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Quebrar Barreiras – A Quadratura Saturno-Úrano

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Quando olhamos os céus e nos predispomos a entender a sua linguagem e os seus sinais, compreendemos a vida na Terra, de forma colectiva e de forma individual, duma forma diferente, mais rica, mais profunda. Como nos transmite a Lei Hermética da Correspondência, o que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima, e é nessa consciência que podemos compreender que estamos a viver energias fortes e poderosas, energias que nos desafiam a mudar padrões, consciências e realidades.

O mundo está a mostrar-nos uma faceta muito dura e desafiadora de nós mesmos. Constantemente reafirmo que o que vivemos é um reflexo do que existe dentro de nós, e o mesmo se passa em relação ao mundo, espelho da humanidade, dos seus conceitos, da forma como tem sido construída e como temos alimentado todo este nosso percurso aqui na Terra, geração após geração. Tudo o que temos vivido, que nos tem sido mostrado, desde a pandemia às questões políticas, sociais e económicas, revelam-nos uma humanidade com profundas feridas, com muita dor guardada, muita divisão e dualidade.

É com esta visão que nos surge uma consciência profunda de que só curamos a sociedade quando nos curamos a nós, não o inverso, e que a dor, a dualidade, as feridas que vemos “lá fora” têm a sua origem dentro de cada um de nós. Este é o desafio que este tempo tão profundo e especial nos está a colocar nas mãos, uma responsabilidade que é manifestada este ano por uma conjunctura, do ponto de vista astrológico, muito especial e intensa, a quadratura entre Saturno e Úrano, a força motriz que nos irá acompanhar durante os próximos meses e que nos trará muita energia para trabalhar. Contudo, entender este momento implica perceber também o que temos vivido, nomeadamente com o grande impacto que 2020 nos trouxe.

O ano em que tudo mudou

Quando olhamos para os processos astrológicos que estamos a viver desde, especialmente, o final de 2019, início de 2020, compreendemos o tempo único e especial que nos está a ser oferecido. É um tempo muito forte, muito duro, mas muito importante, pois nada do que existir e permanecer depois desta etapa do percurso ficará igual. Como perante uma doença, o corpo reage com febre, produzindo as defesas necessárias para combater o problema, também todas as problemáticas e pontos de ebulição que estamos a ver a acontecer mostram-nos um processo cujo propósito é melhorar, transformar e evoluir, não só de nós mesmos, como da sociedade e do mundo.

2020 trouxe-nos processos muito importantes e intensos, que se revelaram através do ano que bem conhecemos, que nos está a transformar e que nos mostra que nada poderá ficar igual depois deste tempo. A conjunção entre Saturno e Plutão, no signo de Capricórnio, no início de 2020, activou um enorme terramoto em tudo o que conhecíamos e que confiávamos ser quase imutável. Esta conjunção, cuja energia já se formava desde 2019, mostrou-nos uma espécie de processo colectivo de autodestruição, trazido da forma mais dolorosa, através do risco da própria vida, o lidar com a doença, com a morte, com a perda das nossas estruturas e com o ascender de coisas que em nós estavam guardadas e que urgem por serem trabalhadas. O medo, a revolta, a tristeza, a solidão, a perda, e tantas outras parcelas das nossas feridas, foram-nos activadas para as podermos trabalhar.

Dum lado, aqueles que foram e estão na linha da frente, os soldados da guerra que agora vivemos, que lidam com uma urgência constante, com o resultado duma sociedade que se focou na economia e se esqueceu da vida, que se voltou para a matéria e se esqueceu da essência. Do outro lado, aqueles que tiveram de ficar mais em casa, que se debatem com a realidade das suas próprias vidas, que são obrigados a olharem para si mesmos, a se encararem, a lidarem consigo mesmos.

