
Este próximo sábado, bem no seu início, às 00:32 (hora de Lisboa, UT), do ponto de vista astrológico, iremos testemunhar o primeiro eclipse do ano, um eclipse penumbral da Lua. Como já sabemos, os eclipses são sempre momentos muito especiais, pois representam um alinhamento muito específico entre o Sol, a Lua e a Terra, que tem como efeito visível o ocultamento temporário de um dos astros, e uma repercussão energética muito intensa, que nos influencia durante vários meses.
Se o Sol representa a nossa energia consciente e a Lua o seu complemento, o inconsciente, então, num eclipse, o que temos presente é a filtragem dum pelo outro. Num eclipse da Lua, o Sol, o consciente, coloca-se à frente do inconsciente, permitindo-nos ver o que antes estava guardado, apagado ou escondido, como uma luz que direccionamos para um poço profundo. A questão que se coloca é, afinal, o que poderemos aqui encontrar neste eclipse. O Eclipse dá-se no eixo Leão-Aquário, com a Lua em Leão e o Sol no seu complemento, Aquário, onde não se sente muito confortável. Em oposição ao Sol, a Lua emerge na sua totalidade e brilho, a face mais plena da Lua Cheia, reflectindo a luz do Sol em todo o seu espectro.
Um Sol em Aquário recorda-nos que uma das grandes aprendizagens que viemos fazer à Terra é a de sermos humanos, que sem o fazermos não podemos ambicionar chegar a Deus, elevar-nos à subtileza do espírito, pois não compreendemos o verdadeiro propósito da encarnação. No entanto, tal desafio não é fácil, pois a caminhada pela vida terrena levou-nos a provações, à consciência da densidade terrena, às diversas aprendizagens e direccionou-nos para uma espécie de topo da montanha, a conquista de quem somos. Contudo, em Aquário, compreendemos que todo esse caminho tem o grande propósito de nos recordarmos do que é a essência humana na Terra, a unicidade e a individualidade do espírito, e a força transformadora que obtém quando manifestado num plano denso como é o terreno, preparando-se para deixar essa marca e, assim, conseguir diluir-se, depois, no todo, e retornar ao Pai. O problema dessa consciência é que tal processo representa um choque directo, uma confrontação entre o plano terreno e o espiritual, criando algo que é muito constante na energia de Aquário, a diferença, o isolamento, a marginalização, o exílio de si mesmo.
Por outro lado, a Lua em Leão sente o prazer do foco, da atenção, do brilho. Se, por um lado, isto agrada-lhe, pois dá-lhe conforto e segurança, carinho e admiração, por outro, torna visível as mais pequeninas coisas, abrindo um espectro de vulnerabilidade que nem sempre é suave ou simples, muitas vezes reforçando o ego e as suas barreiras e defesas, amplificando os medos e levando a uma vivência mais constrangida da sua própria identidade. Se a Lua é uma das manifestações da Alma, em Leão ela procura destacar-se, brilhar, aprender a independência que a identidade lhe confere, mas a transparência que o Signo lhe dá nem sempre lhe dá a leveza que uma Alma necessita para viver a experiência terrena.
Se olharmos atentamente, esta oposição, que, num sentido mais subtil, é uma complementaridade, leva a um choque de valores e a repensarmos algumas questões simples da nossa existência, como o nosso papel neste momento das nossas vidas, o que pretendemos, o que procuramos, se estamos realmente a ser nós ou se estamos a procurar algo apenas para nos dar um sentido de existência. Quando tal energia está envolvida num eclipse, nomeadamente neste, tudo isto é amplificado e dá-nos a capacidade de trabalhar estas e muitas outras questões duma forma aprofundada, transformadora e reveladora. Até porque, na realidade, ao estarmos a viver este eclipse, e a Terra ser o ponto central perfeito e alinhado desta conjugação energética, nós somos confrontados com esta tomada de consciência e somos levados a mergulhar no nosso Eu, iluminando o tal poço que, tantas vezes, deixamos fechado, escuro e escondido, compreendendo aquela verdade que é intensamente expressa, mas poucas vezes compreendida, a de que somos Espíritos tornados Almas, encarnados num corpo físico, um veículo de evolução, que não é nosso propósito viver subjugados à matéria, mas sim transmutá-la num sentido mais humano e apaziguador.
Toda esta compreensão, inserida, nomeadamente, no mundo em que vivemos hoje, tem contornos muito mais profundos, pois a conjugação energética do momento é muito mais reveladora do que uma simples oposição entre Sol e Lua. Na verdade, outra oposição forte se dá nos céus nestes tempos, entre Júpiter, já no seu movimento retrógrado, em Balança, e Úrano, em Carneiro. Mais uma vez, a energia que nos é pedida para trabalhar é a da consciência que o outro é um espelho de nós mesmos, um espelho profundo e arrebatador, amplificador de tudo o que somos. Úrano, em Carneiro, a energia que rege o Sol por estes dias, pede liberdade para poder ser Eu mesmo, mas Júpiter, ao opor-se-lhe, relembra que só somos verdadeiramente livres quando todos são livres, pois todos estamos interligados. Em conjugação com a energia da oposição entre Sol e Lua, compreendemos também que a nossa individualidade está directamente ligada ao mundo que me rodeia, que não posso continuar a fechar os olhos ao mundo lá fora e a achar que é um problema do outro, pois esse outro também sou eu.
