
Quando pensamos em Tarot, pensamos, muitas vezes, em consultas e em previsão do futuro, em compreender se o melhor caminho será pela esquerda ou pela direita ou, tão simplesmente, ficar parado no mesmo sítio à espera de melhores dias. No entanto, o Tarot, se assim pretendermos, traz-nos uma dimensão mais profunda e reveladora do nosso Eu, dando Luz aos nossos desafios e mostrando-nos o que está para além do que é visível. Quando se trabalha com o Tarot como um mapa, e não como um oráculo, é essa revelação que conseguimos obter.
Podemos olhar o Tarot sob, fundamentalmente, três grandes perspectivas. Em primeiro lugar, temos o seu uso mais conhecido e vulgar, o da previsão e adivinhação. Ao contrário do que muitos, por estes tempos, dizem, este lado de previsão, que provém dum trabalho primordial com o Tarot, é perfeitamente normal, necessário e importante. O Tarot não nos indica um futuro, mostra-nos um caminho e conclui que, se eu seguir nesse mesmo trilho, há um ponto ao qual eu vou chegar. Para esta dimensão, há várias variáveis e pontos em jogo, até porque o tempo do Universo é, cada vez mais, pouco semelhante ao nosso tempo. No entanto, há uma tarefa especial nesta visão preditiva, a de sermos os portadores da voz da consciência de cada um dos que a nós se dirige, que precisa de um norte, de uma orientação, de uma esperança, tantas vezes. Mais do que prever, para mim, esta visão é uma visão de orientação e de confiança, que permite à pessoa ter uma perspectiva de para onde se dirige, tomando depois as rédeas do seu caminho.
Sempre que falo de Tarot, recordo-me da primeira consulta a que fui, ainda longe de pensar trabalhar com esta maravilhosa ferramenta, onde diversas orientações me foram dadas, onde nada do que me foi dito que iria suceder, realmente aconteceu. Olhando para trás, acredito que se me tivessem sido ditas coisas diferentes, provavelmente, eu desistiria de um caminho, eu teria baixado os braços e ter-me-ia deixado levar pelo pessimismo. Olhando também para trás, vejo que, em cada passo, eu escolhi, voluntariamente, uma direcção diferente, uma opção contrária, tomei consciência do meu caminho, vi o que precisava de ver, ouvi o que precisava de ouvir, e usei uma das coisas que mais valiosas tenho, o meu livre-arbítrio.
Pensando neste ponto, observo a segunda perspectiva, ou dimensão, que está presente no Tarot, a do olhar psicológico, da visão consciente do Ser. O Tarot descodifica o inconsciente e traz o que é necessário para o consciente, aquilo que a pessoa está preparada para compreender e que precisa de ouvir. Aqui vamos olhar as origens, as raízes profundas, as verdadeiras razões para este ou aquele desafio. Compreender verdadeiramente o meu Eu é compreender o caminho que faço, os passos que dou, que terra piso, que escolhas fiz, entendendo, ao mesmo tempo, o que me levou até este ponto onde estou, neste preciso momento. Para muitos, isto pode ser supérfluo, mas a verdade é que o Tarot não é um simples oráculo de adivinhação, ele tem em cada arcano, maravilhosamente representado, uma parcela das energias que nos regem, que nos constroem, que nos tornam seres em constante evolução e, como tal, ele tem a capacidade de ultrapassar os limites do Eu, acedendo às razões concretas de algo que nos está a transtornar.
O Tarot, no fundo, é muito mais do que essas simples cartas, é um conhecimento integrado ao qual podemos aceder, localizado na grande biblioteca que a todos nos une, o Inconsciente Colectivo, construída por cada um de nós em cada encarnação que aqui na Terra se disponibiliza a abraçar.
