fbpx
Scroll Top
Avenida Miguel Bombarda, 21 - 7º Dto - 1050-161 Lisboa

Úrano em Touro – Elos de Mudança

20180517uranoemtouro

Desde o início dos tempos que o Universo vive numa harmonia perfeita, uma constante interacção energética que tem como grande propósito a verdadeira evolução, não aquela que nos torna superiores, mas sim a que nos eleva para um maior e mais perfeito aprimorar de consciência do nosso Espírito, num caminho constante e exponencial em direcção ao Todo. Nesse percurso, no plano dimensional em que vivemos, há momentos em que somos confrontados com grandes mudanças energéticas, mudanças essas que nos propõem reflexões, decisões, alterações e transformações, sempre no sentido dessa mesma evolução. Este momento que vivemos é, sem dúvida, um desses tempos de mudanças, de modificação energética neste plano que, por intensificarem algumas memórias que residem karmicamente nas nossas células, se torna peculiarmente importante olharmos para elas com um especial cuidado.

Após mais de sete anos no Signo de Carneiro, Úrano entrou no Signo de Touro, onde já não transitava desde Maio de 1942, trazendo-nos um tempo de grandes e importantes mudanças, de urgentes reorganizações e solicitações, de um profundo reajustar global, interno e externo, com vista a, no ideal, dar mais alguns passos na harmonização do mundo em que vivemos, começando pelo nosso mundo interno, por nós mesmos. Este não será um momento simples ou subtil, mas será, com toda a certeza, crucial para que possamos continuar a cultivar a nossa capacidade de sermos humanos e elevarmos essa condição a algo mais elevado do que tem sido nestas últimas décadas, para não ir mais longe.

De Maio de 2018 a Abril de 2026 Úrano irá transitar no Signo de Touro, com duas interrupções, devido ao seu movimento de retrogradação, entre Novembro de 2018 e Março de 2019 (período em que estará novamente em Carneiro), e entre Julho e Novembro de 2025 (período em que fará a primeira incursão no Signo de Gémeos), e neste tempo ele irá pôr em causa, quebrar, romper e revolucionar os temas deste signo, nomeadamente todas as questões ligadas a valor, posses, bens e a própria relação com esses conceitos e com a matéria. Dado que vivemos num plano onde a grande aprendizagem é, precisamente, a adequação da matéria ao Espírito e a sua elevação, o que nos irá ser pedido é uma desconstrução de uma parte essencial do nosso ser, algo que, muitas vezes, para além de profundamente desafiador, destrói algumas das bases que achávamos totalmente seguras e fortes, o que nos leva a um desequilíbrio que pode ser perigoso. Contudo, uma certeza, a de que muita coisa mudará, precipitando-nos numa nova realidade do mundo em que vivemos. Assim foi noutras alturas, assim será, certamente, nesta.

A Voz de Deus

Mitologicamente, Úrano é um dos seres primordiais, gerado espontaneamente por Gaia, a Terra. Úrano é o Céu, a sua infinitude, que cobre por completo a Terra, que fecunda Gaia todas as noites, mas que odeia os seus filhos e recusa-os, um após o outro, deixando a sua mãe em enorme dor e sofrimento. Com Gaia, Úrano gerou os Titãs, responsáveis pela ordem universal, entre outros seres que, recusados, entregava ao Tártaro. Úrano representa, assim, ao mesmo tempo, o infinito do Universo, a extensão do vazio que o Caos, entidade primordial que tudo gerou, preconizou, mas também a dor da aceitação da manifestação da nossa individualidade.

Gaia, cansada da recusa e do aprisionamento dos próprios filhos dentro de si, consegue com que um deles, Cronos (Saturno), com uma foiça formada por uma lâmina forjada de um metal que retirou do seu interior, castre Úrano e o destitua do seu poder supremo. Nesse momento, Saturno torna-se senhor de todo o mundo, sendo também ele, mais tarde, conforme vaticinado por Úrano, destituído pelo próprio filho.