De início, ainda conseguimos fugir um pouco ao problema, batendo umas palmas à janela, cantando, conversando uns com os outros, assistindo a uns lives no Instagram e cozinhando pão em casa, mas o tempo é implacável e ensina-nos, a bem ou a mal, que a maior liberdade que podemos ter não é a física, mas sim a da consciência. Com o aproximar de Saturno do signo de Aquário, foi-nos colocado nas mãos o grande ensinamento capricorniano, o da responsabilidade. Liberdade é um tema de Sagitário, mas sem responsabilidade, algo que Capricórnio nos ensina, ela transforma-se num processo de destruição que afecta o mundo que nos rodeia. É aí que Saturno em Aquário entra, no ensinamento de que evoluímos em sociedade, em comunidade, onde precisamos de ser nós mesmos, sem dúvida, mas que tal não é possível sem o respeito profundo pelo próximo.

A Conjunção Júpiter-Saturno

É neste foco que 2020 termina com um dos acontecimentos mais relevantes em termos astrológicos, a conjunção entre Júpiter e Saturno no signo de Aquário, a chave da mudança de paradigma de orientação social e humana que nos acompanhará durante os próximos dois séculos. Contudo, é preciso perceber que esta conjunção não representa uma Nova Era, a tal Era de Aquário, como tantos gostam de advogar, numa espécie de postura escapista, mas sim uma mudança de energia de construção da sociedade.

Júpiter e Saturno são planetas sociais, pois eles dimensionam a nossa natureza e desafio perante os grupos em que estamos inseridos. É por isso também que eles regem (têm domicílio) os últimos quatro signos do Zodíaco (Júpiter rege Sagitário e Peixes e Saturno rege Capricórnio e Aquário), mostrando-nos a foco de construção social e comunitária destes signos.

As conjunções entre Júpiter e Saturno são conhecidas desde os primórdios da Astrologia e foram o primeiro dimensionador de processos de transformação das sociedades. Os Antigos perceberam que elas tinham um ciclo de cerca de 800 anos, onde durante períodos de 200 anos se davam no mesmo elemento, seguindo a lógica de activação zodiacal: Fogo, Terra, Ar e Água.

Desde o final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, as conjunções deram-se no elemento Terra, fazendo-nos crescer como nunca dum ponto de vista de riqueza, de construção do mundo, de recursos e meios. O grande problema do elemento Terra não é a riqueza que ele nos dá, benéfica e poderosa para o nosso desenvolvimento neste planeta, mas sim o vício que ela nos infere, a dependência, a necessidade de segurança, algo que foi muito activado na última conjunção neste elemento, em Touro, em 2000.

Mapa da Conjunção Júpiter-Saturno

No final de 2020, um novo ciclo estabilizou, agora no elemento Ar, através da energia de Aquário, dando-nos o mote para os próximos séculos, a necessidade de maior consciência mental, de maior desenvolvimento intelectual, tecnológico e comunicacional. A mente é o que verdadeiramente nos aproxima do divino e é essa consciência que precisamos de obter, através da aprendizagem do paradigma que a Terra nos ofereceu. Por isso, nos últimos tempos começou-se a falar de forma muito profunda de questões ambientais, da forma como utilizamos e esgotamos os recursos do planeta, mas também de questões de igualdade, de humanidade, mostrando-nos a ponte entre a Terra e o Ar.

Ainda que tenhamos colocado muita importância nesta conjunção de 21 de Dezembro de 2020, e com toda a razão, a verdade é que o início deste processo foi em 1981, com uma primeira conjunção em Balança, signo de Ar, dando-nos o mote de crescimento que vimos nestas últimas quatro décadas. A diminuição das distâncias, o advento da internet, a informação em tempo real e disponível de forma cada vez maior, o quebrar de tantas barreiras, e tão importantes de serem deitadas abaixo, só foi possível com a riqueza que o mundo conseguiu gerar e produzir. Contudo, faltava, e ainda falta, a compreensão de que vivemos todos conectados, de que é necessária uma consciência de humanidade, o olhar, ouvir e entender (Gémeos) o outro como reflexo de nós mesmos (Balança), que nos permite compreender que somos parte de um todo e, como tal, precisamos de o respeitar como a nós mesmos (Aquário).