Estas duas oposições são dois grandes conflitos que estão presentes no mundo presente, reflexo do que é vivido dentro de cada um de nós. Em tempos onde o racismo, a xenofobia, a segregação, a divisão e a discriminação voltam a estar na ordem do dia, em confronto com toda a consciência e conquista pela integração, inclusão, respeito, amor, fraternidade, união, compreensão e compaixão que têm vindo a ser trabalhadas nos últimos anos, vivemos numa dualidade intensa, que nos pede apenas que saibamos quem somos, recordemo-nos na nossa humanidade e nos responsabilizemos por todo o caminho que estamos a percorrer.

É nesse sentido que estas duas oposições (Lua-Sol e Júpiter-Úrano, os traços vermelhos em destaque na imagem) são envolvidas num bloco que é chamado de quadrado místico, pois, na verdade, estes quatro planetas, entre eles, para além das oposições, estão envolvidos, como pode ser visto pela imagem, nos traços azuis em destaque, por aspectos fluídos, simpáticos e potenciadores, mostrando-nos que quando conseguimos separar-nos das diferenças e unir os pontos, sabemos criar pontes e eliminar as barreiras, ou os muros, se quisermos ser mais actuais.
Contudo, se isto já nos mostra muito, na verdade, este quadrado místico é ainda elevado na sua dinâmica por um grande aspecto que é chamado de Envelope, que tem como ponto de abertura Saturno, em Sagitário, pedindo-nos responsabilidade no que idealizamos, compreendendo o caminho percorrido e direccionando-nos para a construção de uma nova consciência. A palavra chave, como já referi antes, é a responsabilidade que o caminho percorrido nos confere, é a elevação da nossa consciência pelo assumir de um propósito, reconhecendo que nada sou sem a entrega profunda ao meu próprio caminho, e que tal é a expressão mais bela e vívida da Fé.

O trabalho deste Eclipse que em algumas horas vamos viver é o de compreendermos que apenas quando somos capazes de assumir em nós a vivência de um percurso, quando somos capazes de nos respeitar e de respeitar o nosso semelhante, de reconhecer a nossa unicidade, mas ao mesmo tempo reconhecer a do nosso irmão, a de compreender que se cada um for, apenas e unicamente, ele mesmo, sem máscaras, sem subjugação a números, sem medo do caminho, de um futuro ou da repetição do passado, libertando-nos dos espectros que ainda nos povoam a mente, criando-nos barreiras, impedindo feridas de cicatrizar, é que somos capazes de exprimir a beleza superior que é a da nossa Alma e que, nomeadamente aqui pela nossa identidade social, seremos capazes de nos transformarmos e elevarmos a nossa essência.
Se este trabalho for feito, espelhando-se pelos próximos meses na sua força, no Eclipse parcial do Sol que iremos viver no dia 26 deste mês, teremos a capacidade de semear novas sementes, pois teremos feito o trabalho de consciência que nos levará ao potenciar e ao trabalhar do perdão que necessitamos para a nossa vida, para a nossa libertação. O passado, seja o mais recente ou o mais antigo, aquele que temos conhecimento ou aquele que nem sequer temos percepção ou consciência, corrompe-nos, prende-nos e destrói-nos se não vivermos em constante energia de compaixão, de dádiva, de amor e de perdão.
A humanidade falta-nos quando esquecemos que aqueles que nos rodeiam são semelhantes a mim, em caminho, em sofrimento, em dor, em missão, que partilhamos dum mesmo ponto da caminhada, a vivência na Terra, a escolha de uma missão terrena. Quando nos falta a humanidade, somos absorvidos pelas trevas que a Terra contém, como planeta de densidade, feito para a aprendizagem, mas também feito para a própria elevação. Ao esquecermos os princípios básicos da humanidade, deixamo-nos corromper pelo ego, pelo materialismo, autodestruindo-nos. Contudo, o trabalho destes dois eclipses é que nos recordemos que somos humanos, que reavivemos a memória colectiva do Amor, da partilha, do crescimento em irmandade, em fé, em espírito. Se assim formos capazes, evitaremos, não só no mundo, mas primeiro e acima de tudo, em nós mesmos, a vivência do sofrimento, da dor, duma guerra interior, e saberemos acender a nossa centelha divina e elevá-la como um farol para todos aqueles que buscam um pouco de Luz em tempos que parecem ter neles apenas trevas.