“A Castração de Urano”
Fresco – Giorgio Vasari e Cristofano Gherardi, c. 1560 (Sala di Cosimo I, Palazzo Vecchio)

Ainda que simbólica, a castração de Úrano por Saturno representa um dos pontos essenciais do trabalho deste planeta, que se manifesta, precisamente, por um potencial criador fantástico e único, mas que é, por nós mesmos, constantemente castrado, pelo medo da diferença, pela busca de algo que, muitas vezes, não temos bem a percepção do que é. Tudo o que Úrano cria é diferente, é único, o que muitas vezes se torna assustador e que, tantas outras vezes, recusamos, queremos esconder. Contudo, aquilo que Úrano nos permite criar é verdadeiramente singular, a manifestação mais plena e crua do que o nosso Espírito é capaz.

Digo muitas vezes que Úrano é a Voz de Deus em nós, não num sentido religioso, óbvio, mas sim num sentido superior e espiritual. Ele é o que podemos chamar da oitava superior de Mercúrio, a mente aprimorada, direccionada para um sentido elevado. Se Mercúrio era um intermediário entre os deuses, manifestando, por isso, em termos astrológicos, a forma como expressamos tudo o que nos compõem, conferindo-nos uma parcela da nossa personalidade, o funcionamento da nossa mente, a racionalidade, Úrano é a mente superior, o canal directo entre o Espírito e a matéria, o residual ao qual podemos aceder, com muito trabalho e dedicação, com entrega e desafio a nós mesmos, de nos superarmos e de nos ultrapassarmos a nós mesmos, assumindo a nossa essência e individualidade.

O trabalho de Úrano no nosso mapa faz-se com o trabalho contínuo e equilibrado de Saturno, pois o seu filho que o castra, sem dúvida, mas é esta mesma castração que permite a Úrano libertar-se duma espécie de vivência fechada à volta de Gaia e poder expandir-se, poder ser maior do que ele mesmo, continuando a cumprir a mesma missão de rodear e envolver a Terra, de a proteger e de dar condições essenciais ao cumprimento do propósito de todos os seres nos seus domínios. A mitologia não nos fala muito mais de Úrano após a sua castração, apenas de Gaia, mas a verdade é que ele sempre lá se manteve, tornando-se até, de certa forma, a morada de todos os deuses e deusas, o seu sustentáculo, envolvendo-os também, conectando-os, mas, ao mesmo tempo, excedendo-se e descobrindo novos limites de si mesmo.

Rasgar os Limites
Imagem de Úrano pela sonda Voyager 2 (NASA)

Úrano é o primeiro planeta dos tempos modernos, muito raramente visível a olho nu e, por isso, não considerado entre os astrólogos, que não o reconheciam como tal, até ao final do século XVIII, após a sua descoberta. Ele representa o quebrar duma estrutura conhecida, manifestada pelo espaço entre Sol e Saturno, o sair dos limites da matéria e o entrar num plano global, espiritual e evolucional. Enquanto que Saturno tem um ciclo de perto de 29 anos, Úrano atravessa o Zodíaco em cerca de 84 anos, sendo, por isso, o último planeta do qual poderemos viver um retorno em vida na Terra. Desta forma, Úrano é o quebrar de todas as barreiras, o início do percurso de extracção, sublimação e purificação do Espírito no seu desafio de encarnação terrena.

Desafiador, irreverente, revolucionário e imprevisível, Úrano leva-nos para uma realidade que está para além do plano visível da matéria, a de que nada controlamos, que tudo muda, mas também tudo se transforma, como nos ensinou Lavoisier que, curiosamente, fez muitos dos seus estudos sobre combustão num período em que Úrano estava em Touro. Úrano é a mente universal criadora, a conexão conceptual e criativa com o Espírito, que permite a manifestação duma unicidade que nos caracteriza. Nenhum ser na Terra é igual a outro, nem nunca existiu ou existirá um ser que seja exactamente igual a qualquer outro, pois somos, verdadeiramente, espíritos únicos, e se tal se aplica a todos os seres vivos, o é com ainda mais especificidade com o ser humano, manifestando-se na sua individualidade, na sua autenticidade e no propósito de trazer até ao plano terreno essas mesmas características, de forma a enriquecer este plano e, consequentemente, elevar também os planos superiores.