Um tempo único

O acontecimento astrológico que mais marca 2021 é, sem dúvida, a quadratura entre Saturno e Úrano, um processo muito desafiador que terá três momentos fulcrais durante este ano. Na verdade, é preciso percebermos que este processo tem uma duração de praticamente três anos, tendo começado, verdadeiramente, ainda em 2020, e terminando apenas em 2022. Contudo, é durante 2021 que os três pontos de quadratura exacta se darão, fazendo deste ano mais um degrau extraordinariamente desafiador.

Compreender esta quadratura implica entender os seus intervenientes, o que eles representam e o que nos trazem como processos a desenvolver. Contudo, há alguns pontos de consciência que, mais do que nunca, precisamos de ter.

Em primeiro lugar, é importante compreender que nos dias que vivemos não existem processos totalmente isolados. O caminho que temos feito nas últimas décadas tem sido de estreitamento do espaço e do tempo, levando-nos a uma percepção, cada dia maior, duma realidade multidimensional. Isto orienta-nos para a compreensão de que todos os processos que estamos a viver são, aos olhos da linguagem astrológica, fruto de múltiplos trânsitos e construções, que embora possam (e necessitem) ser olhados isoladamente, estão integrados num trabalho muito profundo e muito maior, como espirais que se interligam e interlaçam.

Por outro lado, muitos dos processos que estamos a viver são totalmente novos para a humanidade, não no sentido concreto, mas sim na consciência que agora nos é oferecida através deles. Processos como o que vamos viver em 2021, a quadratura entre Saturno em Aquário e Úrano em Touro, ou mesmo a conjunção entre Saturno e Plutão em Capricórnio, em 2020, nunca foram vividos conscientemente, pois só agora conhecemos estes planetas aos quais chamamos transpessoais. Assim, ainda que os tenhamos vivido, como humanidade, o seu processo foi feito no nosso inconsciente colectivo.

Para melhor compreendermos isso, é preciso ver que Úrano só foi descoberto em 1781, tendo só posteriormente sido, obviamente, introduzido na linguagem astrológica, e que Plutão só foi descoberto em 1930. Com isto em mente, entendemos que a última vez que vivemos uma quadratura entre Saturno em Aquário e Úrano em Touro foi em 1523, e que a última vez que vivemos uma conjunção entre Saturno e Plutão, no signo de Capricórnio, foi em 1518.

Assim, podemos perceber que o momento que estamos a viver tem semelhanças com o início do século XVI, mas nessa altura vivemos um paradigma de Água, do ponto de vista das conjunções Júpiter-Saturno, algo que faz muito sentido quando pensamos que é o tempo das rotas marítimas, das descobertas, do fortalecimento de uma sociedade ocidental dominante. Na verdade, para conseguirmos encontrar um momento, do ponto de vista astrológico, minimamente parecido, teríamos de recuar largos milénios a um tempo sem precedentes nem sequer registos históricos consistentes para podermos fazer comparações.

De Saturno a Úrano

É o sentido atrás descrito que nos traz o ponto-chave desta compreensão, o grande desafio que 2021 nos apresenta, a quadratura entre Saturno em Aquário e Úrano em Touro. Estes dois planetas têm uma ligação muito interessante e forte em termos astrológicos. O que os separa e os diferencia é, ao mesmo tempo, o que os une e os conecta, mostrando-nos como a sua relação é umas das grandes construtoras do nosso caminho de evolução.

Saturno por Peter Paul Rubens

Saturno representa o limite no mundo da matéria, a dimensão que nos permite ter e dar forma à existência aqui na Terra. Saturno é a submissão da alma ao corpo, o honrar da escolha de fazer um percurso de encarnação neste planeta. No entanto, essa rendição que Saturno pede à alma é profundamente limitadora para a grande dimensão que o espírito humano tem. De forma simples, é como termos uma vela cuja chama arde e que pode iluminar toda uma sala. Saturno é a própria vela que pode ser acesa e assim cumprir o seu propósito ou que podemos escolher não acender, deixando-a intacta, sem dúvida, mas que vai ressecando e nunca cumprindo o seu propósito, até se partir em pedaços.

