
Há alguns dias, uma figura muito conhecida a nível mundial foi convidada dum podcast igualmente muito famoso, onde proferiu algumas palavras que, no meu entender, demonstram bem o ponto ao qual a (falta de) humanidade tem chegado. Nesse podcast essa figura disse que, e citando, “a fundamental fraqueza da civilização ocidental é a empatia, a exploração da empatia”, fundamentando mesmo a ideia de que a empatia é uma falha na nossa base que está a ser explorada e transformada numa arma.
Se é verdade que todos temos direito à nossa opinião, também é verdadeiro que dela somos directamente responsáveis e que ela define, de forma muito clara, quem somos. Talvez essa seja uma das grandes belezas deste tempo, como a flor colorida que desponta dos escombros ou da destruição dum incêndio, o facto de vivermos um momento de profundo rasgar de véus, de revelações, de máscaras que caem e se quebram de forma irreparável, mostrando cada um como verdadeiramente é, no mais profundo do seu eu.
Quando os poderes instalados, as estruturas que ainda estão vigentes, se sentem profundamente ameaçados, pois, na verdade, já não servem e estão a ruir, desenvolvem um grau extremo de sobrevivência que leva a atitudes profundamente irracionais e violentas. Isto é o que temos visto nos últimos anos, quando a passagem de Plutão por Capricórnio abalou as estruturas de poder e trouxe ao de cima o que estava podre e corrupto, pedindo transformação, tomada de consciência e um apelo à renovação. Ao chegar a Aquário, Plutão leva parte do seu trabalho para a consciência humana colectiva. Isto faz com que as feridas da psique colectiva venham ao de cima e revelem os problemas que temos para resolver, e tal consciência reside em cada um de nós individualmente. Um desses problemas remete-nos ao ponto inicial.
Em empatia, a compreensão de todas as coisas que nos rodeiam torna-se mais simples, pois conseguimos entender o outro, viver a sua experiência, integrar a sua visão, sem nunca nos perdermos nas nossas próprias ideias e conceitos, mas sim amplificando-os e abrindo as nossas perspectivas.
Uma das grandes capacidades (também podemos chamar de qualidades) que nos definem enquanto humanidade é a empatia. Ela é a capacidade de olharmos o mundo pelos olhos do outro, de sermos capazes de viver, sentir e integrar a experiência, a visão e a compreensão do outro em nós e através de nós. Esta capacidade abre um caminho dentro do nosso ser, pois permite-nos atingir níveis de consciência, de transformação e de evolução que não pensávamos ou imaginávamos sequer serem possíveis. É a empatia que nos permite entender uma realidade profundamente aquariana, a ideia e o conceito profundos de que não somos ilhas isoladas, que somos parte integrante dum sistema. Quando a empatia falha, o sistema começa a quebrar e a desabar, iniciando um processo de extinção.
É interessante também percebermos que a empatia, ainda que, por definição, seja algo que se relaciona directamente com as emoções, não começa no nosso corpo emocional, mas sim no mental. É a mente que abre a porta da consciência para o lugar do outro, para a sua visão, experiência e compreensão de algo, colocando-nos nesse espaço pessoal sem perdermos a nossa própria identidade, a essência do trabalho do Signo de Aquário. É nessa condição que toda a compreensão se transporta para o campo emocional, levando a que sejamos compassivos e vibremos em amor. Acredito, sinceramente, que este é um dos grandes (e muito longe de ser o único) pontos de trabalho que Plutão em Aquário nos oferece e que, em sincronicidade, se alinha com a passagem do eixo dos Nodos Lunares que o início de 2025 nos trouxe.
Quando perdemos a capacidade de sermos empáticos, alimentamos em nós um medo profundo, uma certa fragilidade, até mesmo a ideia dum qualquer tipo de ameaça que o mundo que nos rodeia nos coloca. Tal acontece, pois deixamos de saber sentir em ligação com o outro, levando a que tudo se remeta sobre a nossa própria existência e activando o que referi acima, uma certa ideia de separação, de ostracização, de desconexão, o lado mais pesado e sombrio de Aquário, que leva a um exacerbar de mecanismos de controlo e de defesa, onde tem, obviamente, de existir um inimigo, uma distração para a própria fraqueza e insignificância percepcionadas. Se pararmos um pouco para olhar à nossa volta, esta é a realidade em muitos locais do mundo onde o crescimento de movimentos conservadores e religiosos de extremo estão a acontecer.
Por isso, este tempo é um tempo de teste à nossa capacidade humana e também, de certa forma, um tempo de purificação, de limpeza e de consciência que nos obriga, como referi na palestra que dei sobre 2025, a assumir o nosso lugar, a percebermos o que queremos levar connosco para a jornada que se avizinha. Este é um momento onde a empatia, ao contrário do que essa figura referia, se torna uma força (e não uma arma) e nos retorna ao mais básico do que é ser-se humano, recordando-nos que não existe humanidade sem liberdade, sem fraternidade e sem igualdade, mas que tal implica responsabilidade e consciência.