Por isso, Úrano está directamente ligado com avanços e mudanças, nomeadamente ao nível da tecnologia, do pensamento, dos direitos, da liberdade, entre muitos outros tópicos que nos dirigem à manifestação duma verdadeira humanidade. Quando Úrano foi descoberto, em 1781, ele “mostrou-se” por via dos avanços tecnológicos que à época tinham sido conquistados, mas também se manifestou num período de grandes modificações mundiais, sociais, políticas e económicas, um período de revoluções e de convulsões. Nesse tempo, como exploro um pouco mais à frente neste artigo, Úrano transitava em Gémeos, mas foi graças a muito do trabalho, ainda, invisível, em Touro, que ele se pode “materializar”.

De facto, o grande trabalho de Úrano é libertar-nos dos limites que a matéria nos coloca, o que, muitas vezes, pede um quebrar violento de amarras e barreiras, o rasgar de véus e o elevar do nosso pensamento para a descoberta de nós mesmos, o que só é possível quando nos permitimos largar as estruturas e as cristalizações, os pilares e as sedimentações, algo tão característico do signo onde ele entrou, Touro, orientando-nos para uma nova realidade. Nesse caminho, compreendemos que só podemos, efectivamente, libertar-nos, quando nos permitimos sair das zonas de conforto, quando aceitamos a nossa diferença, que ela não é nada mais do que a manifestação da nossa individualidade, a manifestação do nosso Espírito. Nesse momento, assumimos a nossa diferença e compreendemos a grande visão que tal nos permite ter, não só de nós mesmos, mas da integração com o todo que nos rodeia, em todos os planos, em todas as dimensões. Trabalhar Úrano não é apenas trabalhar a diferença ou uma espécie de radicalismo, não é sermos marginais ou outsiders, é respeitarmo-nos e permitirmo-nos trazer até ao mundo o que nos propusemos, e tal só é possível quando trabalhamos também o seu filho, Saturno.

Ao trabalharmos Saturno e Úrano, trabalhamos também a aprendizagem de nos movermos dentro de nós mesmos, expandindo-nos e contraindo-nos, sempre que necessário. Desta forma, entendemos que somos um Universo e que isso significa que temos em nós tudo o que necessitamos para manifestar a beleza e a magnitude da sabedoria que o nosso Espírito, parte de um Todo, contém. Esse é também o trabalho de Úrano no mundo em evolução, a capacidade de sabermos trabalhar com as nossas próprias limitações, mas sempre no sentido do crescimento e da manifestação mais sublime do Ser Humano. Por isso, ele é o regente de Aquário, o Signo que nos pede essa mesma aprendizagem, essa mesma compreensão e aceitação, o estágio da individuação como passo crucial no retorno à Fonte.

Mudar Valores

A passagem de Úrano pelo Signo de Touro traz-nos todo este trabalho numa dimensão muito ligada ao plano terreno, a todas as questões ligadas ao valor, à matéria, aos conceitos de posse e de existência. Neste percurso somos chamados a reavaliar o que temos e o que somos, a nos confrontarmos com uma premissa básica, a de que tudo tem um limite e um tempo específico, que é o respeito por esse tempo, pelos ciclos próprios de cada existência, que nos permite obter de tudo o que somos e de tudo o que temos o melhor, o mais ajustado e adequado, permitindo-nos crescer e ultrapassar os limites da própria matéria.

Nos últimos séculos, nomeadamente desde meados do século XVIII, como iremos ver, temos vindo a acelerar o mundo, a crescer como nunca antes visto, num ritmo de evolução, descoberta e desenvolvimento tecnológico, científico e humano como nunca antes tinha sido visto no planeta. O crescimento populacional foi tão rápido que novas necessidades se colocaram e novas áreas de saber foram sido desenvolvidas para fazer face a uma nova realidade.