Saturno é o dimensionar da vida nesta dimensão, o limite que precisamos de trabalhar para podermos evoluir e crescer. Ele é o senhor do Tempo, a única verdadeira unidade de medida da dimensão terrena, que nos coloca o desafio da aprendizagem de trazer o espírito à matéria, do aperfeiçoamento de nós mesmos, da entrega, do compromisso e da dedicação a sermos o que nos propusemos ser.

Quando Saturno percorre o signo de Aquário, o signo do seu domicílio diurno, ele traz-nos a noção de que é preciso abrirmos a nossa consciência e reconceptualizarmos as questões, mostrando-nos que somos responsáveis, não só por nós, mas também pelos outros. Isto implica aprendermos a sermos nós mesmos e a comprometermo-nos com as nossas verdades, crenças e ideias, com as nossas concepções e ideais, trazendo a nossa individualidade, sim, mas sempre em profundo respeito pelo mundo que nos rodeia, pois não estamos sozinhos e só evoluímos quando integrados em sociedade, em comunidade. É assim que Saturno em Aquário nos traz uma reorganização do mundo que conhecemos, em todas as suas estruturas. Essa reorganização implica compreendermos o nosso lugar no nosso mundo, na nossa realidade, na nossa vida, na nossa sociedade e no planeta. Quando nos desresponsabilizamos de tudo isto e procuramos fora a nossa luz, a nossa liberdade, aquela que, de alguma forma, compreendemos, fica condicionada, não por agentes externos, mas sim por nós mesmos, por uma desconexão com a realidade, com a vida e com o nosso verdadeiro propósito.

Úrano traz-nos o novo, a inovação, a diferença, a unicidade, mas se o fazemos sem respeito ao “velho”, às estruturas que permitiram que este tal “novo” pudesse existir, vamos tirar a essência, vamos desvirtualizar a vida, vamos dessacralizar a própria criação. Por isso, sem Saturno, Úrano apenas cria, mas não gera, não dá vida! É Saturno que permite que haja o receptáculo da Vida que o Sol representa, mas é o Úrano que o torna único, singular, à imagem e semelhança de Deus. Úrano é, assim, a faísca que acende o Sol interno e que permite que o seu calor vá transformando a matéria que nos acolheu, até podermos deixar de nela estar contidos.

É neste contexto que encontramos Úrano, que na mitologia é pai de Saturno e por ele castrado, que desde 2018 faz o seu trabalho no signo de Touro, algo que poderá ser melhor compreendido neste artigo que escrevi na altura do seu ingresso neste signo. Úrano é o planeta que encontramos a seguir a Saturno no nosso sistema solar. Se Saturno é o limite da matéria, Úrano é o desconhecido, o ir para lá de nós mesmos, o tocar a nossa centelha e encontrar em nós a capacidade da mente divina que existe em nós. Ele leva-nos para lá de nós e nos dá a capacidade de idealizar, de manifestar, de conceptualizar numa perspectiva superior, accionando em nós a capacidade de trazermos uma dimensão divina do nosso ser, a da Criação.

Dado que Úrano representa o que está para lá da matéria e Touro é a própria manifestação da matéria no sentido terreno, a sua passagem por este signo é em si mesmo um desafio de mudança. No fundo, ele traz-nos a urgência de revermos a forma como compreendemos, conceptualizamos e usamos a nossa “matéria”, os nossos recursos. Sem estruturação, sem foco e sentido, Úrano apenas quebra, tira a forma, e o que podia ser frutuoso, o que podia gerar vida, apenas existe.

No fundo é como um vaso que se quebra, que simplesmente não desaparece por se ter partido, mas transforma-se em inúmeros pedaços com os quais teremos de lidar. É isso que o trânsito de Úrano em Touro nos vem mostrar, a maneira como temos lidado com a matéria, começando pelo nosso próprio corpo. Não é por um acaso que uma pandemia surge no meio deste tempo, muito accionada pela conjunção entre Saturno e Plutão, responsabilizando-nos pela forma como estamos a considerar, a gerir e a utilizar os bens, começando pelo mais precioso de todos, o nosso próprio corpo.

