no Solstício de Inverno renasce, Invicto, como era chamado na Roma Imperial e no paganismo, vai conquistando o espaço que a noite ocupava, tornando-se maior a cada dia. Chegado ao equinócio, ele defronta-se de igual para igual com a sombra, conquistando-a até ao Solstício de Verão, quando o dia mais longo do ano anuncia também o decréscimo do dia até à sua nova morte e renascimento.
É neste tempo intermédio, em que o Sol, vencendo o tempo da noite, reconquista a sua força no alimento da vida, dá início à Primavera, fazendo com que as sementes, que durante o Inverno quebraram a casca e se sedimentaram nas suas raízes, agora possam rasgar a terra e dirigir-se para o adorar, para gerar novas folhas, flores e, por fim, os frutos que serão esse mesmo alimento. Simbolicamente, é a vibração do signo de Carneiro, o impulso da vida, da vontade de Ser, que se apresenta e, com ela, o novo ano zodiacal tem o seu início.
Nesta consciência, podemos compreender que o que este novo ciclo zodiacal nos pede é que passemos dos pensamentos aos actos, que coloquemos a mão na massa para podermos atingir as transformações que pretendemos, mesmo que ainda não saibamos muito bem para onde ir ou o que fazer.
O Equinócio de 20 de Março de 2023 tem várias características muito especiais, tornando-se num dos mais significativos destes últimos tempos. Como referi atrás, vivemos tempos que são verdadeiras pontes entre épocas, transições de vibrações energéticas significativas que, no seu processo, nos vão transformando enquanto sociedades e humanidade. Em cada vivência, encontramos pequenas peças, pequenas chaves que nos vão abrindo portas e nos trazendo mais processos e experiências. Não podemos dizer que existirá um fim, mas existem momentos que são mais desafiadores que outros e este, sem dúvida é um desses.
A importância deste ingresso do Sol no signo de Carneiro está, não apenas na energia do próprio ingresso, mas também pelo que esteve e estará a ser vivido durante estas semanas. De forma muito bela, nos céus, podemos ver como maior parte das energias estão em Peixes, Carneiro e Touro, mas com dois pequenos, mas muito importantes apontamentos, Marte em Gémeos e Plutão em Capricórnio, ambos nos graus finais dos signos, preparando as suas saídas (no caso de Plutão, a primeira).

Marte e Plutão são, na realidade, dois pontos com uma extrema afinidade, pois ambos são regentes de Escorpião, signo onde está o Nodo Sul, e desenvolvem um quincúncio entre eles, um aspecto que traz um desafio de ajustamento através duma correcção que necessita de ser feita, como os utensílios dum cirurgião que está a operar para remover algo que está a impedir a vida de fluir e, até, a destruí-la. Marte é também um dos senhores deste ingresso, regente de Carneiro, sendo um dos orientadores destes tempos através da sua energia. Ao estar em Gémeos, onde, em 7 meses entre 2022 e 2023, faz um trabalho profundo, ele orienta-nos para uma necessidade de trazermos a mente à acção, mas com a percepção de que é preciso levarmos também os nossos actos aos pensamentos, pois Marte está a dirigir a sua energia para Mercúrio, que está em Carneiro, que a devolve a Marte, gerando o que chamamos de recepção mútua, uma partilha de energia que pode, e deve ser, criadora.
Nesta consciência, podemos compreender que o que este novo ciclo zodiacal nos pede é que passemos dos pensamentos aos actos, que coloquemos a mão na massa para podermos atingir as transformações que pretendemos, mesmo que ainda não saibamos muito bem para onde ir ou o que fazer. A reforçá-lo está o facto de este ser um ingresso sem nenhum planeta retrógrado, mostrando-nos que a energia está disponível e aberta para ser impulsionada. No entanto, isto solicita-nos uma profunda consciência emocional e um trabalho que, a cada dia, se torna mais essencial, o de transformarmos os nossos valores, tornando-nos mais humanos, mais em prol do bem comum, menos egoístas, menos individualistas, mas também mais amorosos, empáticos e, podemos dizê-lo, espirituais.