Com uma evolução, que em tudo é positiva e necessária, que nos coloca, sem dúvida, no melhor que temos hoje, a todos os níveis, a verdade também é que temos vindo a absorver uma grande parte dos recursos que a Terra tem sem lhe dar tempo de os renovar. Desvirtuámos os ciclos naturais das culturas, pois cada vez mais alimento era necessário, e, com isso, tivemos, necessariamente, de acelerar a produção e produzir mais, mas caímos num problema que provém da base de todo este processo, algo muito ligado a Touro, a posse, o apego, o poder, tudo o que o nosso ego necessita para alimentar-se numa ilusão de superioridade. Na verdade, muitos outros problemas advieram dessa mesma realidade, como a diminuição do próprio valor daquilo que nos nutre, não só visto nos próprios alimentos, como também na informação que nos chega, nos inputs que recebemos das mais diferentes origens. Não é só o corpo que se alimenta, mas também a nossa mente e o nosso lado emocional, e basta olharmos para o mundo que nos rodeia e vemos que existem aqui claros problemas a surgir, a todos os níveis.

O facto e a verdade que Úrano em Touro nos irá trazer é a de que os recursos são limitados, que se renovam, sim, mas num estado de equilíbrio que, neste momento, não está a existir, e a prova disso é o desequilíbrio em que o planeta vive, não só em termos de recursos naturais, mas a todos os níveis, o que tem levado a grandes problemáticas, a lutas pelo poder, a guerras, morte e destruição.
Reavaliar e Redimensionar

No início, era o céu e a Terra, e Deus disse: “Que se faça Luz.” Nesse momento, a Luz e as Trevas manifestaram uma aparente dualidade entre o mundo do Espírito, sublime, elevado e infinito, e o mundo terreno, denso e limitado, mas pleno de coisas tão belas e brilhantes. Contudo, a realidade é que a Terra é um dos mais poderosos planos de crescimento e evolução, com tudo o que é necessário para a aprendizagem e elevação do espírito, mas, devido à sua densidade, esta aprendizagem é feita através dum corpo, que tem necessidades e carências, que é sustentado por um ego, que precisa de padrões e hábitos, de estruturas, e que, por isso, tem tendência para densificar-se. Uma das facetas mais visíveis desta mesma densidade é a necessidade de controlo e de poder, numa busca de valor, de reconhecimento e de estrutura.

No entanto, da mais negra pedra se extrai o diamante mais belo e nas maiores profundezas estão as maiores riquezas, mas, quer num caso, quer no outro, só poderemos lá chegar quebrando essa massa que impede esse valor e esse brilho de se manifestarem, de se mostrarem. Eles existem, é um facto, mas não são reais, pois não se materializam na sua essência. Da mesma forma, nós somos apenas corpos que habitam a Terra, que passam por aqui, e enquanto não quebramos os nossos valores de base, os caducos que nos fecham e restringem, que nos limitam e nos adensam, não poderemos libertar a Luz que existe em nós, a verdadeira essência da alquimia que Deus iniciou com a criação do mundo.

O trabalho dos próximos anos de Úrano no Signo de Touro é, precisamente, redimensionar, rever e quebrar determinados hábitos e padrões que temos cultivado na forma como lidamos com a matéria, assim como reavaliar o que temos, o que somos e compreender se ainda é necessário ou fulcral. Fechámo-nos na matéria como uma necessidade absoluta e tornámo-nos dependentes dela. Se olharmos para o nosso mundo, a profunda vivência ligada ao dinheiro, às posses e bens e ao poder tem-nos levado por caminhos de constantes conflitos e de profundos processos de destruição mútua. Entrámos num espírito de competição contra algo ou alguém, em busca duma determinada estrutura, de um ordenado, de bens, de estatuto ou de outra coisa qualquer, e ainda que estes não sejam temas específicos de Úrano em Touro, são-nos de outras naturezas que têm vindo a ser trabalhadas e que poderemos encontrar na nossa história mais recente a sua origem.