Úrano traz-nos o novo, a inovação, a diferença, a unicidade, mas se o fazemos sem respeito ao “velho”, às estruturas que permitiram que este tal “novo” pudesse existir, vamos tirar a essência, vamos desvirtualizar a vida, vamos dessacralizar a própria criação. Por isso, sem Saturno, Úrano apenas cria, mas não gera, não dá vida! É Saturno que permite que haja o receptáculo da Vida que o Sol representa, mas é o Úrano que o torna único, singular, à imagem e semelhança de Deus. Úrano é, assim, a faísca que acende o Sol interno e que permite que o seu calor vá transformando a matéria que nos acolheu, até podermos deixar de nela estar contidos.

Sem Úrano somos autómatos, robots sem alma, e basta olhar para o mundo que nos rodeia, nomeadamente o mundo antes da pandemia, para percebermos que a vida de muitos era apenas existir, era apenas cumprir o que a sociedade impunha e pedia. De repente, o mundo mudou, as prioridades alteraram-se, e o mundo vê-se um pouco perdido, numa guerra sem forma, com pedidos e solicitações difíceis e desafiadoras. Com a ajuda de Neptuno, em Peixes desde 2012, é uma disseminação invisível que nos muda e transforma, que nos mostra o quão anulados e desconectados nós estamos, que nos dilui para que possamos compreender que estamos todos unidos, não no mesmo barco, mas no mesmo mar, que sem nos ligarmos não conseguiremos, nunca, ultrapassar isto. De repente, é urgente acender centelhas, encontrar luz onde há sombras, descobrir forças onde parece apenas haver fraquezas. No entanto, é preciso também aceitar as diferenças, encontrar caminhos comuns, fazer aprendizagens, e esse é um dos grandes desafios que a quadratura entre Saturno e Úrano nos traz.

Quebrar barreiras

Na linguagem astrológica, a quadratura é um dos aspectos mais desafiadores e difíceis de ser trabalhado. Ele representa um choque entre duas realidades que, ainda que falem da mesma forma, têm focos completamente diferentes. Isso leva a que seja muito difícil de haver cedências, compromissos ou entendimentos, gerando contendas, divisões e profundas dissidências.

Durante o ano de 2021 iremos ter três pontos exactos duma quadratura entre Saturno em Aquário e Úrano em Touro. Os dois signos envolvidos são do modo fixo, pilares energéticos do zodíaco, focos de sustentabilidade e resistência, e são trabalhados por dois planetas que representam, como referido atrás, duas realidades bem diferentes. Por isso, o início de 2021 já está tão intenso e desafiador, trazendo ao de cima as diferenças e desafios que precisam de ser trabalhados.

O grande sentido desta quadratura é fechar um processo, é quebrar barreiras e mudar a nossa realidade, trazendo ao de cima as diferenças e colocando nas nossas mãos o compromisso de assumir que, ainda que tenhamos pontos de vista diferentes, existem propósitos e focos comuns, maiores do que nós individualmente. No fundo, há um enorme pedido para trazermos a nossa humanidade ao de cima, para a trabalharmos, de forma justa e integrada.

As divisões com que vamos lidar agora são conceptuais, mas integradas através do concreto, da matéria. Não é por um acaso que as ditas fake news se disseminam e que tantos acreditam em teorias infundadas, sem nunca as terem comprovado nem sequer testado. Não é por um acaso que tantos anulam o pensamento crítico, a compreensão e o conhecimento, seguindo pessoas, ideias e conceitos que os defendem, apoiados num discurso aparentemente coerente. É tão pura e simplesmente porque somos chamados ao pensamento crítico, mas humano, à compreensão mais profunda, mas solidária, de que o caminho é feito individualmente, mas nunca isoladamente, e que se não caminhamos todos no mesmo sentido, ainda que em velocidades diferentes, ainda que em percursos diferentes, em respeito profundo uns pelos outros, então não crescemos de todo, não evoluímos, não somos verdadeiramente humanos.

