Os grandes momentos de transformação não são feitos dum único instante ou acontecimento. Pelo contrário, eles são o confluir e o integrar de muitas energias, de muitos processos e de muitos caminhos que, como um conjunto de fios que se enrolam, nos direcionam num foco que é preciso ser firmado para depois, já numa diferente vibração, voltar a desenlear e projectar as suas energias para os vários pontos que necessitam de ser trabalhados.
O dia de hoje, 19 de Novembro de 2024, às 20:39 (hora de Lisboa), contém em si um importante evento astrológico, a entrada definitiva de Plutão no signo de Aquário, onde ficará até 2044. No entanto, e perdoem-me ser desmancha prazeres, não há nada que vá mudar neste preciso instante, não há nenhuma sensação cósmica de nova era que nos vai tirar de toda a confusão e loucura que, muitas vezes, vivemos. A transição de um planeta tão lento como Plutão não é um simples acontecimento, mas um enorme e profundo processo que não começa nem termina num simples dia, nem tal coisa faria qualquer sentido. Recordemo-nos que Plutão já teve um primeiro ingresso em Aquário em Março de 2023 e outro em Janeiro de 2024 e, por isso, já deu um sinal do trabalho que irá fazer nestes próximos 20 anos.
Plutão age nas sombras, mas trabalha na Luz. O seu percurso é de profunda transformação, pois ele é o grande alquimista do sistema Astrológico, ainda que não seja o único. Quando ele atravessa um Signo, ele oferece-nos um trabalho profundo de revelação, transformação e sublimação dos seus temas, na consciência que temos naquele momento. Para a humanidade como um todo, são activados processos cruciais para a sua evolução que dependem sempre das nossas escolhas colectivas face ao desafio que nos é colocado. Para cada um de nós, dependerá sempre do que estes vários pontos e factores significam para nós, que áreas de vida eles activam e qual o seu propósito, algo que poderemos compreender melhor numa Consulta de Astrologia.
Capricórnio, Aquário e Peixes são os três últimos Signos do Zodíaco, os que fecham o ciclo astrológico e nos pedem um caminho pela aridez do tempo da morte que leva ao renascimento, ao verdadeiro ressuscitar da vida. Aquário é um signo de Ar, regido por Saturno e Úrano, um ponto de sustentação, até por ser um signo fixo e, como tal, um pilar energético, que nos projecta duma construção feita que atingiu o seu máximo (simbolizado por Capricórnio) para uma nova Vida (simbolizada por Carneiro). Entre um lado e o outro há uma tarefa árdua, a de segurar as estruturas que são válidas para a reconstrução, enquanto destruímos e diluímos tudo o que já não faz falta.
Quando Plutão transita em Aquário, ele impele-nos a deixar para trás, a permitir ruir todas as estruturas que um dia serviram, mas que agora não nos podem mais segurar nem conter, sob o risco de sob elas ficarmos soterrados. Isto leva-nos a um desafio, o de largar seguranças e estruturas, abrindo o nosso espírito à ideia do que é novo, do que nos vai levar para o futuro, para um novo ciclo. Plutão não quer saber de segurança ou conforto, não é esse o seu propósito, ele é o senhor do Submundo, onde a matéria se transforma, se destrói e reconstrói, se transmuta e se eleva, onde as almas são julgadas e os corações pesados, e é apenas isso que interessa agora.
Se quisermos ser práticos e objectivos, não há dúvidas que Plutão vai-nos oferecer, na sua passagem por Aquário, a possibilidade de contactar com um conjunto de coisas que têm estado apenas a ser imaginadas e desenvolvidas. O Ar de Aquário é o da conceptualização e, por isso, novas ideias ganham força e estrutura neste signo, tornando-se possíveis de serem integradas e manifestadas. Aquário leva-nos ao futuro, mas ancora-nos no passado e é este processo, levado ao extremo por Plutão, que pode ser muito desafiador e até perigoso nos próximos tempos.
Não tenhamos dúvidas que veremos muitos avanços tecnológicos nos próximos anos, surgindo a uma velocidade vertiginosa, moldando a nossa realidade a cada momento. Novos meios de comunicação, de trabalho, novas realidades em várias áreas do saber e da nossa vida prática. Tudo isto parece idílico e maravilhoso, mas tudo irá depender do nosso ponto de partida, da infraestrutura em que o iremos desenvolver. Afinal, Aquário é também o signo onde aprendemos a ser verdadeiramente Humanos, a ir para além do poder absoluto de Capricórnio. Todo o poder implica uma responsabilidade e, em Aquário, o poder é devolvido, com pompa e circunstância, às mãos daqueles que compõem o tecido social da sua época.
Recordemo-nos que, na última vez que Plutão passou por Aquário, trouxe as revoluções sociais, americana e francesa, entre outras, e o início da base dos sistemas políticos vigentes. O povo, independentemente do que isso era na altura, é chamado a fazer parte do poder, deixando para trás monarquias absolutas e poder seculares. Ao mesmo tempo, grandes desenvolvimentos tecnológicos começavam a modificar os meios de produção e a sociedade. É curioso também perceber que, antes disso, quando Plutão passou por Aquário em meados do século XVI, existem diversos movimentos reformistas face ao poder que estava instituído até à altura, provindo da idade média, e totalmente corrompido da Igreja Católica, dando força ao movimento protestante que se tinha iniciado no início do século e modificando as estruturas vigentes, dando poder aos reis e retirando-o do Papa.
