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Recarregar

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Quando chegamos a meio do ano, começamos o tempo em que uma parte substancial de nós vai gozar do seu período maior de férias. É neste momento que começamos também a ver uma espécie de desacelerar do ritmo geral, ainda que esse movimento seja, maior parte das vezes, apenas ilusório, até porque, nos dias que correm, tudo continua a funcionar mais ou menos no mesmo ritmo, apenas havendo uma sobrecarga de quem está a trabalhar. De qualquer forma, com as férias escolares e o Verão, esta é a altura que, preferencialmente, escolhemos para desligar um pouco e recarregar as nossas baterias.

Muitas vezes, esperamos ansiosamente por esta altura, chegando aos últimos dias de trabalho ainda mais cansados do que o normal, pela tentativa de deixar tudo pronto e despachado. Esse stress extra leva-nos a uma necessidade de ainda mais tempo para conseguirmos fazer o que as férias nos solicitam: descansar, desligar e recarregar. Muitas vezes, também, terminamos as nossas férias com um cansaço ainda bem presente, vivendo anos a fio numa sobrecarga que nos afecta a vários níveis.

Vivemos, há muitos anos, num ritmo que se tem tornado cada vez mais pesado e desafiador, em que o tempo parece nunca dar para tudo, nunca chegar para todas as obrigações que cada dia nos coloca. Isto faz com que, muitas vezes, fiquemos ansiosos por chegar a estes períodos de férias, esquecendo que, embora eles sejam muito importantes, cruciais mesmo para o nosso bem-estar, é também verdade que existem coisas que, no nosso dia-a-dia, podem ser mudadas e transformadas em pequenos pontos de energia.

Esquecemo-nos muitas vezes de nos dar espaço nas nossas próprias vidas, priorizando tudo e todos à nossa volta, dando-lhes toda a nossa energia, pois foi-nos constantemente ensinado, mesmo sem ser desta forma, que os outros estão primeiro do que nós. Nessa crença incutida de forma constante, desdobramo-nos entre trabalho, filhos, relacionamento, pais e tantas outras coisas que nos solicitam muito tempo e atenção. Não podemos falhar nessas nossas “obrigações”, mas esquecemo-nos que, desta forma, falhamos com o que é prioritário, nós mesmos.

Cuidar dos outros e de todas as coisas que nos envolvem não pode ter como custo maior o nosso próprio bem-estar. Isso também não significa que temos de entrar numa postura egoísta e desligada de tudo. Estes são extremos nos quais podemos entrar por estarmos desconectados da nossa própria essência, mas tudo pode ser vivido num equilíbrio, desde que tenhamos consciência do nosso lugar nessa equação. Cuidar é uma verdadeira dádiva que implica ter a noção concreta de que só podemos dar o que temos. Se damos algo que não nos pertence ou para lá do que temos, criamos uma “dívida” que, normalmente, é paga com a nossa própria integridade, seja ela física, emocional ou mesmo moral.

Recarregar as nossas baterias não está num curto período que chamamos de férias, mas sim numa mudança de postura constante, num total compromisso connosco próprios.

Por isso, quando cuidamos, como a mulher que tem um feto no seu ventre e que o nutre para que ele cresça, ou quando amamenta o seu filho, e que só o poderá fazer se se alimentar primeiro, é essencial que estejamos bem, que cuidemos primeiro de nós. Se não o fazemos, não estamos a cuidar, mas sim numa vivência de dependência, quer da nossa parte, quer dos outros. Cuidar, mesmo que seja numa dádiva gigantesca, pede-nos este olhar sobre nós, consciente e honesto, verdadeiro e realista, e uma atitude em sintonia com essa mesma percepção.

É nesta verdade que se torna essencial compreendermos que nunca será um período de férias, por mais paradisíacas e extraordinárias que sejam, que nos irá recarregar as baterias e fazer-nos aguentar a pressão das obrigações e as solicitações de cuidado que constantemente nos chegam. Pelo contrário, esse tipo de período de descanso, tão idílico, que é óptimo e recomendável, pode apenas amplificar um vazio e a necessidade de fuga que, tantas vezes, nessas situações, sentimos. É necessário, na verdade, focarmo-nos em conseguir ter um maior equilíbrio no nosso dia-a-dia, ouvir-nos, ao nosso corpo e às nossas necessidades, e, dessa forma, ir carregando um pouco as nossas baterias ao longo do tempo. Assim, ao chegar esse momento de mais descanso, não estejamos a recarregar quase do “zero”, mas sim reforçar a nossa própria energia, mente e corpo.

Para isso, é preciso mudar hábitos, fazer compromissos e cedências e encontrar, de forma regular, um tempo para nós mesmos. É com pequenas coisas, como um tempo de descanso ou dedicado a algo que nos preenche, um passeio, uma actividade física, entre tantas outras coisas, que vamos conseguindo repor a nossa energia. Muitas vezes, também, é preciso perceber que é mais difícil recarregar as nossas baterias com actividades que têm o mesmo tipo de movimento da nossa vida normal. Tornámo-nos muito sedentários com os nossos trabalhos e, por isso, um tempo de paragem, de leitura ou a ver televisão pode ter um resultado muito limitador.

Tudo é energia e nós também. Neste plano, a energia procura harmonia, ajustando-se sempre para a obter. Por isso, quando há um acumular de algo, é preciso existir um ponto de libertação, assim como quando existe um largar em demasia, tem de haver um estancar para repor. É esta harmonia que nos rege (ou pelo menos assim deveria) neste plano e é sobre ela que devemos olhar a nossa vida. Só quando paramos para nos ouvir, para nos recentrarmos, é que descobrimos os nossos pontos de equilíbrio e tomamos consciência do que não está bem. Esta questão afecta-nos a todos sem qualquer excepção, desde o mais sábio ao menos consciente, pois não tem a ver com essa variável do nosso entendimento, mas sim com a forma como o nosso ritmo de vida está estruturado.

Recarregar as nossas baterias não está num curto período que chamamos de férias, mas sim numa mudança de postura constante, num total compromisso connosco próprios. Esta mudança não é fácil nem linear, mas começamos a vivê-la quando nos começamos a colocar em primeiro lugar, quando impomos limites e filtros ao que nos está a retirar energia, quando definimos as nossas prioridades e nos permitimos sair de alguns loopings em que a vida nos coloca. Por vezes, maior parte das vezes, na verdade, tudo é muito mais simples do que imaginamos ou do que criamos como expectativas. Por vezes, também, só o fazemos quando somos chamados à realidade, quando um alerta soa.

Encontrarmo-nos nos nossos próprios ritmos e nas nossas próprias vidas é uma tarefa assustadora, mas sempre essencial. É esse trabalho interior que nos permite recentrar, voltar ao nosso coração, recordarmo-nos da nossa essência e redescobrir o amor que temos por nós mesmos. Nesta consciência, podemos compreender que é crucial recarregarmo-nos, sim, mas de amor próprio, compaixão, verdade, serenidade, aceitação e perdão, energias fundamentais de cura, de crescimento e de profunda evolução. É com elas que nos iremos sentir mais plenos de nós mesmos e, assim, abraçar melhor todos os desafios que a vida nos coloca.

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