O facto e a verdade que Úrano em Touro nos irá trazer é a de que os recursos são limitados, que se renovam, sim, mas num estado de equilíbrio que, neste momento, não está a existir, e a prova disso é o desequilíbrio em que o planeta vive, não só em termos de recursos naturais, mas a todos os níveis, o que tem levado a grandes problemáticas, a lutas pelo poder, a guerras, morte e destruição. Tudo, no fundo, por causa de algo que nada mais é do que matéria, que não levamos para lado algum, pois nem mesmo o nosso corpo carregamos após a nossa morte.

Touro não é um signo de valores, poder e posse no sentido mais materialista da questão, bem pelo contrário, ele é um signo do reconhecimento de que o verdadeiro valor é o que cultivamos em nós, reconhecendo a nossa existência como algo único, compreendendo e aceitando a nossa encarnação como a manifestação do nosso Espírito na Terra. Que, como refiro num outro artigo, precisamente sobre este Signo, o verdadeiro valor é o que provém do coração, da coragem de sermos nós mesmos e de competirmos e conquistarmos, não a custo da destruirmos ou suplantar o outro, mas sim de assumir as nossas capacidades e promovê-las, no sentido de as amplificar, aperfeiçoar e as elevar, dando o que mais especial temos ao mundo e, dessa forma, podermos contribuir para a elevação do próprio planeta como um todo. Para tal é necessária, acima de tudo, uma profunda, global e radical mudança de valores.

As Bases de uma Nova Ordem

Esta é a consciência que Úrano em Touro nos irá pedir através dos grandes temas que, com toda a certeza, irão estar na ordem mundial nos próximos anos. Primeiro e acima de tudo, e face aos muitos sinais que temos vindo a receber, a dependência que temos do dinheiro e das finanças, que já está totalmente desajustada da realidade, que foi importante durante algum tempo, mas que, neste momento, não pode manter-se igual. Para compreendermos isto, precisamos de voltar atrás no tempo, a um outro ciclo de Úrano em Touro, muito especial e marcante para este, que se iniciou em 1767.

Apontamos a década de 1760 como o início da Revolução Industrial, um enorme e profundo ponto de viragem no mundo, o início do crescimento em que hoje vivemos. No entanto, esse momento é também o da criação das bases do regime que hoje chamamos de Capitalismo, dos sistemas económicos, financeiros e produtivos que ainda hoje nos regem, mas também dos próprios sistemas sociais e políticos que ainda nos sustentam. Social, económica e politicamente, com tudo o que isso implica, estamos num processo iniciado, precisamente, num novo ciclo de Úrano pelo Zodíaco, com especial foco para os avanços que se processaram quando esteve em Touro.

Primeira página de “A Riqueza das Nações”, por Adam Smith, na edição de 1776

Curiosamente, algumas similaridades existem entre esse tempo e o que vivemos, nomeadamente o facto de, quando entrou no signo de Touro, em 1767, Plutão também estava em Capricórnio, tal como neste ciclo que agora iniciámos, e Neptuno estava em Virgem, o signo complementar ao que hoje ele está, Peixes. De certa forma, simbolicamente, estamos perante uma reavaliação de tudo o que foi iniciado nesse tempo e de todas as mudanças que essa altura nos trouxe. É preciso recordarmo-nos que foi o período de Úrano em Touro que criou as bases para, nos anos seguintes algumas mudanças importantes tomarem forma, como se este período fosse a construção das fundações para um novo conceito e uma nova realidade. Exemplo disso é que em 1776, no ano seguinte à saída de Úrano do Signo de Touro, Adam Smith lança a primeira edição do seu famoso livro, uma das bases da teoria económica hoje vigente no mundo ocidental e capitalista, A Riqueza das Nações. Outro exemplo, mais forte até, é a escalada que, durante todo o período de Úrano em Touro, levou à contestação do poder de Inglaterra sobre os territórios americanos e que culmina com a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, também em 1776, ponto crucial para o desenvolvimento de uma nova ordem mundial, pois aquele que tinha sido considerado como o Mundo Novo tornou-se o impulsionador, sem dúvida, de um novo Mundo.