Hoje, vemos uma sociedade que está também em profunda transformação, com problemas graves que se evidenciam em cada instante e que foram trazidos em força com a passagem de Plutão por Capricórnio. Agora é o tempo da reforma, da transformação profunda e da revolução, mas como em qualquer momento desta natureza, há uma luta, um conflito entre uma estrutura que não quer ceder e algo novo que quer ganhar o seu lugar. Por isso vemos tantos problemas, tantas coisas que mexem connosco e que nos deixam desanimados e desiludidos. No entanto, e por muito que nos seja difícil de ver, há um propósito maior em todas as coisas, e nesta não é excepção.
Olhemos este tempo pelo que é, um tempo importante, crucial e fulcral, desafiador e transformador, que nos está a pedir que retornemos à consciência da condição humana, do que é ser humano e dos valores da Humanidade.
É preciso também compreendermos que existem duas grandes diferenças desses tempos anteriores para este que estamos a viver. A primeira é muito simbólica e tem a ver com o simples facto de que Plutão só foi descoberto em 1930 e, por isso, esta é a primeira vez que vivemos este movimento com a consciência astrológica e energética do seu trabalho. Por isso, acredito, este momento tem um lado mais subtil na sua essência, mas ao mesmo tempo uma força ainda maior. A segunda é concreta e tem a ver com o sistema social e humano vigente. Maior parte dos sistemas mundiais estão fundados no poder popular e temos hoje acesso a muito mais informação do que alguma vez tivemos.
Isto parece algo positivo, mas comporta duas questões. Por um lado, nos países onde o poder popular é apenas aparente ou uma miragem, muitas vezes, sem que nos apercebamos, há focos de resistência e frustrações que podem, em algum momento, gerar conflitos, enquanto que nos países onde isso verdadeiramente acontece, há também uma consciência, cada dia maior, dessas realidade. Por outro lado, efectivamente temos muito mais informação, mas não a sabemos interpretar, integrar nem torná-la útil. O avanço tecnológico, nomeadamente o ligado à informação, foi demasiado rápido e não o soubemos integrar devidamente. Por isso, somos facilmente manipuláveis e esta realidade torna-se mais divisiva do que potenciadora de algo.
Aquário é um Signo de extremos, de individualidade e de unicidade, potenciador da diferença que tem como grande fundamento o avanço e a evolução. No entanto, como referi no início, Plutão age nas sombras, o que significa que quando ele atravessa um Signo ele propõe-nos um trabalho sobre o lado mais escuro dessa energia, levando-nos a um passeio pelo inferno desta mesma energia e vibração. Se este é um tempo de grandes avanços, também nele reside um potencial de distopias, de conflitos e de amplificação de diferenças, o que pode ser tão arrebatador que nos leva a um profundo renascimento, como pode ser destrutivo, levando-nos, na mesma, a uma profunda refundação.
Plutão, ao entrar em Aquário, abre um caminho importante e que moldará toda a nossa realidade, não por este movimento em concreto, mas por ser o primeiro de um conjunto de movimento fundamentais e cruciais que nos irão transformar nos próximos tempos. Nenhum planeta, isoladamente, é responsável por grandes processos. Na verdade, não são os planetas os grandes responsáveis, mas sim todos nós, e não há algo mais aquariano do que essa percepção, e é essa enorme consciência que nos está a ser evidenciada. No entanto, também é verdade que os próximos dois anos nos irão trazer outras três grandes transições energéticas – Saturno e Neptuno, de Peixes para Carneiro, e Úrano, de Touro para Gémeos –, trazendo-nos, assim, uma vibração profunda de renascimento, de novo caminho, de algo que novo que ainda não temos capacidade de ver e compreender.
Este é um tempo de suprema importância, de grandes transformações, mas é preciso termos os pés assentes na Terra e não entrarmos na fuga mental que, muitas vezes, Aquário contém em si. Não olhemos este tempo como o início da resolução de algo, como a entrada definitiva na Era de Aquário ou outra coisa qualquer que funcione como bypass espiritual. Olhemos este tempo pelo que é, um tempo importante, crucial e fulcral, desafiador e transformador, que nos está a pedir que retornemos à consciência da condição humana, do que é ser humano e dos valores da Humanidade.
Olhemos este tempo pela consciência profunda do nosso lugar em tudo isto, pela compreensão de que não podemos continuar a assobiar para o lado para problemas que não são nossos, mas que isso não significa que tenhamos de viver tudo como se fosse nosso. Se cada um de nós fizer a sua parte, se cada um de nós conhecer-se melhor, olhar para si, cuidar de si e trabalhar no caminho da sua individuação, tudo à nossa volta se vai transformando. Não podemos esperar por um tempo em que tudo muda e se torna perfeito, pois tal não vai acontecer, como também não podemos ficar presos a um futuro que idealizámos face às nossas crenças e valores, pois tal também nunca será realidade. Precisamos de aprender a estar no momento presente, plantando as sementes que um dia serão fruto, construindo cada passo ancorado no caminho já feito e vislumbrando o futuro com um olhar de Esperança.