Somos, assim, levados aos nossos limites, às nossas verdadeiras prisões, que não são as da matéria, mas sim a do intelecto, as da compreensão de nós mesmos, as da mente e da consciência. Somos confinados nas nossas casas e muitos desenvolvem questões mentais, como depressão, ansiedades ou angústias, tão simplesmente porque nos esquecemos de estar connosco, com a dimensão infindável da nossa mente, das nossas capacidades de construir o nosso caminho.

O grande foco do problema tem a ver com o facto de que Úrano em Touro quebra estruturas, desconstrói a segurança que a matéria nos dá, põe em causa todas aquelas coisas que nos construíram nas últimas décadas e nas quais a sociedade parecia estar a ser baseada. Ter bens, ganhar dinheiro, viver uma vida ideal, ter condições para sempre ter casa e comida, fazer viagens e ter coisas que nos dão uma certa ilusão de estarmos vivos, tudo isso foi posto em causa para muitos, nomeadamente alguns que achavam que isso era garantido ou que tanto se focaram nisso para construir as suas vidas. Por outro lado, outros que tanto vivem da matéria viram a sua riqueza amplificada, agudizando uma percepção de diferença e duma certa injustiça. Isto amplifica medos, tira-nos o chão e as nossas zonas de conforto tornam-se muito diminutas.

É este medo que nos leva aos nossos limites, às barreiras que construímos para crescermos, para sobrevivermos, às estruturas que foram necessárias para sermos quem somos, inseridos na realidade, muitas vezes dura e exigente, com que fomos formados. O mundo tornou-se muito exigente, rápido e implacável, competitivo e destrutivo. Deixámos de ser vistos pela nossa unicidade e fomos compelidos a sermos melhores do que outros, do que todos os outros. Passámos a admirar aqueles que tiveram a coragem, aparentemente, de fazer diferente, de serem diferentes, e para compensar a nossa incapacidade de assumir a nossa identidade e a nossa individualidade, passámos a almejar as suas vidas, a viver através deles, sejam jogadores de futebol, artistas de cinema ou televisão, músicos ou performers, rainhas, reis, princesas ou príncipes.

Contudo, uma nova realidade, transversal, revela-nos a fragilidade de todos nós, e o que nos é pedido é que sejamos capazes de compreender que somos iguais e diferentes ao mesmo tempo, que somos, na verdade únicos, e que é preciso, cada dia mais, trabalharmos em nós, olharmos para nós, conhecermo-nos e revelar o melhor que existe em nós. Contudo, se o fazemos focados no mesmo, vamos perpetuar padrões egocêntricos e desconectados, vamo-nos tornar egoístas e arrogantes, motivados pelo medo, sem termos noção da consequência dessa atitude, destruindo-nos e destruindo os que nos rodeiam.

Somos, assim, levados aos nossos limites, às nossas verdadeiras prisões, que não são as da matéria, mas sim a do intelecto, as da compreensão de nós mesmos, as da mente e da consciência. Somos confinados nas nossas casas e muitos desenvolvem questões mentais, como depressão, ansiedades ou angústias, tão simplesmente porque nos esquecemos de estar connosco, com a dimensão infindável da nossa mente, das nossas capacidades de construir o nosso caminho.

No entanto, o caminho que temos feitos nestes últimos anos também permitiu a muitos abrirem as suas consciências, as suas mentes e olharem mais profundamente para si mesmos, e este desafio que nos tem sido colocado permite agora quebrar as barreiras do nosso próprio intelecto, levando-nos ao impulso de mudança, de procurarmos ser nós mesmos. Tal é feito em profundo desconforto, em enorme ansiedade, sem dúvida, pois muitas vezes tal significa abraçar as nossas inseguranças, os nossos monstros e as nossas caixas de pandora. Mais do que nunca, para as gerações que agora vivem é o tempo de deixar vir ao de cima todas as emoções e frustrações contidas, os medos, as dúvidas e os bloqueios, e deixar as estruturas caducas ruírem.

Não são apenas as estruturas caducas do mundo da matéria e desta vida, nem sequer apenas as nossas individuais, são as das nossas crenças e conceitos, são também os resíduos kármicos das gerações que nos precederam, os medos que ainda estão latentes, as feridas que ainda estão bem acesas nas nossas bases de construção social e humana. É apenas de alma limpa que conseguimos construir novas vidas, novas realidades, mais bonitas e luminosas, mais verdadeiramente humanas.