A diferença para o momento presente é o facto de, energeticamente, a base desse tempo estar dimensionada por um Júpiter em Virgem e um Saturno em Gémeos, uma junção muito prática, focada na matéria e nos meios de produção, numa conceptualização necessária perante novas necessidades e novas realidades, mas também no crescimento do poder de alguns sobre muitos, no domínio dos meios e na exploração com vista à obtenção de máximos resultados. Contudo, o momento presente é bem diferente, com Saturno em Capricórnio e Júpiter em Escorpião, num apelo à revisão de estruturas, à limpeza de vícios, de poderes corrompidos que foram, na verdade, gerados há 250 anos. A forma de o fazer, sem dúvida, é através da convulsão, do quebrar de barreiras e de pedestais, de poderes instituídos, e se tal não tem sido possível através de outros meios, nomeadamente os passos intermédios, os outros dois momentos em que Úrano esteve em Touro, então é preciso trazer tudo ao de cima e rever as bases em que temos construído as nossas vidas em termos globais.

Os Meios e os Fins

Na nossa história moderna, em dois outros momentos Úrano esteve em Touro. Um que nos trouxe, sem dúvida, grandes mudanças, que se deu entre 1850 e 1859, com a particularidade de que Neptuno também estava, tal como hoje, em Peixes, mas Plutão transitou de Carneiro para Touro, amplificando o trabalho ligado aos recursos e à consciência de valor. Uma das questões mais interessantes deste período foi ela ter culminado com a publicação mais famosa de Charles Darwin, A Origem das Espécies, que veio revolucionar e desconstruir a nossa conceptualização da vida e a afirmação da ciência na sociedade.

Um dos pontos essenciais, e que é comum a todos os períodos de Úrano em Touro, é o desenvolvimento de novos recursos de base e novas matérias primas. Se no momento anterior o carvão tinha sido o impulsionador de uma nova forma de produzir, fazendo com que os meios se desenvolvessem e acelerassem a produção, criando novas necessidades, mas, acima de tudo, novos materiais, baixando preços e criando um novo sistema, a década de 1850 trouxe um avanço crucial, um avanço tecnológico essencial que levou à produção do aço, abrindo ainda mais caminhos num mundo que crescia de forma avassaladora.

Matérias-primas, recursos, produtos, riqueza e bens, são, sem dúvida, questões de Touro e, quando Úrano passa neste signo, levam mudanças, avançam e inovam-se, pois Úrano dá-nos novas visões sobre as mesmas coisas e obriga-nos à mudança, nem sempre de forma simpática ou subtil. Esse é o caso da última passagem de Úrano em Touro, de 1934 a 1942, um período dramático e negro da história recente.

Adolf Hitler, uma das faces mais visíveis do totalitarismo na Europa em pleno período de Úrano em Touro, também ele com o Sol no signo de Touro.

No seguimento do Crash da Bolsa de Nova Iorque, o mundo entra na Grande Depressão e a globalidade, pela segunda vez, mas agora muito mais visível e profunda, se mostra como uma nova maneira de encarar o mundo. Perante a falta de recursos e a pobreza, o mundo industrializado vê uma escalada de regimes populistas e autoritários, e todas as semelhanças com o mundo actual não são ficção, são pura realidade. Nesse tempo, Úrano em Touro é acompanhado por um Neptuno, novamente, em Virgem, e um Plutão na transição entre Caranguejo e Leão, o complemento absoluto do momento presente, onde, durante o trilho de Úrano, Plutão passará de Capricórnio para Aquário. Este tempo trouxe-nos a Segunda Guerra Mundial, um dos momentos mais negros da nossa história e que, ainda hoje, nos traz marcas que temos de trabalhar globalmente.