Sou confrontado diversas vezes com pessoas que me dizem que têm um problema numa determinada área das suas vidas, mas, quando começamos a explorar a sua questão, compreendemos que o bloqueio não está directamente ligado a essa área, mas sim a algum paralelo, a uma razão mais profunda, a uma barreira do Ego, originada pela educação, pelas crenças, pela forma de se ver a si mesma. Olhar o momento ou a questão de alguém através do Tarot é aceder à psique da pessoa e trazer as sombras até à Luz, de forma a poderem ser identificadas, compreendidas, assimiladas e trabalhadas, elevando-nos a uma tomada de consciência mais profunda, cumprindo mais uma parcela do nosso caminho aqui na Terra.
Invariavelmente, não poderíamos esquecer o lado mais profundo do nosso ser, o sentido de vida, a verdadeira espiritualidade. A perspectiva espiritual do Tarot é uma das mais fascinantes, mas também das mais profundas que podemos trabalhar. No fundo, ela nunca deixa de estar presente, mas aceder a informações do foro esotérico e espiritual implica um trabalho muito profundo sobre, primeiro que tudo, nós mesmos. Não podemos esperar encontrar razões para além das questões psicológicas em quem nos procura se não fazemos um trabalho de compreensão, aceitação e transformação do Eu, assim como também de nada serve aventurarmo-nos nesses domínios quando, à nossa frente, alguém não está disponível para essa compreensão. A verdade é que uma visão mais espiritual está sempre presente, pois compreender os nossos desafios e actuar é também cumprir o mais belo e profundo caminho que o nosso espírito, num momento, escolheu fazer aqui na Terra. Também verdade é que muitos procuram uma visão espiritual, com contornos kármicos e sustentação em diversas vertentes ocultas, apenas por uma questão de curiosidade ou coscuvilhice, sem qualquer fundamento de compreensão superior dos seus desafios, sem qualquer humildade nem entrega. Certo também é que, nesses casos, o Tarot não permite um acesso livre à informação, mas sim orienta-nos a transmitir o que aquele ser necessita de compreender sobre si mesmo na jornada pessoal aqui na Terra.
Não podemos pensar que tudo isto está separado, pois o Tarot é uma disciplina integrativa, um conhecimento aglutinador e transformador, que permite uma compreensão interdimensional e integrada, até da mais pequena questão. É a sua beleza, não pelas imagens ou pela arte, mas sim pela divina história que ele nos transmite sobre cada um de nós, mostrando-nos que todas as almas na Terra, e para lá dela, têm um caminho evolutivo comum, que o fazem num ritmo pessoal e individual, ajustado à sua determinação, vontade e entrega, que só pode ser medido pelo Amor que dedica em cada passo da sua jornada. Respeitar o Tarot e o seu trabalho, o olhar que ele nos permite ter sobre nós e sobre cada questão, não é excluir uma ou outra parte, aceitar apenas isto ou aquilo, traçar constelações de um esoterismo superior, mas sim compreendermos que, em cada consulta, o Tarot é um farol, que quem interpreta é um canal, quando de coração assim se propõe a ser, e que uma consulta é uma conversa entre Almas que se predispõem a crescer, a evoluir, e escolhem esta humilde ferramenta, de pedaços de cartão com imagens impressas feita, para as ajudar nesta tarefa.
O Tarot, no fundo, é muito mais do que essas simples cartas, é um conhecimento integrado ao qual podemos aceder, localizado na grande biblioteca que a todos nos une, o Inconsciente Colectivo, construída por cada um de nós em cada encarnação que aqui na Terra se disponibiliza a abraçar. Por isso, quando olhamos para as nossas questões através do Tarot, fazemo-lo com um olhar especial, um olhar de milénios de construção de indivíduos, de impérios, de sociedades, de estruturas energéticas, fazendo com que cada parcela deste conhecimento, na verdade, ressoe nas nossas células, active-as, liberte-as e cure-as, pois, sendo uma ferramenta interdimensional, também o seu trabalho ultrapassa os limites da interpretação, da orientação e da tomada de consciência, acedendo à cura do espírito, que só é possível quando nos propomos a olhar profundamente para dentro de nós mesmos.