
Por vezes a vida leva-nos a revisitar memórias, acontecimentos, situações, sentimentos e pensamentos, por norma sempre aqueles mais difíceis, mais desafiadores e duros, não porque, lá em cima, há alguém que se diverte a fazer-nos sofrer, mas sim porque, em determinados momentos, para podermos avançar, precisamos de limpar a casa, esvaziá-la do que lá está acumulado mas que de nada nos serve, limpar o coração do que já não pertence às nossas vidas, libertar a mente de processos que apenas nos bloqueiam, curar a alma das feridas desta e de tantas outras vidas.
Quando vivemos momentos como este, em que tantos planetas nos céus estão em movimento retrógrado, o que não está resolvido encontra um caminho de volta, o passado desperta, as cicatrizes mal saradas dão sinal, e a nós é-nos dada a possibilidade de, definitivamente, fechar essas portas. Como humanos que somos, esses momentos são especialmente ricos em sentimentos de revolta, de reserva e de recusa, mas tais sentimentos e atitudes são apenas o reflexo de nós mesmos, de tudo o que precisa de ser mexido, dos medos que acordam, das dúvidas que levantam. Parece um pouco dramático, mas a verdade é que, se cada um de nós olhar para dentro de si e para o que lhe tem sido trazido nestes últimos dias, vai reconhecer o que aqui digo.
Aqui levanta-se um outro véu, que me foi relembrado nas últimas horas e que tão importante é de ser trabalhado. Quando nos revoltamos, quando nos recusamos a trabalhar as nossas questões, também fazemos uma escolha para as nossas vidas, uma escolha poderosa e perigosa, pois quando não escolhemos um caminho para nós, alguém o vai escolher por nós e, nesse momento, o nosso poder pessoal é colocado nas mãos de um outro alguém que não nós, perdemos o nosso Eu, o nosso livre-arbítrio, a nossa verdadeira e pura liberdade.
Tantas vezes, nomeadamente nestas alturas, somos assolados com inúmeras situações, com acontecimentos atrás de acontecimentos, com uma catadupa de questões que caiem em cima de nós, tantas vezes sem percebermos que, muitas delas, fomos nós mesmos que as puxámos. No meio de tanta confusão, perdemos o foco, desligamos o sentido do nosso caminho e a natureza da nossa força, do nosso poder pessoal, é desconectada e desviada para outro ponto. Nesse momento também, sem querermos, acabamos por afectar outros com os nossos sentimentos, com os nossos pensamentos, acabamos por dar força a massas negras de inveja, ciúme e revolta, puxando-as depois, mais tarde, até nós mesmos. Facilmente quebramos a fronteira que nos separa da vitimização, tornando-nos carrascos dos outros, embora à custa de nós mesmos.
Por isso, nestes momentos tão especiais e tão belos como os destas próximas semanas e meses, o que nos é pedido é a capacidade de abrirmos o nosso coração e de, voluntariamente, nos rendermos, permitindo que tudo o que tiver de vir até nós, tudo o que tiver de ser trabalhado no nosso Eu, neste momento, encontre espaço dentro de nós para se transmutar em Luz, em paz, no mais pleno assumir do nosso poder pessoal. Assumir o nosso poder pessoal não é tornarmo-nos num guerreiro sedento de sangue e poder. Pelo contrário, assumir o nosso poder pessoal é tomar consciência que dentro de nós, de cada um de nós, há um guerreiro de paz, aquele que anseia, em cada decisão e caminho, transformar o ódio em aceitação, a revolta em calma, a tristeza em doçura, e tal só é possível, nas vidas de cada um de nós, quando somos capazes de assumir o ponto vernal desse mesmo poder, o amor por nós mesmos, a aceitação plena dos nossos processos, de nós mesmos.
Quando tal somos capazes de fazer e revelar em nós, sem sequer nos apercebermos, acedemos aos mais profundos registos da nossa alma e permitimos ao nosso espírito trabalhar as questões necessárias à sua própria evolução. De forma plena, trabalhamos codificações desta vida e de todas aquelas que sejam necessárias de transmutar, reconfiguramos padrões e manifestos, libertamo-nos de prisões, pactos e ligações que já não nos permitem crescer, assim estejamos preparados para essa purificação. Não é por decreto que o fazemos, não é simplesmente por dizermos que o queremos fazer, mas sim por abrirmos o nosso coração a esse processo, olhando para as nossas questões e amando-nos de tal forma que perdemos o medo de nos libertarmos do que antes parecia um chão onde estávamos seguros, mas que, na verdade, agora sabemos que a lado algum nos leva.
Tomar consciência, agora, de tudo isto, é, mais do que nunca, conhecer o nosso poder pessoal, amarmo-nos profundamente, com todas estas coisas que vamos vivendo e compreendendo em nós, é libertarmos a nossa alma, assumindo a responsabilidade de cada semente plantada, de passo dado, de cada decisão tomada, sem questionar, sem vitimização. Cada passo dado é uma aprendizagem feita, desde que nos recordemos que após cada queda há um novo reerguer, após um degrau subido, há outro à nossa espera, cada um no seu tempo certo. Ainda que devamos fazer como o Mestre nos ensinou, auxiliando outros nos seus caminhos, mostrando-lhes uma hipótese, estendo-lhes a mão, reconhecer o nosso poder pessoal, assumi-lo e torná-lo um escudo que nos defende e nos permite avançar é também aprender que cada um tem o seu caminho e que não é dando o peixe que vamos ensinar a pescar, mas sim permitindo que cada um escolha o seu próprio rumo. Em consciência, a nossa mão estendida sempre estará, não por sentimento de culpa, por carência ou necessidade de aceitação, mas sim por um amor maior, aquele que o Mestre nos falou.