Uma verdade é certa, a de que essas estruturas vão continuar a cair e que seremos responsáveis pelo que irá ser construído a seguir. Nas nossas mãos está a força de construirmos um mundo mais justo e equilibrado, e se tal parece utópico, basta perceber que isso já não é uma opção, mas sim uma exigência, tão simplesmente pelo facto de que o primeiro e mais importante ponto que precisamos de mudar é a própria relação que temos com o planeta e os seus recursos, e tal tem de ser feito urgentemente, sob pena da nossa própria extinção.

Durante o decorrer de 2021, em três momentos, a quadratura entre Saturno e Úrano vai-se firmar e vai-nos dar sinais profundos para trabalharmos. Ainda que tenhamos momentos exactos, a 17 de Fevereiro, 14 de Junho e 24 de Dezembro, é preciso recordarmo-nos que estamos a falar de processos, de construções, cada um com a sua importância, mas que nos levam, na verdade, de 2020 a 2022.

Quadratura Saturno-Urano – Fevereiro

É curioso também percebermos que em Fevereiro a quadratura dá-se com ambos os planetas no seu movimento directo, sendo, por isso, a que mais impacto poderá ter, o grande grito de alerta para o trabalho a fazer e que terá como foco o impulsionar a uma nova consciência, ao quebrar das barreiras e ao início duma reconstrução essencial. Poucos dias antes do ponto exacto, teremos algo impressionante nos céus, um enorme stellium de seis planetas no signo de Aquário, fechado pela Lua Nova no dia 11, reforçando o enorme trabalho de despertar de humanidade que nos está a ser solicitado.

Quadratura Saturno-Urano – Junho

O segundo momento, em Junho, dá-se com Saturno no seu movimento retrógrado, mas Úrano directo, pedindo-nos a interiorização de todo o processo de forma conceptual, responsabilizando-nos pelo caminho feito e dirigindo-nos para o processo que se trabalhará no resto do ano. Por fim, o terceiro momento, em Dezembro, dá-se com Úrano no seu movimento retrógrado e Saturno directo, trazendo todo o trabalho feito atrás para a integração de mudança que necessita de ser concretizada, antes de tomarmos novos rumos.

Quadratura Saturno-Urano – Dezembro

De forma concreta, tudo indica, e assim esperamos, que o processo que estamos a viver tenha profundos avanços positivos durante este ano. Tal não significa que a pandemia esteja totalmente ultrapassada, mas poderá representar o estabilizar de muitos processos e a estruturação de uma nova realidade. Depois de todo este processo, como várias vezes indiquei, dificilmente tudo ficará igual, dificilmente voltaremos ao normal que conhecíamos, nem sequer a um novo normal. Há uma nova realidade e uma nova estrutura que precisa de ser desenhada, uma nova orientação que necessita de ser definida, e este é o tempo para o fazer.

É preciso também entender que não podemos ver este acontecimento de forma isolada, pois ele representa a fase final de um grande ciclo que começou em 1988/89, com uma conjunção entre Saturno e Úrano, no signo de Sagitário. Basta recordarmo-nos que foi nessa altura que uma organização do mundo, nascida do pós-II Guerra Mundial, desmorona-se, dando início a uma reconstrução da realidade, ao quebrar duma enorme dualidade que geria o mundo, com enorme simbolismo através do desmantelamento da antiga União Soviética e a queda do Muro de Berlim.

Na primeira quadratura, em 1999/2000, o segundo ponto do ciclo, o mundo vive uma nova realidade, uma Europa unida por uma moeda e vive uma dinâmica muito mais global, algo que seria abalado no ano seguinte. O terceiro ponto do ciclo, a oposição, dá-se em 2008, ano muito importante, marcado também pelo ingresso de Plutão no signo de Capricórnio, que nos trouxe a transformação do mundo financeiro com a queda do Lehman Brothers e a mudança de alguns paradigmas, com o afastamento de Fidel Castro após anos à frente de Cuba e a eleição de Barack Obama como o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos da América. Foi toda esta aprendizagem, à qual se juntaram tantos outros processos, que nos leva ao terceiro ponto do ciclo, esta quadratura que estaremos a experienciar, levando-nos a um tempo que é o de aplicar o conhecimento que foi adquirido e transformá-lo em sabedoria, sementes de mudança para os próximos ciclos.