Atrás, bem no início deste artigo, referi que este tempo implicaria mudanças que intensificariam memórias kármicas que necessitam de ser mexidas e trabalhadas, de forma a que possamos resolver alguns problemas. Sem dúvida, muitas destas questões kármicas provêm de tudo o que foi vivido em termos globais nesse momento e que, agora, com um novo ciclo também de um outro planeta, Quíron, que acompanhará em Carneiro, mais ou menos em termos de tempo, o ciclo de Úrano em Touro, necessitam duma profunda, mas poderosa, limpeza, que só é possível com uma enorme tomada de consciência. No fundo, é a solicitação intensa de que aceitemos o passado, a história e as escolhas daqueles que, antes de nós, não souberam fazer diferente. São memórias que ainda estão guardadas nas nossas células, transmitidas pelos nossos ancestrais, que chegam até nós de forma muito subtil, mas que marcam profundamente as nossas vivências actuais. No fundo, precisamos de aceitar que foi o ser humano o responsável por um momento tão pesado e sombrio, precisamos de nos perdoar também, enquanto humanidade, por esse tempo, por essas escolhas, por esses caminhos, mas, ao mesmo tempo, definir, escolher e abraçar novos percursos, cultivar a humanidade baseada em novos valores, em novas manifestações, reajustando-nos e reequilibrando-nos.

Por isso, também é preciso recordar que o tempo que nos trouxe um conflito à escala mundial, destruidor e avassalador, foi também o que nos permitiu, duma forma até bem negra, crescer novamente, de forma exponencial, em termos tecnológicos, que nos mostrou que tudo tem dois lados e duas faces, que a cisão do átomo permitiu a criação da bomba atómica, mas também levou ao desenvolvimento de novos meios energéticos e de avanços tecnológicos que permitiram a melhoria da vida no mundo, condições únicas e especiais e desenvolvimentos que nos trouxeram ao mundo em que vivemos hoje, com tudo o que ele tem.

Úrano é esta radicalidade brutal e maravilhosa, que nos leva aos extremos da criação e da demonização em pouco tempo, e a verdade é que o mundo de hoje é repleto destes exemplos, e nem precisamos de ir muito longe no tempo. Os acontecimentos mais recentes, no nosso país e por todo o mundo, mostram-nos esta realidade e os tempos de Úrano em Touro irão, certamente, ainda intensificar mais isto, pois outras problemáticas irão juntar-se e amplificar sentimentos de frustração e necessidades de poder, doenças e falta de recursos, clivagens e diferenças sociais e económicas, não só entre países como dentro deles mesmos.

A Era do Despertar

É preciso, no entanto, perceber, que nada disto são vaticínios ou premonições apocalípticas. Na verdade, este caminho traçado tem um propósito muito distinto e superior, o de pararmos, de respirarmos fundo e nos colocarmos no centro de nós mesmos. Nada do que se passa no mundo é estéril ou desconectado, pelo contrário, é reflexo puro de cada um de nós, individual e colectivamente. Em Touro, Úrano encontra o alimento para fortalecer bases, para dar estrutura e força ao que já foi plantado, ao que já foi iniciado, no fundo.

Então, é tempo de compreendermos como estaremos a alimentar tudo o que somos, não só os nossos corpos físicos, mas as nossas mentes e os nossos corações, assim como a nossa própria consciência espiritual. É tempo de entendermo-nos como um todo, de encontrar novos e mais integrados caminhos para problemas que já conhecemos e para outros que irão surgir, pois a vida é feita de degraus e obstáculos, e Touro ensina-nos que precisamos de determinação para os subir e ultrapassar, mas, ao mesmo tempo, Úrano dá-nos a audácia de o fazermos à nossa própria maneira.

Quebrar barreiras desnecessárias, estruturas caducas, pensamentos fechados e castradores, modos de ser e de estar que já não nos pertencem nem nos permitem crescer serão alguns dos motes que nos serão, certamente pedidos durante estes próximos tempos. Despertar é, sem dúvida, necessário, mas é preciso levantarmo-nos e pormos os pés no chão, calcá-lo e sentirmos a vida em nós, aceitá-la, respeitá-la e valorizá-la, pois se o fizermos em nós mesmos, na nossa integridade, no nosso todo, seremos capazes de respeitar toda a diferença, toda a originalidade, e encontrar nela um elo de conexão para novos caminhos, para novos rumos. Como uma grande corrente, Úrano em Touro pede que integremos tudo em nós, que nos vejamos na dimensão corpo, alma e espírito, para que possamos ver o mundo que nos rodeia da mesma forma, pois só assim conseguiremos resolver muitas das questões desafiadoras que nos assolam e dar espaço à inovação e ao desenvolvimento.