Esta é a proposta da energia de Peixes, trazida por Saturno e pela Lua em conjunção com Neptuno, mas também da energia de Plutão, que está em transição para o signo de Aquário. Na verdade, este início do ano zodiacal é o último, nos próximos dois séculos e meio, sensivelmente, com Plutão no signo de Capricórnio. Por isso, este é também o tempo para que as velhas e caducas estruturas caiam definitivamente, não sendo também por um acaso, embora isso seja tema para um outro artigo, que temos visto problemas no sistema financeiro e económico, como a inflação alta, os preços no imobiliário e as desigualdades sociais a ganharem mais voz, impulsionando enormes ondas de contestação.

Apenas um pequeno aparte, mas importante. Para Portugal, este novo ano tem uma profunda intensidade e um propósito de transformação muito profundo. Com um Ascendente no Signo de Escorpião, regido pelo Marte e pelo Plutão, o mapa do ingresso do Sol em Carneiro é válido como energia para todo o ano astrológico, trazendo-nos a energia de mudança e de transformação necessárias para que possamos afirmar uma identidade mais alinhada com o grande propósito que, acredito, Portugal tem.
Não será, de certeza, um ano simples ou linear, nem que seja por tudo o que acontece à nossa volta, mas não passará, necessariamente, por mudanças governamentais ou algo do género, bem pelo contrário, acredito. Contudo, haverá, certamente, um maior escrutínio e uma maior exigência para com todos os órgãos legislativos e os vários agentes e poderes da sociedade, revelando o que não está bem nem alinhado com o nosso crescimento, trazendo uma maior preocupação e foco nas necessidades das várias áreas da sociedade, da população, a vida que temos e levamos, assim como as desigualdades que precisam de ser mitigadas.
No entanto, recordemo-nos que as sociedades são o reflexo dos seus cidadãos, os países são o reflexo dos seus habitantes, a humanidade como conceito é o reflexo de todos os seres humanos que aqui estão na Terra. Os problemas que vivemos nas sociedades e na humanidade são manifestações das feridas que temos enquanto seres, da forma como fomos e nos temos construído, do que alimentámos em nós nestes tempos.
O que este novo ano astrológico tem também de muito especial é a sincronicidade de eventos de que está rodeado. Pouco antes do seu início, no dia 7 de Março, Saturno fez o seu ingresso no signo de Peixes, mudando substancialmente a vibração energética que temos estado a viver, levando-nos para uma vivência mais emocional e uma necessidade de estarmos em sintonia estrutural com o que último signo do Zodíaco nos solicita.
Maior empatia, maior compreensão do que nos liga uns aos outros, mais amor, tudo isso foi projectado para o início do novo ano, que se dá também com a Lua em Peixes. É esse mote, que nos dilui a todos e nos coloca no mesmo barco, que nos solicita também que sejamos capazes de compreender que estamos todos ligados, que esta clivagem e diferença social tão agudizada não é resultado de muitos serem preguiçosos ou ignorantes, mas sim de haver uma profunda vivência egoísta e desconectada, não só uns dos outros, mas também da própria natureza, dos animais, da Terra. A continuar este caminho, iremos rumo a um processo de autodestruição, onde nem o mais rico dos ricos se salvará.
Os dias seguintes ao ingresso do Sol em Carneiro também nos trazem acontecimentos especiais. Logo no dia 21, dá-se a Lua Nova de Carneiro, amplificando e impulsionando a energia do próprio ingresso, onde se destaca Úrano sem aspectos maiores, mais radicalizado e menos regrado, na verdade até mais apurado nas suas acções. No dia 23, Plutão faz o seu primeiro ingresso no signo de Aquário, trazendo a primeira força de impulso duma nova transformação profunda da humanidade, vista pela última vez no período das revoluções americana e francesa, quando ainda nem sequer sabíamos que Plutão existia e que, por isso, agora fará um trabalho muito mais consciente, preciso e poderoso.
A estes acontecimentos podemos juntar um último, que se dará no dia 20 de Abril, um Eclipse Solar aos 29º50’ de Carneiro, ainda com os nodos no eixo Touro-Escorpião, mas trazendo ainda mais poder a este início de ano. Um eclipse solar é uma Lua Nova, o que faz com que, este ano, tenhamos duas luas novas no signo de Carneiro, dois tempos de sementeira para agir, para libertar potencial, para sermos, mas integrando a necessidade de desapego profundo desta necessidade da matéria que nos tem regido e de uma vivência mais alinhada num propósito maior, amoroso, mais humano e em conexão com a nossa essência.
