A perfeita sincronicidade do sistema onde vivemos traz-nos, por vezes, eventos únicos e especiais, que se reflectem numa beleza, dentro do plano físico e material, extraordinária. Contudo, essa mesma beleza vê-se também numa outra dimensão, energética e quântica, que nos mostra que tudo o que é vivido no mundo que nos rodeia é projectado em nós e tem um reflexo perfeito na nossa própria existência, na nossa vida e no nosso caminho. Quando tomamos consciência e abrimos a nossa mente e o nosso coração a este conhecimento, temos a capacidade de nos libertar, transformar e elevar para além do nosso ego e da limitação da matéria, mas respeitando-os e honrando-os, permitindo-nos projectar também essa vivência sobre nós mesmos. Para isso, o Universo presenteia-nos com momentos fantásticos e únicos, como os eclipses que viveremos nestas próximas semanas.
Astrológica e energeticamente, um eclipse é um portal que se abre, pois é um alinhamento perfeito entre a Terra, o Sol e a Lua, os três pontos principais que definem a nossa existência em diversos níveis. Ao alinharem-se, eles trazem-nos um momento especial, uma sincronização que nos eleva a consciência e nos auxilia a trabalhar algo em nós. No fundo, um eclipse é uma demonstração da interacção que existe entre corpo, alma e espírito, as três componentes principais do nosso ser, que, muitas vezes, necessitam, também eles, de serem realinhados, reajustados, revistos e integrados numa dinâmica de trabalho evolutivo. Como um relógio de corda, daqueles bem antigos, perfeito na sua construção inicial, que precisa de ser aprimorado e limpo para que o seu propósito continue e se perpetue, também nós, na nossa essência, necessitamos de momentos de reajuste, de limpeza e de libertação, de forma a podermos elevar o nosso Eu ao nível da nossa missão na Terra.
Na madrugada do dia 13 de Julho, mais propriamente às 3:47 (hora de Lisboa – UT-1), dá-se um Eclipse Solar Parcial no signo de Caranguejo. Um Eclipse Solar é uma Lua Nova especial, onde, por alinhamento com a Terra, o Sol é tapado pela Lua, ainda que, neste caso, apenas de forma parcial, o que, energeticamente, dá uma outra nuance, um pouco menos intensa, ao evento. A Lua Nova é um tempo de sementeira e, em eclipse, o terreno trabalhado é fertilizado com uma força especial, adquirindo a capacidade de gerar coisas únicas e especiais.
Qualquer terreno na Terra que se queira semear necessita primeiro de ser limpo e preparado, retirado de todas as ervas daninhas, raízes e pedras, adubado e arado. Da mesma forma, também na nossa vida precisamos de limpar o terreno para que possamos plantar novas sementes, para que elas possam dar os frutos mais fortes e nutritivos. Nesse sentido, o eclipse que estamos a viver, e que nos vai presentar com os seus efeitos durante os próximos meses, é pródigo e poderoso nas possibilidades que nos oferece.
Atrás referi que um Eclipse é um portal e este sê-lo-á, sem margem de dúvidas. Sol e Lua encontram-se no signo de Caranguejo, enquanto o Nodo Norte está no signo de Leão. Astronomicamente, os Nodos representam os pontos perfeito de eclipse, onde a órbita da Lua cruza a eclíptica face à Terra, e um eclipse só se dá quando o alinhamento se dá próximo destes pontos. Astrologicamente, estas interacções representam os pontos de evolução que temos disponíveis para trabalhar.
As conexões energéticas deste eclipse são muito profundas e poderosas. Por um lado, a conjunção entre o Sol e a Lua, no signo de Caranguejo, dominada pela Lua, regente do signo onde esta ligação se dá, dá-nos a noção clara e intensa da necessidade de voltarmos a nós, de nos reconectarmos e de nos nutrirmos emocionalmente, mas também fisicamente. Contudo, este eclipse dá-se em perfeita oposição face a um dos grandes transformadores e activadores do nosso sistema, Plutão, em Capricórnio, que confronta a própria energia do eclipse e energiza-o com a sua força.
Mais do que um processo espiritual, kármico ou emocional, este Eclipse é, na verdade, um grande processo físico. O corpo que habitamos é o nosso templo, e ele não pode, de forma alguma, ser esquecido na equação que é a vida na Terra, algo que tem acontecido, pois temo-nos esquecido do Corpo como o grande e poderoso veículo da Alma, como o grande materializador do propósito do Espírito. De forma egóica, reflexo da vivência profundamente materialista e cartesiana dos últimos séculos, lembrámo-nos do corpo, sim, mas para o esculpir, para o mostrar, para nos deslumbrarmos e atrairmos o outro, esquecendo que, também o corpo envelhece, como qualquer corpo na Terra.
O Corpo é o Templo que o Espírito habita, que tem como grande sacerdotisa a Alma, e é preciso honrá-lo, amá-lo, elevá-lo, sim, mas na sua plenitude. Por isso, Plutão, em oposição ao Eclipse, pede-nos o compromisso de nos resgatarmos e nos purificarmos em quem somos, na presença do nosso ser em cada coisa nas nossas vidas, recordando-nos que, sem corpo, com a bagagem kármica que trazemos, seríamos apenas umas almas penadas num purgatório eterno. Da mesma forma, o Corpo faz parte do Eu íntegro e completo, que nos tem sido pedido para trabalhar através da energia dos Nodos Lunares, no eixo Leão-Aquário.
Então, nestes tempos e com todo o trabalho que nos tem sido pedido, é tempo de nos colocarmos em causa e de avaliarmos como nos estamos a colocar em cada parcela das nossas vidas. Não há mais espaço para divagações ou figuração, pois, em cada momento, estamos a ser chamados à responsabilidade de assumirmos a forma como estamos, como somos, como vivemos, efectivamente, cada área das nossas vidas, mas, principalmente, aquela que está a ser trabalhada por este eclipse, com especial foco para o que temos à volta do 20º grau de Caranguejo e Capricórnio, mas também dos outros signos Cardinais, Carneiro e Balança.
É tempo e agir, não em mais uma coisa que decidimos ter ou fazer, mais um curso, mais uma aprendizagem, mais uma relação, profissão ou outra coisa qualquer, mas sim em nós mesmos, nos nossos propósitos, na nossa forma de agir e de estar na vida, agir profundamente, como o Eclipse nos solicita. Na verdade, até poderemos iniciar alguma coisa, fazer algo de novo ou agir nalguma direcção, mas tal só pode ser feito se tal for acompanhado por uma profunda entrega a olharmos para dentro de nós, a cuidarmos de nós, a manifestarmo-nos em quem somos, ainda que isso implique mudar, transformar, rasgar, hábitos, padrões, conceitos ou até mesmo situações ou pessoas.
O portal do Eclipse é um pedido de resgate do maior poder que existe em nós mesmos, o de cumprirmos o nosso caminho, em cada momento, um passo de cada vez, mesmo sem certeza, mesmo com medo, mas sempre com uma profunda entrega algo que só pode existir se formos capazes de conjugar o nosso coração com a nossa mente, de ir à luta pelo que acreditamos, ter a coragem, não de mudar, mas sim de assumirmos quem somos, sem barreiras ou limites. É desta forma que saberemos ser e estar, presentes em cada situação das nossas vidas, entregues profundamente, sem fugir de quem somos, sem nos castrarmos, sem nos castigarmos, mas sim aceitando-nos, amando-nos e iluminando-nos.