As eras de mudança são sempre desafiadoras e, inicialmente, pelos mais diversos factores, recusadas. Por isso, quando Úrano transita por Touro, depois do percurso por Carneiro, onde tudo foi verdadeiramente semeado, ele permite-nos dar bases e sustentabilidade para que a mudança possa ser, também ela, uma plataforma, uma estrutura, para que não nos sintamos desamparados, para que não nos vejamos vazios e nos percamos sem rumo, despoletando mais e perigosos processos ligados ao Ego.

Se olharmos para trás no tempo, para os últimos 7, 8 anos, veremos tudo o que estivemos a construir, tudo o que plantámos. Se largarmos os dramas e os solavancos próprios dos caminhos desafiadores, conseguiremos olhar para cada um desses momentos como uma aprendizagem, sim, mas também como um profundo e rico semear, que agora temos a possibilidade de adubar e dar força. Ao mesmo tempo, poderemos trabalhar a terra e curá-la, permiti-la renovar-se, recolher tudo o que ainda for antigo para dar espaço ao novo, mas com tempo, com paciência, com persistência.

O desafio não é fácil, sem dúvida, pois Úrano, de natureza impulsiva e imprevisível, encontra em Touro um pedido de calma e paciência, de respeito pelos ritmos próprios. O tempo não conta quando estamos dedicados a nós mesmos, quando não perdemos tempo em futilidades ou em caminhos que não são os nossos. O tempo pode ser um castrador, mas é também um aliado profundo neste processo, pois, quando mergulhamos dentro de nós, quando nos permitimos acender a Centelha Divina que nos habita e sermos apenas e unicamente quem viemos ser, compreendemos que contemos em nós todo o tempo do Universo, todas as dimensões do nosso ser, mas sabemos ter a clarividência e a paciência para nos centrarmos e permitirmos o Todo fazer o seu trabalho em nós.

Esta é a verdadeira essência de Úrano em Touro, a descoberta de que, quando nos propomos cumprir o nosso propósito, entendemos que não precisamos de mais, pois temos tudo o que necessitamos, em cada momento, para poder crescer e evoluir. Isto não significa viver com menos ou criar restrições, mas implica aprender a viver com o que é necessário, acumular e potenciar quando é preciso, mas também largar, desapegar e investir quando tal nos é pedido, fazendo circular a energia, renovando-a e reajustando-a, dando-lhe novo sentido e direcção. A roupa que já não nos serve não precisa de ir fora, pode servir a outro, desde que a valorizemos, que não seja apenas mais uma roupa, que não seja apenas um trapo. Da mesma forma, a casa que já não é suficiente para a minha família, pode ser para outra, e posso vendê-la, claro, a preço justo e correcto, mas com uma profundidade de amor, de dádiva energética. Este entendimento leva-nos a perceber que não somos servos da matéria, mas sim que a matéria existe para que nos possa servir, enquanto necessária, para a nossa evolução, e o melhor exemplo disso é tão simples e todos os dias presente em nós, o nosso próprio corpo. Contudo, isto aplica-se a tudo, em nós e no mundo que nos rodeia, e cria um profundo equilíbrio, uma consciência de conexão, mais elos numa corrente que se torna não restritiva ou castradora, mas sim protectora, uma sólida e essencial grelha, uma base para a transformação.

Posts Relacionados

Comments (1)

Muito obrigada! Texto muito claro e inspirador.
Marcia.

Comment to Marcia Cancelar resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Privacy Preferences
When you visit our website, it may store information through your browser from specific services, usually in form of cookies. Here you can change your privacy preferences. Please note that blocking some types of cookies may impact your experience on our website and the services we offer.