O caminho a fazer é o de sermos nós mesmos e não mais o de termos algo. É esse Ser que nos define, que revela o nosso potencial, a nossa Centelha Divina, Deus em nós.
Atrás referi, de certa forma, que o mundo reflecte o que nós, enquanto seres, temos construído em nós. Digo muitas vezes que tudo o que vemos à nossa volta está dentro de nós, mas de forma amplificada e, de muitas maneiras, diferente, as feridas que vemos no mundo temo-las em nós, individual e colecivamente. Ao longo de mais de dois séculos construímos um mundo profundamente assimétrico, baseado no poder, no ter, na posse e na matéria, mas essa estrutura já não funciona nem é capaz de suportar tudo o que somos e o nosso propósito de evolução.
Estes tempos, e toda a energia deste novo ano astrológico é reflexo disso, pedem-nos uma consciência profunda de que somos matéria e estamos na Terra para fazer uma aprendizagem do que a matéria tem para nos oferecer. No entanto, nesta construção, caímos nas malhas da densidade deste plano e colocámos as fundações da nossa “casa” na necessidade de posse e de poder, algo que nos tem dividido, separado e quebrado, que nos tem, verdadeiramente, adoecido e nos tem levado, lentamente, para a destruição.
O caminho a fazer é o de sermos nós mesmos e não mais o de termos algo. É esse Ser que nos define, que revela o nosso potencial, a nossa Centelha Divina, Deus em nós. Para tal, o que nos está a ser pedido é um profundo processo de desapego da matéria, que não passa por deixarmos de ter posses, nem sequer passa por grandes transformações, pelo menos no imediato, dos sistemas que nos têm regido, mas sim por coisas muito mais sublimes. Essas transformações maiores existirão, nalgum tempo da nossa evolução, provavelmente em tempos em que nenhum dos que hoje habitam a Terra cá estarão, pelo menos nesta encarnação, mas de nada servirão se não soubermos purificar o momento presente e o tanto que construímos.
Se não soubermos viver em plenitude e harmonia com os recursos que construímos e desenvolvemos, como poderemos saber estar com algo que poderá ser melhor e mais potenciador? Já vemos essa mesma realidade, com o enorme desenvolvimento tecnológico que temos tido nestes últimos 30 anos, mas que ainda não integrámos, mas que, ainda assim, continuamos a impulsionar. Desenvolvemos as redes sociais há cerca de uma década, encurtámos distâncias e temos o mundo ao alcance dum pequeno aparelho, mas não aprendemos a filtrar a informação, desaprendemos até de pensar criticamente, abrindo espaço para que velhos fantasmas ganhassem espaço para voltar, como as extremas direitas um pouco por todo o mundo.
A evolução que tanto procuramos passa por um processo prioritário de destruição de estruturas, de forma a que consigamos construir bases sólidas para novos caminhos. Por isso, hoje, mais do que nunca, precisamos de nos recordar que é na matéria que estamos e que escolhemos viver. É na Terra, que na verdade é uma enorme e brilhante escola, que estamos e é nos seus preceitos que podemos fazer este percurso. Não adianta de nada fugirmos da vivência na matéria, pois seremos, como referi acima, empurrados para a vida, de forma bruta e, por vezes, violenta.
O que nos está a ser solicitado é, então, um profundo e amoroso processo de abnegação, de entrega e desapego, que não passa por retirar a matéria das nossas vidas, mas sim por, definitivamente, estarmos em sintonia com ela, compreendendo que ela é abundante em harmonia, tornando-se, nesse preceito, verdadeiramente infinita. A finitude dos recursos, tão apregoada nas faculdades de economia pelo mundo fora, só existe porque estamos em profunda desarmonia com tudo o que nos rodeia, começando pelo próprio planeta, fruto duma profunda arrogância que fomos alimentando ao longo de séculos. O que este tempo nos solicita é o seu complemento, o amor profundo, a empatia, a conexão humana, espiritual, que constrói, ligando, que não divide mais nem destrói, mas tornado acção, movimento e impulso. Por isso, este novo cilo é tão singelamente importante, tão subtilmente poderoso, encaminhando-nos nesta ponte em que nos encontramos, oferecendo-nos a possibilidade de, verdadeiramente, sermos.