É nesta ideia que os eclipses de 2025 nos oferecem a sua energia, pois todos já ocorrem com os Nodos Lunares no eixo Peixes–Virgem, o eixo da purificação. Desde o início de 2025 que os Nodos Lunares estão a percorrer este eixo do Zodíaco, um dos eixos mais fortes, intensos, desafiadores e essenciais do trabalho astrológico. É nele que a purificação e a reorganização se dão. É nele que o que não está bem, o que não está equilibrado, ajustado e não auxilia ao nosso crescimento e humanidade se revela e se propõe a ser traduzido noutra energia, a ser purificado e transcendido. Recordemo-nos que, antes, o eixo trabalhado pelos Nodos Lunares foi o de Balança–Carneiro, aquele que nos confronta com essa dualidade essencial, a consciência do Eu (Carneiro) e do Outro (Balança) e a sua integração. Com este trabalho feito, levando-nos à compreensão do que é meu e do lugar do outro no meu ser, então é tempo de revelar para purificar.
É assim que as máscaras caem. Não porque voluntariamente as deitamos abaixo (esse até foi, de certa maneira, o trabalho do eixo Balança-Carneiro), mas sim porque elas não têm mais forma de se aguentar, pois existe uma urgência de transcendência, de libertação de estruturas pessoais e colectivas, de nos sabermos colocar no nosso lugar concreto, de escolher, de certa forma, um lado, que não está contra outro alguém, mas sim a favor do que nos torna humanos. É por isso que nos parece, quando olhamos à nossa volta, que não conhecíamos as pessoas que, muitas vezes, sempre conviveram connosco, ou sobre as quais tínhamos uma imagem ou uma percepção. Plutão em Aquário é também esta revelação profunda que provém dum aparente poder que ainda sustenta essas velhas estruturas.

Plutão é o submundo, uma vibração que pertence à vivência e experiência do nosso inferno pessoal. Se, ao nele estarmos, ao com ele contactarmos, soubermos acender a nossa luz interior, a nossa Centelha Divina, revelaremos tudo o que lá existe, os monstros e demónios, mas também as pedras preciosas. O nosso inferno é um lugar iluminado por fracas chamas que projectam sobre as paredes, como na Alegoria da Caverna, de Platão, imagens distorcidas e amplificadas dos nossos próprios medos, das nossas feridas, das nossas questões mais interiores. É com tudo isso que precisamos de contactar, é tudo isso que precisamos de, em nós, revelar. É esse o trabalho, também, que Úrano, um dos regentes de Aquário, está a começar a indicar-nos, no seu ponto de transição de Touro para Gémeos.
Os tempos que vivemos são profundamente complexos, criando nos céus malhas e camadas de informação e de sintonia entre vários pontos, o que torna tudo tão mais desafiador de ser vivido e compreendido. Por isso, estes tempos são também um apelo à empatia, à sua força e ao seu poder, ao impulso idealista que ela nos oferece. Em empatia, a compreensão de todas as coisas que nos rodeiam torna-se mais simples, pois conseguimos entender o outro, viver a sua experiência, integrar a sua visão, sem nunca nos perdermos nas nossas próprias ideias e conceitos, mas sim amplificando-os e abrindo as nossas perspectivas. Quando olhamos os céus, os dois eclipses de Março de 2025 são um muito bom exemplo desta ideia.
O eclipse Lunar do dia 14, com a Lua no Signo de Virgem, traz-nos esse mergulhar interior e consciência profunda do que precisamos de limpar e purificar. Podemos ver no mapa dos céus desse momento a Lua, astro principal do eclipse, dum lado do mapa, a segurar a energia que, de forma simbólica, lhe faz oposição. A Lua em Virgem é uma energia que nos remete, na sua essência mais espiritual, à vibração de Maria, Mãe de Jesus, a mais profunda e bela imagem da empatia, do amor incondicional, da entrega absoluta. Neste momento, nos céus, esta ideia torna-se ainda mais significativa, pois o eclipse é regido por Mercúrio que, aos 9º de Carneiro (o grau do eclipse Solar do dia 29 de Março), começa a estacionar para tomar o seu movimento retrógrado, em conjunção com Vénus, também em Carneiro, no seu movimento retrógrado, opondo-se ao grau do último eclipse solar (de Outubro de 2024).