De dentro para fora

Perante tantos desafios, tantas transformações, tantas solicitações, com o mundo em alvoroço à nossa volta, o que nos é pedido é para olharmos para dentro, para mergulharmos em nós e permitirmo-nos encontrar o nosso lugar na nossa própria vida. Quando nos colocamos conscientemente perante todo este processo compreendemos que, muitas vezes, estamos fora do nosso centro, deslocalizados, a viver vidas que não são, na verdade, as nossas.

São as frustrações que nos envolvem nestes tempos, também muito graças à passagem de Quíron em Carneiro (explorado neste meu artigo aquando do seu ingresso neste signo), que ajudam a trazer ao de cima os processos que precisamos de trabalhar. Então, somos levados a responsabilizarmo-nos pelo nosso caminho e a escolher como lidar com toda esta nossa realidade, a compreender que só quando trabalhamos as nossas sombras podemos aceder à nossa luz, mas que nesta dimensão em que vivemos, por muitas evoluções que existam, por muita realidade multidimensional que vivamos, o propósito é sairmos destas periferias do nosso ser e aprender a superar a matéria, a plantar sementes, a deixar um legado que ultrapasse a própria vida, e tal não é possível sem trabalharmos estes dois lados do nosso ser.

Dum ponto de vista do nosso processo kármico e evolutivo, Sol e Saturno representam a esfera base do nosso trabalho, Luz e Sombra que necessitam de ser integradas, para activar o potencial do Todo que cada um de nós é, interligado com todos os que nos rodeiam, com todos os que fazem parte do nosso sistema. Essa esfera é activada, precisamente, pelo trabalho de Úrano, e, por isso, este processo que viveremos é uma profunda e importante chave de activação da nossa evolução como humanidade, integrada em todos os outros processos que estamos a viver.

No mesmo sentido, é preciso perceber, mais do que nunca, que não existem outros, que o que acontece a alguém que está neste planeta incide, directa ou indirectamente, em cada um de nós, que enquanto houver pessoas a morrer em guerras ou de fome, em pobreza extrema, a nossa humanidade não passa dum conceito, duma ideologia. O planeta tem recursos para que todos possamos crescer, não significando isso que não haja o mérito do esforço e do trabalho de cada um, o aproveitamento da dedicação de uns pelos outros, bem pelo contrário. Tal significa apenas que enquanto as diferenças existirem por competição, por egocentrismo, por desprezo pela vida humana, então não podemos activar a centelha crística em nós, não podemos ser o melhor de nós mesmos.

Este é o grande desafio que os tempos que vivemos nos colocam, o de sermos verdadeiramente humanos, e tal começa de dentro para fora, começa no interior de nós mesmos, das nossas escolhas, das nossas decisões, dos nossos caminhos e acções. Se não mudarmos, individualmente, o mundo ficará igual e caminharemos apenas para a autodestruição, amplificando uma divisão que já existe, mas que se tornará insuportável. No fundo, é o activar do Cristo em nós, não o religioso, mas o humano, o divino, aquele que existe no coração de cada um e que só através do amor, mais básico e sincero, mais simples e puro, pode se manifestar e florescer.

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Comments (2)

Tão esclarecedor este texto para quem não tem conhecimentos astrológicos mas que numa busca de anos encontra respostas
Obrigada 🙏

Leonardo Mansinhos
Leonardo Mansinhos

Que bom Silvie! Fico mesmo muito feliz pelo seu feedback! O importante para mim é ultrapassar a “barreira” da linguagem astrológica e levar até cada um a essência, e por isso fico mesmo muito grato por saber que a mensagem chegou! Obrigado também eu! Que a busca continue e as respostas se revelem! 🙂

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