
Paremos um pouco para sentir a energia deste dia, a força destas horas. O dia em que se celebra Maria, Mãe de Jesus, Mãe das mães, Mãe de todos nós. O dia em que se homenageiam as santas Almas, nossos amados Pretos Velhos. O dia em que, fruto do acaso, como se acasos existissem, é abolida a escravatura, em 1888, no Brasil, resultado da aprovação da Lei Áurea. O dia em que, reza a tradição, nasceu Buda. O dia em que três pastorinhos alegam terem visto uma aparição da Virgem sobre uma azinheira, na Cova da Iria, em Fátima.
Desenganem-se aqueles que pensam que Maria foi uma mulher, mãe de Jesus, concebida pelo Espírito Santo. Desenganem-se aqueles que pensam que Maria apenas existiu nesse momento, escolhida pela vontade divina para carregar no seu ventre o filho do Homem. Maria é muito mais do que uma imagem, do que uma mulher, Maria é a manifestação profunda, divina e sublime do mais belo e perfeito amor, o de Mãe.
Maria não é um conceito do Cristianismo ou da Igreja, Maria é aquela que está ao lado de cada mãe que cuida do seu filho. Maria é aquela que está ao lado de cada mãe que sofre pelo filho doente. Maria é aquela que está ao lado de cada um de nós, de cada filho que vive as agruras da vida, a dor que cada degrau desta vida traz. Maria é quem nos apazigua o coração num momento de dor, que nos cobre com o seu manto quando sentimos o frio da injustiça, que nos lembra que não há dor maior do que aquela que ela viveu. Maria é quem envolve no seu abraço a mãe que, perante os seus filhos, mantém a força e o sorriso, para, de noite, enquanto dormem, poder chorar. Maria é também aquela que envolve cada filho que está na prisão pelo crime que cometeu, porque ela vê, não o homem ou a mulher, mas sim a alma que sofre. Maria é quem está ao lado de cada cama de hospital, de cada criança abandonada, de cada idoso sozinho.
É ela quem, no seu Amor Maior, nos segura em cada queda, com a mesma dedicação com que segurou o seu filho morto, saído da Cruz. É ela quem nos lembra que cada um de nós tem uma cruz, a sua própria cruz, mas que ela está lá, sempre, para nos abençoar com o seu olhar carinhoso, com a sua voz calma e serena. É ela quem nos lembra que não importa a crença, a cor, a raça, a orientação, a escolha, pois no seu coração cabe cada filho, e todos são importantes por igual.
Maria não é Fátima, Conceição, Navegantes, Aparecida, Yemanjá, Oxum, Vénus ou Ísis, é, ao mesmo tempo, todas elas e cada uma, e muitas mais. Maria é deusa, é mãe, é mulher, é guerreira, é ventre, é útero, é parto, é concepção. Maria é a mãe que abraçou cada escravo que perdeu a vida no tronco, fruto da maldade do homem, Maria é a mãe que abraçou cada escrava e cada escravo que viu seu filho morrer no tronco. Maria é a mãe que abraça cada um que sofre a maldade da escravatura actual.
No entanto, Maria é também o sorriso, a beleza, a felicidade, a celebração, a vida. Maria também está ao lado de cada um de nós em cada vitória, em cada conquista, em cada celebração. Maria é o amor de ver um amigo, um companheiro, é o olhar terno para quem se ama.
Maria não foi alguém, Maria é uma parcela de Deus Pai e Mãe, intemporal, que ultrapassa todas as dimensões, que toca cada alma vivente e cada partícula de energia que se materializa das mais diversas formas. Maria não foi uma mulher, mãe de Jesus, que abraçou a missão maior de ter no seu ventre o Mestre, pari-lo, educá-lo e entregá-lo ao mundo. Maria não foi. Maria, simplesmente, É!