O eclipse Lunar do dia 14, com a Lua no Signo de Virgem, traz-nos esse mergulhar interior e consciência profunda do que precisamos de limpar e purificar. Podemos ver no mapa dos céus desse momento a Lua, astro principal do eclipse, dum lado do mapa, a segurar a energia que, de forma simbólica, lhe faz oposição. A Lua em Virgem é uma energia que nos remete, na sua essência mais espiritual, à vibração de Maria, Mãe de Jesus, a mais profunda e bela imagem da empatia, do amor incondicional, da entrega absoluta. Neste momento, nos céus, esta ideia torna-se ainda mais significativa, pois o eclipse é regido por Mercúrio que, aos 9º de Carneiro (o grau do eclipse Solar do dia 29 de Março), começa a estacionar para tomar o seu movimento retrógrado, em conjunção com Vénus, também em Carneiro, no seu movimento retrógrado, opondo-se ao grau do último eclipse solar (de Outubro de 2024).
Nos tempos que vivemos, ser-se empático e trabalhar no nosso coração o amor implica suportar a dor das atrocidades e injustiças que vemos à nossa volta, implica aguentar a raiva que é causada pela discriminação, pelo ódio e pela perseguição que nos rodeia. Sermos empáticos pede, acima de tudo, que não nos deixemos contaminar e tomar por essa raiva ou pelo medo que ela gera, mas sim saber transformar toda essa intensidade em força, em resistência, em amor. Tal não é fácil, linear ou simples, mas sim, muitas vezes, uma provação profunda, pois quanto mais sensíveis e empáticos, maior o impacto do tanto que vemos à nossa volta.

É esta energia que sentimos quando olhamos para o eclipse Solar de 29 de Março, aos 9º de Carneiro (o último neste signo nos próximos anos), regido por Marte, em Caranguejo, em recepção mútua com a Lua, recordando-nos dessa necessidade de não nos deixarmos levar pela intensidade dos tempos. Lembremo-nos que o eclipse solar é uma Lua Nova, onde a Lua está oculta nos céus, mas que tem o poder de cobrir o Sol e retirar-lhe a sua luz, revelando o que está guardado e escondido, transformando o consciente pela força do inconsciente. Contudo, é importante percebermos dois pormenores sobre este eclipse.
Um é muito profundo, ligado à ideia de empatia e amor que referi acima sobre o eclipse lunar, o facto de Vénus, no seu movimento retrógrado, estar em Peixes, em conjunção com Neptuno, com o Nodo Norte e com Saturno, mostrando-nos um caminho de amor, de compaixão, de entrega, sacrifício e responsabilidade que nos é pedido para que possamos sobreviver enquanto seres, pois sem eles encaminhamo-nos num sentido autodestrutivo.
O outro tem um ponto de ligação com o anterior e reside no facto de Mercúrio, no seu movimento retrógrado, estar aos 0º de Carneiro, o grau onde Saturno e Neptuno se irão encontrar em 2026, num dos momentos mais importantes e cruciais dos tempos que vivemos. É curioso também percebermos que Mercúrio está, neste eclipse, em conjunção com Neptuno, Vénus, Nodo Norte e Saturno, estes em Peixes, em mais um apelo por empatia, compaixão e amor.
Este momento leva-nos, na verdade, à compreensão do que é essencial, ao largar o supérfluo e ao pedido profundo de sabermos olhar para lá do que os nossos olhos são capazes de ver. Isto só é possível quando vivemos em empatia e quando a vemos como uma força, como um caminho, um dos pilares dos ensinamentos do Cristo. O caminho que o Mestre nos ensinou é de amor e não existe amor sem empatia. Contudo, parece que muitos que batem hoje no peito dizendo-se cristãos, que advogam Jesus para justificar os seus actos de discriminação, ódio e destruição, esqueceram-se dos seus ensinamentos mais simples, básicos e puros.
A empatia não é exclusiva de qualquer religião ou filosofia. Pelo contrário, ela é universal, transversal e unificadora. Ela é um dos pilares do que nos torna humanos e, sem ela, somos apenas animais cujo intelecto mais avançado, desconectado das emoções, leva à destruição mútua. Acredito que um dos grandes propósitos da empatia é a paz, mas a paz não se constrói por submissão, por passividade ou por evitar o conflito. A paz constrói-se com empatia, mas alimenta-se com justiça, amor e compaixão, mas se tal não existir, ela também precisa de ser conquistada. É também isso que nos é mostrado nesta primeira temporada de eclipses de 2025.
O momento que hoje vivemos é instável, estranho e complexo, fazendo-nos sentir muitas vezes impotentes, inseguros e sem direcção. Para atravessarmos este mar revolto, este tempo de incerteza e de transição, precisamos de nos recordar do mais básico, de valorizar e cultivar a empatia e, através dela, construir pontes, abrir caminhos e encontrar soluções. Quando a retiramos, mergulhamos num lugar escuro do nosso ser e perdemo-nos na nossa essência, fazendo com que qualquer acto provenha dum ego frágil, das necessidades de poder, duma visão endeusada de nós mesmos, desconectada do outro, do sistema em que vivemos, do planeta que nos acolhe e do qual fazemos parte.